Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
terça-feira, 1 de março de 2016
EM DIAS DE SOL E CALOR, EM NOITES DE TEMPESTADE E FRIO
Por
Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Em
dias de sol e calor
Minha
alma serena
Passeia
livremente
Pela
charneca em flor
Nesses
dias de extrema felicidade
Eu tenho sentimentos bons
Eu
tenho pensamentos probos
Eu
sou feliz
***
Minha
alma leve
Navega
serenamente
Pelo
mar da tranquilidade
A
brisa matinal oceânica
Faina
o meu negro cabelo
E
beija o meu rosto hialino
Eu
vivo feliz
***
Em
dias de sol e calor
Minha
jovem alma aventureira
Não
conhece mais limites
Percorre
o mundo livremente
Encontra
e abraça a vida
Aceita o convite dela
Para
um eviterno bailar
***
Em
noites de tempestade
E
de muito frio
Minha
negra e cansada alma
Voa
perdidamente
Pela
negra noite sem fim
***
Em
noites de tempestade e frio
Vagueio
solitária e languidamente
Pelo
mítico vergal em dor
Choro
e sofro
Todas
as dores do mundo
Pelo
amor que se foi
Por
tudo que não veio
E
por tudo que nunca virá
***
Em
noites
De
ventos intempestivos e glaciais
Minha
alma diáfana
Percorre
o deserto sem vida
Dentro de mim
***
Na
alvorada
No
dilúculo de um novo dia
A
minha crença
De
tê-lo ao meu lado
Esvaece
por fim
***
Na
aurora de um novo dia
Vivo
sem esperanças alguma
De
viver dias melhores
LÓTUS NEGRA (TODA A ARTE RESUMIDA)
Por
Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Há
um grande deserto,
Dentro
de mim!
Há
um enorme vazio...
Impressionista!
Dentro de mim...
Há
um deserto liquefeito!
Pós-modernista...
Vagando
dentro de mim.
***
Reúno!
Todos
os poemas possíveis.
Que
tenho dentro de mim!
Toda
arte abstrata...
Que
há em mim!
***
Há
uma grande verdade abstrata.
Que
ninguém vê...
Exilada
em mim...
***
Reuni...
Todas
as poesias impressionistas...
Possíveis!
Imagináveis!
Existentes
dentro de mim!
Arte
liquefeita distribuída, compartilhada...
Curtida
e comentada!
Amada
e odiada
No
deserto do real
No
mundo virtual
***
Reuni
o que há de melhor!
Em
mim...
Existe
uma infinitude desértica!
Sintética...
Pós-moderna
em mim...
***
Existe
uma grande saudade!
Dentro
de mim.
Daquilo
que nunca vi...
Do
que nunca vivi!
MUSA IDEAL (NEBULOSA GALÁXIA)
Por Samuel da Costa
(ALB, Anápolis, GO)
(Para Vanessa Martins da Maia)
És
nebulosa galáxia
Infinda
Detentora
de imortais mistérios
Tens
incontáveis segredos
Mais
que secretos
Que
guardas dentro de ti
Habitas
O
mais quimérico e hialino
Estro
meu
***
Em
horas extremas
És
oceano revolto
Mar
intempestivo
Globosfera
incircunavegável
Território
em chamas
Imponderável
Terra
vulcânica
Intransponível
***
No
continente vasto
Possuis
milenares desejos
Tens
o doce aroma
Do
cravo e do mel
Povoas
Os
pensamentos
Mais
obscuros meus
AUÊ (A DANÇA DO TORE)
Por
Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
(Para Ana Paula Kalantã Bezerra de Deus)
Escuto
as vozes
Das
florestas
Sou
eu que canto e danço
O
Auê
Sou eu a clamar
Para
os deuses deusas
Da
minha ancestralidade
Por
harmonia e paz
Para
toda a humanidade
***
Caramuru-Paraguaçu
Pataxó Hã-Hã-Hãe
Caraíva
***
É
o meu povo e a minha luta
Minha
língua
E
a minha terra
***
Cadê
as terras dos índios?
