terça-feira, 1 de outubro de 2024

ESPELHOS

 

Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)

Aquilo que chamam “morrer” não é senão
acabar de viver e o que chamam “nascer” é começar
a morrer. E aquilo que chamam “viver” é morrer
vivendo. Não esperamos pela morte: vivemos com
ela perpetuamente.
– Jean Baudrillard –

Ele havia lido em um livro de Mia Couto um diálogo que o impressionou bastante:

            — Pai, a mãe morreu?

            — Quatrocentas vezes.

            — E ela está enterrada onde?

            — Ora, em toda parte. *

            Ficou imaginando como isso seria possível. Quatrocentas partes de sua mãe em quatrocentos lugares diferentes… Isso, além de impossível, era grotesco! Logo desviou seu pensamento para algo que lhe pareceu mais apropriado: se a lei do reencontro estivesse certa, estaria explicada a questão… Mas não acreditava nisso! Sua igreja não permitia, e era isso, para ele, muito mais cômodo, pois evitava mirar os espelhos de sua alma… Porém, nada disso teria importância se uma profunda sensação de se sentir incompleto não persistisse em sua vida, como se os mesmos espelhos, estando a quebrar, lançassem seus cacos a refletir tempos escusos, o que lhe trouxe ainda mais angústia, pois, a partir daquele momento, pôs-se a procurar por ele mesmo…

* Antes de nascer o mundo – Mia Couto.

 

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