Por
Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Contava meu pai, com elevada
graça, que tivemos antepassado, muito desenrascado, que sempre encontrava
resposta pronta, na ponta da língua.
Era no início do século XX,
quando haviam muitas sarrafuscas. Ao passar nas mediações da Serra do Pilar, em
Gaia, deparou, atónito, pequeno agrupamento de soldados.
Receoso, avizinhou-se muito
devagarinho…Quando se encontrava a escassa distância, surge-lhe roliço
sargento, de farta bigodaça, sobrolhos eriçados, que se postou, de mãos nas
ilhargas, à sua frente, interrogando-o asperamente:
- Quem é vossemecê?! - Vociferou.
- Quero ir para casa… –
respondeu temeroso, crispando nervosamente a testa.
- Não pode circular! …
- Mas…meu sargento, preciso
de ir para casa…Tenho mulher e filhos. Estou preocupadíssimo…
- Então vá! Mas antes, diga:
Quem viva?!
O homem ficou assarapantado.
Que havia de dizer? …; desconhecia de que lado estava o militar…
Voltando-se para o sargento,
disse-lhe todo empertigado:
- Viva o meu sargento!
Viva eu, e mais quem o senhor quiser! …
De sorriso agarotado, nos
lábios grossos, o militar, deixou-o passar, sacudindo vagarosamente e
complacente, a cabeça, como quem queria dizer: Este sabe-a toda…
Essa historieta, verdadeira,
fez-me lembrar a que conta Agostinho de Campos, na: “ Língua e Má Língua”:
Perguntaram a Teófilo Braga,
durante a Grande Guerra, se era francófilo ou germanófilo.
O escritor, não queria revelar
a sua simpatia, e respondeu deste jeito:
- Eu cá sou Teófilo….
Nos conturbados tempos que
correm, também muitos perguntam: “ Quem viva!?”
Se dissermos viva a “Esquerda”,
somos pascácios para os da “Direita “; se dermos vivas à “Direita”, somos
retrógrados, e anátemas…
Neste tempo democrático, de
amplas liberdades, melhor é dizermos como meu antepassado:
- Viva eu! Viva você! E mais
quem você quiser! …
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