terça-feira, 1 de novembro de 2016

DOCUMENTADO

Por Napoleão Valadares (Brasília, DF)

            Fui ao lançamento do livro Filhos da Batina, de Nonato Silva. O livro trata dos padres que tiveram filhos no exercício da missão de padre. E ali se vê que figuras importantes da nossa história e homens famosos são filhos ou descendentes de padres.
 Um deles é José de Alencar, filho do padre que tinha o mesmo nome e que, por sua vez, era filho do padre Miguel Carlos da Silva Saldanha. Portanto, o grande romancista era filho e neto de padres. José do Patrocínio, o abolicionista, era filho do padre João Carlos Monteiro. Clóvis Bevilácqua, autor do Projeto do Código Civil, era filho do padre José Bevilácqua. O escritor Rodrigo Otávio Filho era neto do cônego Rodrigo Inácio de Sousa Meneses. Dom Aquino Correia, arcebispo de Cuiabá, presidente do Estado do Mato Grosso e membro da Academia Brasileira de Letras, era neto do padre Joaquim Gonçalves Dias Goulão. Em Paracatu, o padre Joaquim de Melo Franco deixou descendentes ilustres, entre os quais o neto Virgílio de Melo Franco e os bisnetos Afonso Arinos (autor de Pelo Sertão) e Afrânio de Melo Franco. Apenas para citar alguns exemplos, pois o número é muito grande.
Nada tenho contra os padres que tiveram filhos, tampouco contra os filhos de padres. Ao contrário, sou admirador de alguns deles. Mas, conversando com Nonato Silva sobre seu livro, ele me dá outras informações e acaba por me entregar um jornal contendo um documento. O documento é de 1898 e relata que o padre Fernando da Costa, prior de Trancoso, Portugal, teve duzentos e noventa e nove filhos. Esse padre foi condenado à morte, e o rei Dom João II o perdoou, por achar que ele tinha que ficar vivo para criar os filhos.
            Não se espantem com o número de filhos nem com a sentença de morte nem com o perdão concedido ao padre português. Vai aqui mais um detalhe: ele teve duas filhas com a própria mãe.
O rei mandou pôr o prior de Trancoso em liberdade a 17 de março de 1491 e mandou também guardar o processo na Torre do Tombo, onde se encontra no armário 5, maço 7. O documento, extraído desse processo, é de 25 de março de 1898 e foi reproduzido no jornal “Horizontes Novos”, Ano XIX, Nº 184.

Sobre ao autor: Napoleão Valadares é escritor, membro da Academia Brasiliense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.


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