Por Paccelli José Maracci Zahler, Brasília, DF
O Prof. Ernesto Wayne foi nosso
professor de Literatura em 1974. Por essa época, as minhas notas não eram lá
essas coisas em Língua Portuguesa. Eu passava raspando e não gostava muito da
matéria, pois não conseguia entender os conceitos, e a Gramática era uma
tortura.
Quando o Prof. Ernesto Wayne
entrou pela primeira vez na sala de aula, eu senti um frio na espinha. Seria mais um professor chato, a fazer
exercícios com frases difíceis para análise sintática. E depois, chamar aluno
por aluno e dar a nota baixa com expressão de triunfo. Puro preconceito!
Já na primeira semana, ele nos
ditou umas regras básicas de pontuação e uso de preposições e regência verbal.
Creio que dava umas dez folhas de arquivo, escritas com caneta tinteiro Parker
51, abastecida com a tinta Parker Quink azul, comprada na Livraria e Papelaria
Previtalli, onde meu pai mantinha uma conta há muito tempo, desde o tempo em
que estudara no Colégio Estadual “Carlos Kluwe”, que funcionava no atual
Palacete Pedro Osório.
Depois, ele nos mandou ler “O
Guarani”, de José de Alencar, e fazer uma resenha. Comprei um caderno de papel
almaço pautado e fiz a tarefa. Entreguei-a na aula seguinte, morrendo de medo
de levar nota baixa.
Para minha surpresa, o Prof.
Ernesto Wayne leu e me deu 10. Foi o primeiro 10 em Português da minha vida.
A tarefa seguinte foi ler “Memórias
de Um Sargento de Milícias”, de Manuel Antônio de Almeida; “Iracema”, de José
de Alencar; “Memórias Póstumas de Brás
Cubas” e “O Alienista”, de Machado de Assis; e poesias de Castro Alves, do que
eu me lembro.
No caso de Castro Alves, ele
propôs um desafio – fazer um trabalho sobre o mais belo verso do poeta baiano.
Eu me lembro de ter pesquisado
bastante e encontrei, em um livro editado pela Biblioteca do Exército –
Bibliex, cujo título o tempo apagou, mas tratava-se de uma análise da vida e da
obra de Castro Alves, que o verso mais belo verso era: “Auriverde pendão da
minha terra”, do poema “O Navio Negreiro”.
Levei feliz o trabalho para o
Prof. Ernesto Wayne, na certeza de receber mais uma nota alta. Para minha
frustração, ele leu e me disse que estava errado, que o mais belo verso de
Castro Alves era “Que a brisa do Brasil beija e balança”. Levei nota baixa.
Tentei argumentar, mostrei o capítulo do livro que pesquisei, mas o Prof.
Ernesto Wayne foi irredutível – o autor estava errado. E a nota continuou
baixa.
Apesar da frustração, isso não me
desestimulou, muito pelo contrário. Graças
às aulas do Prof. Ernesto Wayne, eu adquiri gosto pela leitura e pela
Literatura nacional. Após 1974, eu passei a ser um leitor voraz. Acabei lendo
toda a obra de José de Alencar, todas as poesias do Castro Alves, todos os
livros do Fernando Sabino e muitos outros, e comecei a escrever contos,
crônicas e poesias, guardados a sete chaves em meus diários.
Como passei a tirar notas boas em
Português, que era a pedra no meu sapato, pois me saía bem nas outras matérias,
acabei recebendo o Troféu “Aluno Distinção - 1976” do Colégio Nossa Senhora
Auxiliadora, conferido pelo Círculo de Pais e Mestres daquele educandário, no
final do Segundo Grau, em 29 de novembro de 1976.
Quando vim para Brasília, DF, em
1982, embora não escrevesse diariamente como de hábito, eu não parei.
Em 1991, participei de um
Concurso Nacional de Poesias do Grupo Brasília de Comunicação e ganhei uma
Medalha de Prata. Veio um Concurso Nacional de Contos e ganhei uma Medalha de
Bronze, seguidas de muitas outras em poesias, contos e crônicas. A partir daí,
passei a desenvolver uma atividade paralela – a literária.
Em 1997, fiquei muito triste com
a notícia do passamento do Prof. Ernesto Wayne pelo jornal Minuano, via
internet. Desde 1974 eu não o via, mas tinha notícias da sua atividade literária
por meio de algumas edições antigas do jornal Correio do Sul, que amigos e
parentes me mandavam. Eu estava radicado em Brasília, DF, e não conseguira
expressar o meu agradecimento a ele.
Graças ao Prof. Ernesto Wayne e
ao gosto pela leitura e pela escrita que ele, com a sua didática, incorporou em
mim, acabei sendo convidado a integrar associações e academias literárias,
dentre elas a Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal –
ALB/DF, Cadeira nº 09. Na hora de indicar o Patrono, não tive dúvidas – o Prof.
Ernesto Wayne, com a minha eterna gratidão por desenvolver em mim o gosto pelas
Letras.
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