Por Cláudio de Leão Lemieszek (Bagé, RS)
O calendário da história registrou em 3 de outubro 2010 a comemoração do 80º aniversário da Revolução de 1930. Movimento nacional liderado pelos gaúchos que sepultou de vez a chamada Primeira República, quando a hegemonia da política brasileira estava nas mãos de paulistas e mineiros que se alternavam no poder através da denominada política “café com leite”.
Na época, a revolução representou não só a revitalização política e eleitoral do país com a multiplicidade partidária, o banimento do voto à cabresto, com a instituição do voto secreto e do voto feminino, entre outras conquistas, como também, muito especialmente, determinou o início de uma nova fase modernista e desenvolvimentista da sociedade e dos meios de produção do país.
A conspiração que se iniciou precisamente em 5 de agosto de 1929 com o discurso de João Neves da Fontoura na Câmara Federal, quando os aliancistas romperam com o poder central sob o comando do presidente Washington Luis, só transformou-se em luta armada no ano seguinte, exatamente a partir das 17 horas do dia 3 de outubro.
A evolução dos acontecimentos teve desfecho rápido. Em menos de quatro semanas Getúlio Vargas já estava instalado no Catete a um custo insignificante de baixas.
Não é nosso propósito neste rápido bosquejo histórico analisar as causas políticas e econômicas do movimento, e muito menos descrever a campanha militar. Pretende-se tão somente traçar um breve panorama dos principais acontecimentos ocorridos em Bagé.
O espírito revolucionário contagiou entusiasticamente os bajeenses, e tão logo estourou o golpe, iniciou-se uma mobilização geral de civis e militares apresentando-se aos líderes para rumar em direção ao palco dos acontecimentos. Não escapou ninguém, até adolescentes, burlando a vigilância dos pais, acabaram engajados.
As mulheres tiveram papel relevantíssimo. Sob a liderança de dona Francisca Torrescassana, logo ganharam as ruas batendo nas portas comerciais e angariando fundos para auxiliar os soldados que partiram em direção ao centro do país. Com rapidez invejável reestruturaram a Cruz Vermelha e também partiram, só não alcançando seu destino por terem sido colhidas pela paz ainda em caminho.
Bagé começou a conspirar em julho de 1930, quando em certa noite reunidos na casa do deputado Thomas Collares, estavam presentes, além do anfitrião, Luiz Mércio Teixeira, Heitor Mércio e Arnaldo Farias que na ocasião foram investidos na condição de delegados revolucionários de Bagé, pelo emissário de Oswaldo Aranha, capitão Cacildo Krebs, que na oportunidade entregou a código telegráfico que abria os canais de comunicação com os cabeças do golpe em Porto Alegre.
Frustrada a eclosão do movimento na primeira data aprazada, dia 7 de setembro, tudo funcionou a contento no dia 3 de outubro. Conforme previamente combinado entre os revoltosos em todo o território nacional, os respectivos chefes receberam a ordem de comando com antecedência de 48 horas. Assim é que no dia 01 de outubro a junta revolucionária de Bagé recebeu o aviso para preparar a insurreição. De imediato contataram o Intendente, Cel. Juvêncio Lemos e deram início às providências necessárias.
De pronto partiram emissários para o interior do município para convocar os subintendentes a estarem com suas forças na tarde do dia três posicionados nos subúrbios da cidade para cercar os quartéis.
Junto à estação da viação férrea, com a cumplicidade dos seus funcionários, trataram de sabotar as locomotivas de modo a não serem utilizadas pelos inimigos. Prepararam a estação de São Domingos para receber e transmitir recados telegráficos e organizaram grupos que deveriam tomar, neutralizar e proteger o Banco do Brasil e demais repartições federais aqui sediadas.
Ainda na mesma noite do dia 3, Juvêncio Lemos recebeu telegrama de Getúlio Vargas dando conta de que Porto Alegre havia caído em poder dos revoltosos e que o país estava convulsionado mas com os revolucionários já à testa de diversas capitais.
De telegrama em punho o intendente foi ao encontro do comandante do exército nacional em Bagé, Cel. Meira de Vasconcellos, parlamentar para que este juntamente com seu estado maior aderisse à revolução.
O coronel Meira com educação recusou o convite alegando o juramento de obediência à constituição e a falta de ordens superiores. No entanto assegurou que se de fato ganhasse a revolução âmbito nacional, não oporia resistência, podendo a população de Bagé “ficar tranqüila, pois sua força não atiraria contra o povo salvo se fosse agredido!”
Na manhã do dia seguinte, 4 de outubro, o tenente Emílio Garrastazú Médici, revolucionário de primeira hora e de papel destacado nas articulações, apresentou-se ao intendente para informar que as forças federais em Bagé, em quase a sua totalidade convertera-se a causa revolucionária. O comandante Vasconcellos, o Ten. Cel. Alexandrino e o Capitão Pedro Costa se, consideraram presos e entregaram-se ao Cel. Juvêncio Lemos. Assumiu provisoriamente o comando do exército o Major Otaviano José da Silva.
Na tarde do mesmo dia, selando a adesão do exército, as forças nacionais fizeram um desfile pelas ruas da cidade, sendo vivamente ovacionados pela população. Somente não tomaram parte na passeata as forças civis arregimentadas na campanha do município por terem chegado à cidade, lamentavelmente, uma hora depois de finda a parada.
Estava encerrada a revolução em Bagé sem derramar uma gota de sangue. Conflito que teve o condão de unir em torno de uma mesma causa todas as correntes políticas dos gaúchos, principalmente os libertadores e republicanos, fato até então inédito no solo riograndense.
Sobre o autor: O Prof. Cláudio de Leão Lemieszek é natural de Porto Alegre, RS. Formou-se em Direito na Universidade da Região da Campanha (URCAMP), Bagé, RS, onde leciona a disciplina de Direito das Coisas na Faculdade de Direito. Foi Secretário de Educação e Cultura e Diretor do Arquivo Público Municipal de Bagé. É sócio fundador do Núcleo de Pesquisas Tarcísio Taborda, membro da Academia de Letras dos Municípios do Rio Grande do Sul e do Instituto Chileno/Brasileiro de Cultura de Concepción. Foi Patrono da IIIª Feira do Livro de Bagé e recebeu o título de Cidadão Bageense no ano de 2.000.
Caro Professor. Veja meu Blog http://robertobondarik.blogspot.com e procure nele o texto referente ao Combate de Quatiguá, é sobre a Revolução de 1930 e combates de tropas gauchas no Paraná. Veja os links:
ResponderExcluir1 < http://robertobondarik.blogspot.com/2010/06/efetivacao-da-revolucao-de-1930.html>
2 < http://robertobondarik.blogspot.com/2008/12/revoluo-de-1930-o-paran-e-o-norte.html >
Veja também meu artigo do Congresso da Universidade Estadual de Maringá < http://www.pph.uem.br/cih/anais/trabalhos/630.pdf >