sábado, 1 de outubro de 2016

A ÁRVORE DO CEMITÉRIO

Por Ayrton Pinto Tavares (Muriaé,MG)

Tu que te ergues imponente e altaneira,
Que enfeita a vida de uma cidade inteira,
Que trazes, em tua beleza e flores, a felicidade.
Enfeitas, também, com teu orgulho,
A fria morte da mesma cidade

Ergue teus braços ao céu como em uma prece,
Como em uma súplica a Deus por quem perece,
Velas de longe a vida dia a dia.
Velas de perto a morte que arrepia

Retiras da morte a seiva da vida
Como em paga a teu serviço.
Devolves a sombra com o frescor das tuas folhas
Com teu viço.

Fazes da morte guardiã da vida tua
Beijas o sol, o céu, beijas a lua.
Nas frias noites, do orvalho faz teu vinho
E aqueces o pássaro que em teu galho faz seu ninho

Tão solitária estás em teu jazigo,
Com tua sombra, a quantos já destes abrigo?
Nem te percebem apesar da imponência,
De tua beleza e tua graça ser tão fina.
Que culpa tens, se a vida como em trapaça,
Fez-te nascer no cemitério como sina.

Tu és um marco de contraste da existência,
De antagonismos tu te nutres em tua cidade,
És paradoxo por si em tua essência,
Velando a vida, a morte, a eternidade

Não te apoquentes, continues altaneira,
Ninguém consegue passar por ti despercebido,
Sempre te flertam de soslaio, de esgueio
Como se fosses um gigante adormecido

Segue teu curso, continua teu trabalho,
Por nós espera,não te canses nem apresses nossa ida.
Um dia velaras a nossa morte,
Mas por enquanto. Pede a Deus por nossa vida.


(Muriaé,MG, 20 de outubro de 1994)

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