Por
Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)
No início deste século, por designação do diretor
de “Notícias de Gaia”, entrevistei figuras ilustres da cidade onde vivo.
Certa ocasião visitei poetisa que vivia à
beira-mar, numa casa com sobrado. Recebeu-me com largo sorriso e convidou-me a
acompanhá-la numa chávena de chá e bolo, que acabara de sair do forno.
Decorrido largos meses, retiniu o telefone
- terrim, terrim… - Levantei o auscultador e ouvi voz feminina, informando que
acabara de publicar um livro de poemas e que reservara-me um exemplar, pelo
preço de vinte euros.
Esclareci-a, que apesar de apreciar a sua
poesia, não podia adquirir todos as obras, de todos os escritores e poetas que
entrevistava.
Amuou. Nunca mais a vi.
O exórdio vem a propósito do que ouvi, a
semana passada, pela boca de amigo:
Falecera-lhe o senhor seu pai. Entre os
largos bens que deixou, contavam-se livros que publicara, de colaboração com
conhecida editora.
Repartiram os bens, e em respeito ao pai,
assentaram oferecer as obras que sobraram, por familiares e amigos.
Os parentes, muito agradecidos, recusaram,
porque tinham muitos livros…
Perguntando se não queriam exemplares, já
que estavam novos, para oferecer, responderam (envergonhados,) que: não.
Contactaram, então, amigos e conhecidos.
Esclareceram que já possuíam alguns exemplares das obras, e não conheciam a
quem pudessem interessar.
Senhora, admiradora do autor, que
solicitava a oferta de exemplar, sempre que saíam do prelo, balbuciando,
argumentou:
- “ Como
sabe, tenho alguns livros dele. Já leio pouco e a maioria das minhas amigas,
têm livros só para encher estantes…”
Resumindo:
Todos admiraram o escritor, o intelectual,
enquanto viveu; assim acontece com quase todos os escritores e poetas Se são
importantes e têm nome feito, na hora do funeral, comentam: - que foram amigos
do defunto e contam, curiosas cenas ocorridas com eles - principalmente se está
presente a mass-media.
Se é ilustre desconhecido, muitas vezes,
nem aparecem e depressa o esquecem…
Descendente do autor, chegou a sugerir –
segundo me contou, – que vendessem os livros ao farrapeiro ou os queimassem…
Todavia, quando frequentava a
Universidade, orgulhava-se de ser bisneta do jornalista X. Homem conhecido e
respeitado na sua cidade.
É a vida…
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