sábado, 1 de outubro de 2016

O SUL NEGRO

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

A invisibilidade da população negra e a falta de reconhecimento histórico estão presente em Santa Catarina e em todo Sul do Brasil como território alemão. A imigração alemã não trouxe com sigo só o trabalho rural como também trouxe a mistificação de que no Sul não existe negros. Por volta do século XIX, imigrantes oriundos de diversas partes da Europa vieram para o Brasil, muitos deles para Santa Catarina com a promessa de vida próspera, solo fértil para o plantio, riquezas e felicidades.
Mas isso se sucedeu após o fim da escravidão, marco histórico que aconteceu no dia 13 de maio de 1888, quando a princesa Izabel assinou a Lei Áurea. Entretanto, com o fim da escravidão, os africanos e seus descendentes livres, não tinham trabalho, moradia e nem o que comer. O que acarretou mais sofrimentos aos negros. Negros que apesar de pequeno número no Sul é forte a sua existência. Como muitos espalhados pelo solo brasileiro, vieram forçados dentro de navios negreiros obrigados a deixarem para trás suas origens e crenças. Aqui entraram na jornada dura de trabalho escravo. Não diferente dos imigrantes.
Entre ambos o trabalho surgiu de forma diferente. Sim, os dois grupos vieram para o trabalho, a diferença está no modo em que tudo foi conduzido. Os escravos eram capturados e forçados ao trabalho escravos não recebiam pra isso. Já os imigrantes vieram por sua vontade e recebiam pelo seu trabalho no campo. A imigração acabou preenchendo os espaços na lavoura, os imigrantes acabaram substituindo os escravos. A escravidão teve sinal de enfraquecimento no início do século XIX por causa da política internacional a favor do trabalho livre. Liberdade é direito de todos. Mas até o negro conquistar o seu espaço, levará décadas. Ainda é existente o desprezo e falta do seu reconhecimento. O racismo é uma carga pesada que o negro carrega com sigo.
Apesar da sua grande contribuição na cultura brasileira, o negro vive a dura omissão. A mulher negra sofre duplamente, por ser mulher e negra, pois ainda vivemos numa sociedade machista e racista.
Diante da história o negro é ocultado e a sua infância na cultura muitas vezes negada. Cultura essa originária da África. Uma arte que não só representa como retrata os usos e costumes das tribos africanas. Arte que traz em todas as formas a figura humana, que identifica a preocupação com valores étnicos, morais e religiosos. O papel do negro não é apenas aquilo que todos nós sabemos, negro escravo e sofredor, ou até mesmo, o trabalhador mal remunerado no setor informal. Ele têm uma história forte, construtora do Brasil, na nossa economia. Não podemos esquecer que os índios também fazem parte desse processo, mas isso é um outro assunto.
O papel do negro quanto o do índio é visto com olhos distorcidos. O negro no Sul é quase uma utopia. Certa vez relatei a existência de negros no Sul do Brasil e foi aquele espanto. A ideia de que o Sul é alemão, mascara os negros e vende os estados como novas regiões europeias. Isso se sucede com os poucos relatos de negros, principalmente em Santa Catarina. Em Biguaçu, município próxima a Florianópolis, capital do estado, são poucos os relatos de negros em comparação aos relatos de imigrantes alemãs. Sim, de fato o Sul é mais de alemãs. O estado de Santa Catarina é um bom exemplo. A chegada da imigração alemã teve início com a vinda dos primeiros colonos à região onde é situada a cidade de São Pedro de Alcântara, a primeira colônia alemã. Talvez seja isso que inibiu a presença de negros no nosso estado.
Mas sinto informar existem negros no Sul e o Sul não é uma nova Europa e nem tão menos um novo país. No Rio Grande do Sul, o negro aparece em 1725, com a frota de João Magalhães, vinda por terra, mas oficialmente sua presença é datada por volta de 1735. Em Santa Catarina não há uma data precisa. A ideia de negros no Sul não é bem quita. Os fatos são encobertos. No mundo de hoje, como diz o pensador negro, a realidade é o que a gente quer que ela seja!


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