Senhor
bandeirante!
Cadê?
Onde
foram parar?
O
ouro?
A
prata?
***
Tenho
o Deus Tupã
Como
testemunha
Sou
Pataxó Hã-Hã-Hãe
Volto
para a terra
Outrora
roubada
QUANTOS MISTÉRIOS CABEM NO NEGRO OLHAR TEU
Por
Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Quantos
mistérios
Cabem
no magnânimo
Negro olhar teu?
O
que escondes quando
A
noite cai
E
todos foram para o leito
Dormir tranquilamente?
***
Já
amanheceu um novo dia
É hora de despertar
E
ganha às ruas
De
experimentar a luz do sol
Minha querida
***
Mas
quantos mistérios
Podem
caber
No
negro olhar teu?
Por
quantos tortuosos caminhos
Percorresses
meu bem
Até
chegar aqui?
***
Quantos
mistérios
Podem
caber no magnífico
Negro olhar teu?
EM MIL PEDAÇOS
Por
Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Foram-se
E
não voltam mais
Aqueles
dias felizes
E de um céu sem nuvens
Que
na distância
Via-te
Todos
os dias
E venerava-te por inteiro
***
Não...
Não
habitas mais
No
estro meu
No
altar que construiu
Somente
para ti
Minha
divina Luna
Na
verdade ele quebrou-se
Em
nanos pedaços
E
se perdeu
Para
além do infinito
***
Agora
pobre de mim
A
vagar sem destino algum
Do
nada
Para
lugar algum
No
deserto do real
Do
cotidiano
***
Não...
Não
voltam mais
Aqueles
dias dourados
De
felicidade
E
de amor equidistante
Onde
eras tudo
Na
minha vida vazia
ESPERAS
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Às vezes a espera é uma tortura o
tempo passa e as coisas parecem devagar. Mas quando acontece algo maravilhoso
você quer que passe devagar mesmo para aproveitar cada momento.
E lá se vai o tempo... O amor entra
e mexe com tudo. Troca às coisas do lugar e o que estava em primeiro fica em
segundo plano. E a gente tente se convencer: Tudo bem!
Mas não está tudo bem, metade de
você quer fazer parte do outro. Aquele que chega e pede licença para ficar em
sua vida. E claro você não resiste. Pois mais do que tudo, você sempre quis
amor e ele o tem para lhe dar. O coração parece um adolescente, mas você já tem
35 anos de idade. O medo de sofrer lhe faz ficar confuso e mesmo assim você
quer seguir adiante. E é isso que você não entende.
A razão se cala e os seus pés não
sabem pra que direção ir. E tudo que o coração faz é amar e amar.
Você espera... Espera... São tantas
esperas que tem medo de só ficar esperando e nada lhe acontecer. E aí, tudo
bem? Não. Você quer uma resposta e não mais esperar.
SOBRE A LUZ DO SOL
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
O sol
Que reflete no mar
Quando a tarde cai
É o mesmo sol
Que hoje queima
Meus ais.
E sobre sua luz
Conduz-me em um interminável
Desejo de amor.
Perco-me no seu olhar
E sou completamente despida.
Você me abraça
E ali quero ficar;
Fora de mim
Já nem sei quem sou;
Se completamente sua
Ou somente
Um breve momento seu!
A TI PERTENÇO
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Não me olhe assim desse jeito
Eu fico tonto
Há todo momento;
Você pega fogo
E eu fico assim
Meio bobo,
Você sabe bem
Eu fujo de mim.
Nada apaga esse desejo,
Loucura e encanto
Sem ter seu beijo;
E de repente
De mim esqueço
E em você eu penso;
Aí eu me procuro
E nada encontro
Além de ti,
E você sabe bem
Eu fujo de mim;
Bobo, eu fico assim,
Perdidamente querendo sentir
O que você não sabe fingir.
Não me olhe assim desse jeito,
Não me provoque,
Teu corpo me move
E eu as nove
Enlouqueço
E de mim me esqueço;
Sou outra e a ti pertenço!
