Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
A invisibilidade da população negra e a falta de
reconhecimento histórico estão presente em Santa Catarina e em todo Sul do
Brasil como território alemão. A imigração alemã não trouxe com sigo só o
trabalho rural como também trouxe a mistificação de que no Sul não existe
negros. Por volta do século XIX, imigrantes oriundos de diversas partes da
Europa vieram para o Brasil, muitos deles para Santa Catarina com a promessa de
vida próspera, solo fértil para o plantio, riquezas e felicidades.
Mas isso se sucedeu após o fim da escravidão, marco
histórico que aconteceu no dia 13 de maio de 1888, quando a princesa Izabel
assinou a Lei Áurea. Entretanto, com o fim da escravidão, os africanos e seus
descendentes livres, não tinham trabalho, moradia e nem o que comer. O que
acarretou mais sofrimentos aos negros. Negros que apesar de pequeno número no
Sul é forte a sua existência. Como muitos espalhados pelo solo brasileiro,
vieram forçados dentro de navios negreiros obrigados a deixarem para trás suas
origens e crenças. Aqui entraram na jornada dura de trabalho escravo. Não
diferente dos imigrantes.
Entre ambos o trabalho surgiu de forma diferente. Sim, os
dois grupos vieram para o trabalho, a diferença está no modo em que tudo foi
conduzido. Os escravos eram capturados e forçados ao trabalho escravos não
recebiam pra isso. Já os imigrantes vieram por sua vontade e recebiam pelo seu
trabalho no campo. A imigração acabou preenchendo os espaços na lavoura, os
imigrantes acabaram substituindo os escravos. A escravidão teve sinal de
enfraquecimento no início do século XIX por causa da política internacional a
favor do trabalho livre. Liberdade é direito de todos. Mas até o negro
conquistar o seu espaço, levará décadas. Ainda é existente o desprezo e falta
do seu reconhecimento. O racismo é uma carga pesada que o negro carrega com
sigo.
Apesar da sua grande contribuição na cultura brasileira, o
negro vive a dura omissão. A mulher negra sofre duplamente, por ser mulher e
negra, pois ainda vivemos numa sociedade machista e racista.
Diante da história o negro é ocultado e a sua infância na
cultura muitas vezes negada. Cultura essa originária da África. Uma arte que
não só representa como retrata os usos e costumes das tribos africanas. Arte
que traz em todas as formas a figura humana, que identifica a preocupação com
valores étnicos, morais e religiosos. O papel do negro não é apenas aquilo que
todos nós sabemos, negro escravo e sofredor, ou até mesmo, o trabalhador mal
remunerado no setor informal. Ele têm uma história forte, construtora do
Brasil, na nossa economia. Não podemos esquecer que os índios também fazem
parte desse processo, mas isso é um outro assunto.
O papel do negro quanto o do índio é visto com olhos
distorcidos. O negro no Sul é quase uma utopia. Certa vez relatei a existência
de negros no Sul do Brasil e foi aquele espanto. A ideia de que o Sul é alemão,
mascara os negros e vende os estados como novas regiões europeias. Isso se
sucede com os poucos relatos de negros, principalmente em Santa Catarina. Em
Biguaçu, município próxima a Florianópolis, capital do estado, são poucos os
relatos de negros em comparação aos relatos de imigrantes alemãs. Sim, de fato
o Sul é mais de alemãs. O estado de Santa Catarina é um bom exemplo. A chegada
da imigração alemã teve início com a vinda dos primeiros colonos à região onde
é situada a cidade de São Pedro de Alcântara, a primeira colônia alemã. Talvez
seja isso que inibiu a presença de negros no nosso estado.
Mas sinto informar existem negros no Sul e o Sul não é uma
nova Europa e nem tão menos um novo país. No Rio Grande do Sul, o negro aparece
em 1725, com a frota de João Magalhães, vinda por terra, mas oficialmente sua
presença é datada por volta de 1735. Em Santa Catarina não há uma data precisa.
A ideia de negros no Sul não é bem quita. Os fatos são encobertos. No mundo de
hoje, como diz o pensador negro, a realidade é o que a gente quer que ela seja!
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