Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
No
momento que dedilho este breve texto, posso dizer que eu acumulo um bom tempo,
trabalhando nos subsolos dos aparatos do Estado, eu como membro efetivo do
baixo escalão. Percebo as coisas de modo um tanto diferente dos que não
pertencem a este universo em particular.
Pois disto isto,
lá estava eu no centro da minha cidade interiorana, a beira mar, em um passeio
em família de final de semana. Era eu e o meu filho e não estávamos então
somente passeando, pois mantemos um projeto familiar de fotografia popular e
amadora, resumindo, pai e filho tiram fotografias cidade a fora, em um celular
barato meia boca.
Avançamos mais um pouco, dizem que para ter ideia de como chegamos até onde
estamos é preciso olhar para o passado, para trás e complemento que para saber
o que acontece nos andares superiores da sociedade estratificada, só basta
olhar para baixo. No meu caso é olhar para os lados, pois sou somente um
elemento típico dos subterrâneos da sociedade. Voltando para o início do texto,
sou membro efetivo do aparato repressivo do estado e passou boa parte das horas
úteis e inúteis uniformizado vigiando e protegendo os bens materiais estatais.
E indo direito ao ponto, queres saber como se comportam e a questão pensando os
divinais seres mitológicos dos andares de cima, os querubins e as querubinas.
Basta olhar com muita atenção, as muitas ridiculices, que ocorrem nos
substratos da sociedade estratificada nas camadas sociais mais baixas
hierarquicamente organizadas.
Estávamos em um sábado de sol no início da tarde, eu e o meu guri, batendo
fotografias na entrada e de um aparato cultural da cidade, para a nossa sorte
as portas tinham sido abertas a poucos minutos! E como eu sei desse detalhe
atômico? Adentramos no prédio histórico e lá estava ela, uma agente do aparato
repressivo da infraestrutura, uma guarda terceirizada. A agente do aparelho
repressivo privado, estava abrindo as salas e orientando as pessoas que tinha
acabado de adentrar no aparato cultural.
Mas o
que está de errado na cena retratada acima? Nada! Absolutamente nada! Somente
pelo fato, que a incumbência de abrir e fechar o aparato cultural, era e é dos
sacrossantos querubins e as sacrossantas querubinas de médio escalão. Os seres
supremos mitológicos provavelmente se deram uma mini férias remunerada. Pois
bem, fotografias das duas exposições foram tiradas, fotografias dos corredores
do aparato cultural foram tiradas. Era hora de bater em retirada antes que
alguma coisa acontecesse, pois os sacrossantos querubins e as sacrossantas
querubinas, ainda não tinham dado ares das suas graças. Ver dois descendentes
de pessoas que um dia foram legalmente escravizados, serelepes a bater
fotografias, não é uma visão corriqueira. E o que não é corriqueiro, não é uma
coisa boa. Não para alguns sacrossantos querubins e as sacrossantas querubinas.
Descemos as escadas, passamos na frente de outro aparato cultural, era um
aparelho histórico e para surpresa minha, estava fechado e só pude pensar que o
agente do aparelho repressivo privado, deveria estar de atestado médico.
Fragmento do livro: Dos ridículos da vida. Texto de Samuel da Costa,
contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
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