TO SALT
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú,
SC)
Salted earth
rejecting
life
as known. Intense
passers
repeated
lifes
Ordered
in tasks: we
are earth
salty to
lushness
and to addiction
we receive the sight
of infinity.
(Marina Du
Bois, versão)
SALGAR
Por
Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Salgada
terra
rejeitando
a vida
conhecida. Transeuntes
intensos
em
vidas repetidas.
Ordenados
em
tarefas: somos a terra
salgada
ao viço
e no vício
nos é dada a visão
do infinito.
CATCH SIGHT OF
Por
Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
I
catch the sight of earth
woods
fine
smoke net
far
from the noise
life
multiplies
(I’m in the body,
strained in mismatch. I am
present in myself).
(Marina Du Bois, versão)
AVISTAR
Por Pedro
Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Avisto a terra
a
mata
a tênue rede de fumaça
longe o barulho
multiplica a vida
(estou
dentro do corpo,
tenso no
desencontro. Estou
presente
em mim mesmo).
FIRE
Por Pedro
Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
The fire’s repetition: blaze and flame
to meet the earth.
On the resected grass crakles:
decript lord of fire.
Burns the west horizon
and unfolds in colors: repeat the fire
and melts the earth. Calcinates the body
(Marina Du
Bois, versão)
FOGO
Por Pedro
Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Repetição
do fogo: labareda e chama
ao
encontro da terra.
Sobre a
grama ressecada crepita:
decrépito
senhor do fogo.
Queima o
horizonte poente
e se
desdobra em cores: repete o fogo
e derrete
a terra. Calcina o corpo.
TO FALL
Por Pedro
Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
I take responsability
for the fall: the steps
bent
by the feet
stumbling.
The wind puts the body
in mismatch
(concreted days
in altars)
I fall through the trace’s levity
and invade the Page; I descend
the steps and below
reencount the whole.
(Versão Marina Du Bois)
QUEDAR
Por Pedro
Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Assumo a
responsabilidade
pela
queda: os degraus
dobrados
aos pés
tropeçando.
O vento
colocando o corpo
em
descompasso
(dias concretados
em
altares)
caio na
leveza do traço
e invado a
página; desço
os degraus
e abaixo
reencontro
o todo.
SER DO “CONTRA”
Por
Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)
Ouvi ou li, não me recordo onde, nem
quando, que Aquilino Ribeiro, certa vez asseverou: que era “ Contra tudo e
contra todos”.
Desconheço se o foi; mas há episódios, na
sua vida, que levam a crer que sim.
Todavia, sabemos, que nada: seja doutrina
política ou filosófica; seja Arte ou Literatura, consegue reunir audiência “respeitável”,
se não for: “contra”, anti, “ contra tudo, contra todos”.
Por regra, o intelectual é do “ contra”;
não que haja, muitas vezes, motivos para o ser, mas porque conhece: ser do
“contra”, aumenta a venda de livros, e é eficaz para arrebanhar “fans”.
Também é do “ contra” o operário
oportunista; desse modo, sem esforço, em regra, alça-se na hierarquia sindical
ou na hierarquia da empresa. Certo, que esta, apressasse a entregar-lhe o cargo
pretendido, para emudecê-lo.
Mas ser do “contra” não basta para ter
sucesso na vida: é preciso dar nas vistas; pôr-se em bicos de pés, como vulgarmente
se diz, e principalmente: bradar.
Bradar, fazer barulho, é imprescindível,
para ser famoso.
Com brados, os judeus, conseguiram que o
procurador romano condenasse O inocente, sabendo que O era; e, bradando, xingando, berrando, a ala esquerdista e direitista do parlamento,
consegue fazer-se ouvir e ganhar simpatia.
O humilde, o respeitador, o honesto, que pesa seus atos, pela razão e pela Moral,
dificilmente vai longe…Porque os que labutam nas trevas são mais unidos, mais
camaradas…Já Cristo o dizia.
A conversa conciliadora. A cavaqueira
delicada, que fazia a delicia de muitos, quase desapareceu da nossa
coletividade. Agora, discute-se… Ser do “contra”, discutir, ser polemista, dá
prestigio e até: “ inteligência”.
