terça-feira, 1 de outubro de 2024

POESIA PARA ZÉLIA

Por Iolanda Botelho Borba (Pelotas, RS)


A Biblioteca Pública Municipal de Arroio Grande está completando cinquenta anos ,um marco importante, um sinal de crescimento e amadurecimento para a cidade, um reflexo do poder transformador da Educação e da Cultura. Uma biblioteca bem organizada, repleta de livros de qualidade, é um farol de conhecimento, capaz de iluminar as mentes e corações de quem nela busca refúgio. Para muitos, o livro é um verdadeiro Porto Seguro, um antídoto contra as angústias e a solidão.

Ao retornar à minha cidade natal, senti um impulso nostálgico e resolvi visitar alguns velhos amigos. Sentei-me no banco da Praça Getúlio Vargas. O dia estava ensolarado, e as árvores dançavam ao som do vento minuano, criando uma melodia suave que preenchia o vazio e o silêncio do pampa. Sentindo as reminiscências da alma, meus pensamentos vaguearam até alguns poetas que marcaram minha vida.

Lembrei-me do Poeta dos Escravos, que morreu aos 24 anos, mas deixou um legado imortal com o poema "Navio Negreiro". Seus versos ecoavam em minha mente:

"Nunca tive os olhos tão claros, e o sorriso com tanta loucura. Sinto-me toda igual às árvores solitárias, perfeita e pura."

As palavras dele me faziam companhia naquele momento, como se ele próprio estivesse ao meu lado, compartilhando suas reflexões sobre a vida e a solidão:

"Que minha solidão me sirva de companhia. Não sei se a vida é curta ou longa demais, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas."

Os pensamentos sobre o tempo e o vento, que provocavam um novo renascer na planta, me levaram a ponderar sobre a amizade:

"Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade. Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade de inquietude, que tenham alma exposta."

A lembrança de um conselho antigo veio à tona: "Não faças da tua vida um rascunho – Poderás não ter tempo de passá-la a limpo." E outro, ainda mais sábio: "Cuida do jardim, e as borboletas virão até você."

Em meio a essas reflexões, um verso de amor sussurrou em minha memória: "De tudo ao meu amor serei atento. Quero vivê-lo em cada vão momento."

Naquele instante, percebi que a biblioteca não era apenas um prédio repleto de livros, mas um símbolo de todas as histórias e sentimentos que ela guardava. Era um lugar onde o passado e o presente se encontravam, onde a memória dos poetas e dos escritores vivia em cada página. E, naquele dia ensolarado na Praça Getúlio Vargas, senti que a poesia de Zélia, a minha amiga: Zélia, Lisboa Sobral Soares, estava mais viva do que nunca.

Sobre a autora: Iolanda Botelho Borba é natura de Arroio Grande, RS, e radicada em Pelotas, RS. atualmente aposentada, foi professora primária em Arroio Grande, RS, e em Pelotas, RS. Cursou Magistério e é formada em Serviço Social pela Universidade Católica de Pelotas .  Possui Pós-Graduação em Serviço Social e Licenciatura Plena de 2º Grau pela Universidade Federal de Pelotas - UFPel. É membro da ALPAS 21 (patronesse Dra. Marilu Duarte, cadeira nº 134), ALAAG (patrono Gilnei Brasil, cadeira nº 23); e Clipe Literário Pelotense.

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