Por Napoleão
Valadares (Brasília, DF)
Fui
ao lançamento do livro Filhos da Batina, de Nonato Silva. O livro trata dos
padres que tiveram filhos no exercício da missão de padre. E ali se vê que
figuras importantes da nossa história e homens famosos são filhos ou
descendentes de padres.
Um deles é José de Alencar, filho do padre que
tinha o mesmo nome e que, por sua vez, era filho do padre Miguel Carlos da
Silva Saldanha. Portanto, o grande romancista era filho e neto de padres. José
do Patrocínio, o abolicionista, era filho do padre João Carlos Monteiro. Clóvis
Bevilácqua, autor do Projeto do Código Civil, era filho do padre José
Bevilácqua. O escritor Rodrigo Otávio Filho era neto do cônego Rodrigo Inácio
de Sousa Meneses. Dom Aquino Correia, arcebispo de Cuiabá, presidente do Estado
do Mato Grosso e membro da Academia Brasileira de Letras, era neto do padre
Joaquim Gonçalves Dias Goulão. Em Paracatu, o padre Joaquim de Melo Franco
deixou descendentes ilustres, entre os quais o neto Virgílio de Melo Franco e
os bisnetos Afonso Arinos (autor de Pelo Sertão) e Afrânio de Melo Franco.
Apenas para citar alguns exemplos, pois o número é muito grande.
Nada tenho contra os padres que tiveram
filhos, tampouco contra os filhos de padres. Ao contrário, sou admirador de
alguns deles. Mas, conversando com Nonato Silva sobre seu livro, ele me dá
outras informações e acaba por me entregar um jornal contendo um documento. O
documento é de 1898 e relata que o padre Fernando da Costa, prior de Trancoso,
Portugal, teve duzentos e noventa e nove filhos. Esse padre foi condenado à
morte, e o rei Dom João II o perdoou, por achar que ele tinha que ficar vivo
para criar os filhos.
Não
se espantem com o número de filhos nem com a sentença de morte nem com o perdão
concedido ao padre português. Vai aqui mais um detalhe: ele teve duas filhas
com a própria mãe.
O rei mandou pôr o prior de Trancoso em
liberdade a 17 de março de 1491 e mandou também guardar o processo na Torre do
Tombo, onde se encontra no armário 5, maço 7. O documento, extraído desse
processo, é de 25 de março de 1898 e foi reproduzido no jornal “Horizontes
Novos”, Ano XIX, Nº 184.
Sobre
ao autor: Napoleão
Valadares é escritor, membro da Academia Brasiliense de Letras e do Instituto
Histórico e Geográfico do Distrito Federal.
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