O povo, que não consegue raciocinar -
grande manada acéfala, que em democracia ordena, - acredita sempre no que ouve:
aos gritos, aos berros, aos brados…; e reconhece sempre autoridade e sapiência,
à voz atrevida, que se eleva.
Mas ser do “contra”, discutir, bradar,
ainda não é suficiente para o medíocre alcançar o desejado Olimpo.
É - lhe necessário: o escândalo.
A mass-media
– que devia viver de notícias e opiniões, – só aumenta a audiência, com o
escândalo.
O ambicioso, o falho de talento, precisa,
é-lhe imprescindível, recorrer ao escândalo, para ser conhecido.
Escandaliza: no modo de trajar, com gestos
e atitudes, fora do vulgar, desnudando-se, e exprimindo conceitos chocantes…que
chocam cada vez menos.
Já poucos se escandalizam, seja com o que
for: se o artista plástico apresenta “bezerro”, a crítica - para não parecer
ignorante, - admira, e o público, repete, para dar ar de entendido. - Diz
Unamuno, em: “Solilóquios y Conversaciones”, que: “ A crítica, costuma ser, de
ordinário, o comentário da moda”… e raros são os que não querem estar com a
moda…
Ser do “contra”, bradar, e escandalizar, é
o meio seguro do “Zé-ninguém” parecer ser “alguém”; ter acesso aos meios de
comunicação e tornar-se conhecido nas Artes, e quantas vezes, até, na ciência!
…
CAMILO NÃO PODE SER BIBLIOTECÁRIO, PORQUE GOSTAVA DE MULHERES...
Por
Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)
Estamos no ano de 1858. João Nogueira
Gandra, falecera a 5 de Dezembro, deixando o lugar vago, no Biblioteca da
cidade do Porto.
Camilo Castelo Branco pensou que seria
ocasião ideal para obter rendimento certo, e habilitou-se ao cargo, de
bibliotecário. Para isso solicitou ao deputado José Barbosa da Silva, seu
amigo, que o recomendasse junto do Governo.
O lugar era cobiçado por muitos, que
tinham a seu favor, diploma, atestando o “saber”, passado por uma Universidade.
Camilo era autodidacta, de vasta cultura.
Frequentara a Escola Médica e o Seminário, mas não concluirá nada. A sua
credencial: era de escritor de indiscutível mérito, romancista de grande
sucesso; de primeira plana, na literatura portuguesa.
Alexandre Herculano, ao saber da pretensão
do escritor, escreve a 19 de Dezembro de 1858, na primeira página, do periódico
lisboeta: “ Jornal do Comércio”: “ (…) Camilo Castelo Branco é um dos
escritores mais fecundos do Pais, e, indiscutivelmente, o primeiro romancista
portugueses.”
E, asseverava, que a melhor escolha da
Câmara portuense e do Governo, seria nomeá-lo para o cargo.
Mas Camilo tinha muitos inimigos. Não era
bacharel, e havia ainda, o escândalo de se ter apaixonado por Ana Plácido –
casada com o capitalista Manuel Pinheiro Alves, – cunhada do filho da celebre
Ferreirinha, viúva de António Bernardo Ferreira.
Inimigos do escritor, quiçá familiares dos
pretendentes, ao cargo, escreveram cartas anónimas ao Presidente do Conselho,
dizendo-lhe: que Camilo era mulherengo incorrigível, e detestado na cidade do
Porto.
Concluindo: a 24 de Fevereiro de 1859, foi
nomeado bibliotecário da Biblioteca do Porto, Eduardo Augusto Allen.
Em 1860, Camilo seria preso por adultério,
visto viver na companhia de Ana Plácido (esposa de Manuel Pinheiro Alves,) com
quem viria a casar, a 9 de Março de 1888, – depois da morte de Pinheiro Alves,
– num prédio da rua de Santa Catarina, no Porto. Actualmente redacção do jornal: “A Ordem”.
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