quinta-feira, 1 de março de 2018

SÃO FLORES NO ASFALTO


Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

            De fronte para praia de São Miguel da Boa Vista a poetisa olha com esplendor o mar como se fosse a última vez que a apreciava ou como se fosse pela primeira. De uns dois anos passados para até aquele momento as coisas mudaram por completo na vida dela. A bem da verdade, tudo mudou de forma radical na vida da jovem artista. Um renascer depois de anos de sobrevida na pequena cidade interiorana e praieira. As correntes por fim se quebraram e mil pedaços, depois de há muito enferrujarem.
            E a aquela velha vida limitada de marasmo não cabia mais nela. Um novo livro iniciado e ainda com muitas páginas em brancos e ainda a serem preenchidas em negras linhas. O olhar perdido de Clarisse Cristal para a infinitude do oceano ignora o enorme barulho das ondas quebrando, com fúria na orla na praia e as aves marinhas que gorjeavam estridentemente a poucos metros acima da cabeça efervescente da jovem escritora.
            — Vamos embora amor! Está passando da hora — Antônio tinha colocado a mão no ombro esquerdo da namorada com terno carinho, na vã esperança de traze-la de volta para a realidade em que viviam, pois o tempo urge e rugia bem alto para ambos.
            — Mais um pouco amor, mais um pouquinho e já vamos embora! Pode ir amorzinho! Eu te encontro lá em cima, não demorar. Vai ligando a moto que eu já vou indo.
            O rapaz assim o fez, deixou a jovem namorada sozinha na orla da praia. A moça foi para mais próximo de onde as ondas quebravam, se abaixou e pegou um pouco de graos de areia. Olha para a areia molhada, apertou bem forte e joga a areia de volta para o mar. Era hora de voltar para a realidade e enfrentar o mundo real na realidade liquefeita. Ao cruzar a areia norma da praia, naquele começo da manhã e subir o pequeno elevado e encontrar o namorado Antônio em cima da motocicleta e com os capacetes nas mãos esperando por ela com um sorriso nos lábios. E ela não pensou duas vezes ao ver cena.
            — Toninho, quem vai pilotar a tua lata velha hoje vai ser eu mesmíssima da silva!
Antônio não gostava quando a namorada chama a novíssima motocicleta dele de lata velha. Mas o espanto maior para o jovem músico foi o estranho pedido da namorada.
            — Desde quando tu tens habilitação, para dirigir minha querida Cristal?
            — Desde da semana passada, tirei carteira de moto e carro, já deixo de ser a sua escrava meu querido!
De fato Antônia era o motorista oficial do jovem casal. Quando o jovem, branco e classe média alta apareceu na luz do dia com a namorada negra e pobre foi um choque para ambas as alas da cidade. A ala rica, branca e teuta e para a ala pobre e negra, não isso já não tenha acontecido antes. Jovens rebeldes faziam isso vez ou outra para chocar a sociedade, mas eram breves ficadas, pequenos flertes que não sobreviviam mais um dia ou dois. Mas aquele encontro de jovens almas, livres e leves mais que romperam a barreira dos dois dias, desfilavam nas ruas da cidade como um casal maduro e integrado.
            — Não me olhe assim meu vampirão lindo, me dá logo a chave da lata velha e vamos correr as estradas, tenho fome de vida, temos muito o que fazer antes que dia termine!
            O jovem Toninho não teve alternativa, senão jogar a chave do veículo para a hialina Clarisse Cristal. Ele sai da motocicleta para dar espaço para ela. Dali foram os dois ganharem as estrada para ver as provas do livro Flores no asfalto o mais novo Clarisse Cristal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário