Recém voltei de
viagem a países como o Equador e a Colômbia, e fiquei espantada em como o nosso
futebol é famoso por lá. As pessoas perguntam de onde somos, e quando sabem que
somos brasileiros, na maioria das vezes vem a exclamação:
- Oh! Do
Brasil? Es el mejor fútbol del mundo!
Custei um pouco
a entender que aquela palavra pronunciada com apenas duas sílabas significava
futebol, mas entendi bem depressa a admiração que os povos daqueles países
irmãos têm pelo nosso esporte maior.
Quando estive
na Europa, descobri que Pelé, sem dúvida nenhuma, era o nosso grande embaixador
lá fora, conhecido por oito entre dez europeus, mas sua figura popularíssima é
mais a de um grande desportista, e não exatamente o símbolo do futebol
brasileiro. Nosso Rei tem incontestável majestade no Velho Continente, mas
isto não significa que o europeu fique babando em cima do nosso futebol e
dizendo que é o melhor do mundo.
Já a coisa muda
muito, aqui no Noroeste da América do Sul. Nossos irmãos americanos são todos
loucos por futebol, e têm uma grande curtição a respeito do futebol brasileiro.
Não encontrei nenhum que dissesse que torcia pela Argentina - vi foi um colombiano jovem, que dizia e repetia que torcia pelo Brasil em
qualquer circunstância, mesmo quando o Brasil jogava com a Colômbia. O irmão
dele, que estava junto, não se conformava com aquilo e chegou a lhe dar uns
pescoções, mas o rapaz continuava repetindo que até contra a Colômbia torcia,
a favor do nosso futebol.
Eles têm uma curiosidade muito grande a respeito de tudo que se
relaciona com o nosso esporte do coração, e sabem coisas que não se sabe na
Europa, como os nomes dos nossos jogadores, por exemplo: falaram em Pelé, mas
também em Zico, em Marcelinho Carioca, em Túlio, em outros -
estão ligadíssimos no que acontece no Brasil.
Em animado papo
na praia de Taganga, no Caribe Colombiano, um homem me perguntou:
- É verdade que, quando o Brasil perde, vocês
choram?
Se choramos?
Contei-lhe como choramos, de tristeza nas derrotas, de alegria nas vitórias,
choro para todos os lados quando se trata da nossa Seleção Brasileira. O
colombiano ficou me olhando e refletindo - vi que acreditava, mas que não conseguia
entender. Aquilo era demais para ser compreendido por quem não é brasileiro!
E continuamos
nossa viagem, sempre a ouvir entusiasmados elogios ao nosso fútbol,
elogios que a gente via serem espontâneos, nascidos da alegria que os nossos
jogadores têm distribuído pelo mundo inteiro, com a sua leveza, a sua técnica
e a sua criatividade.
Grande
embaixador, o nosso futebol! Nossos irmãos do terceiro mundo não nos perguntam
sobre as crianças abandonadas, sobre a destruição da Amazônia, sobre nossos 32
milhões de miseráveis - eles têm problemas parecidos com os
nossos, sendo que a Colômbia, de quebra, tem diversas guerrilhas que lutam
contra o capitalismo e forças paramilitares que assassinam em nome do
capitalismo. Nossos irmãos do terceiro mundo estão sequiosos de alegria, e
pude ver bem de perto o quanto curtem a alegria linda do futebol brasileiro.
Nossa América Latina, com todos os seus problemas, está intensamente viva,
grávida de sonhos, e tem muito, mas muito mais vida que o primeiro mundo. Há os
problemas, é claro, mas algum dia eles serão resolvidos. Nosso mundo dito latino-americano
não se permite viver triste esta única vida que tem, ficar parado na angústia
dos problemas: é necessário ser feliz aqui e agora. E então, quando conhecem um
brasileiro, nossos vizinhos sentem-no irmão porque o Brasil tem um grande
futebol. E sorriem seus mais lindos sorrisos quando falam de Zico, ou de Dunga,
pequenos deuses da sua mais límpida alegria, gente que não é estranha apesar de
usar outra língua, pequenos deuses que guardam no coração como coisas
preciosas!
E então, depois
do entusiasmo do futebol, eles acabam perguntando:
- E o Rio de Janeiro? E o Carnaval?
Mas, sem
dúvida, o futebol vem em primeiro lugar nos seus corações!
Blumenau, 20 de outubro de 1996.
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