Por
Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)
Ouvi ou li, não me recordo onde, nem
quando, que Aquilino Ribeiro, certa vez asseverou: que era “ Contra tudo e
contra todos”.
Desconheço se o foi; mas há episódios, na
sua vida, que levam a crer que sim.
Todavia, sabemos, que nada: seja doutrina
política ou filosófica; seja Arte ou Literatura, consegue reunir audiência “respeitável”,
se não for: “contra”, anti, “ contra tudo, contra todos”.
Por regra, o intelectual é do “ contra”;
não que haja, muitas vezes, motivos para o ser, mas porque conhece: ser do
“contra”, aumenta a venda de livros, e é eficaz para arrebanhar “fans”.
Também é do “ contra” o operário
oportunista; desse modo, sem esforço, em regra, alça-se na hierarquia sindical
ou na hierarquia da empresa. Certo, que esta, apressasse a entregar-lhe o cargo
pretendido, para emudecê-lo.
Mas ser do “contra” não basta para ter
sucesso na vida: é preciso dar nas vistas; pôr-se em bicos de pés, como vulgarmente
se diz, e principalmente: bradar.
Bradar, fazer barulho, é imprescindível,
para ser famoso.
Com brados, os judeus, conseguiram que o
procurador romano condenasse O inocente, sabendo que O era; e, bradando, xingando, berrando, a ala esquerdista e direitista do parlamento,
consegue fazer-se ouvir e ganhar simpatia.
O humilde, o respeitador, o honesto, que pesa seus atos, pela razão e pela Moral,
dificilmente vai longe…Porque os que labutam nas trevas são mais unidos, mais
camaradas…Já Cristo o dizia.
A conversa conciliadora. A cavaqueira
delicada, que fazia a delicia de muitos, quase desapareceu da nossa
coletividade. Agora, discute-se… Ser do “contra”, discutir, ser polemista, dá
prestigio e até: “ inteligência”.
O povo, que não consegue raciocinar -
grande manada acéfala, que em democracia ordena, - acredita sempre no que ouve:
aos gritos, aos berros, aos brados…; e reconhece sempre autoridade e sapiência,
à voz atrevida, que se eleva.
Mas ser do “contra”, discutir, bradar,
ainda não é suficiente para o medíocre alcançar o desejado Olimpo.
É - lhe necessário: o escândalo.
A mass-media
– que devia viver de notícias e opiniões, – só aumenta a audiência, com o
escândalo.
O ambicioso, o falho de talento, precisa,
é-lhe imprescindível, recorrer ao escândalo, para ser conhecido.
Escandaliza: no modo de trajar, com gestos
e atitudes, fora do vulgar, desnudando-se, e exprimindo conceitos chocantes…que
chocam cada vez menos.
Já poucos se escandalizam, seja com o que
for: se o artista plástico apresenta “bezerro”, a crítica - para não parecer
ignorante, - admira, e o público, repete, para dar ar de entendido. - Diz
Unamuno, em: “Solilóquios y Conversaciones”, que: “ A crítica, costuma ser, de
ordinário, o comentário da moda”… e raros são os que não querem estar com a
moda…
Ser do “contra”, bradar, e escandalizar, é
o meio seguro do “Zé-ninguém” parecer ser “alguém”; ter acesso aos meios de
comunicação e tornar-se conhecido nas Artes, e quantas vezes, até, na ciência!
…
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