Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
‘’I scream alone in the astral void
Don't leave me alone in timelessness
My immortal vate! ’’
Clarisse Cristal
Rua Alcebíades Vanolli, a tenebrosa
rua L, que na verdade é um beco, com uma reta uma subsequente extensão
abaulada, de um lugar infame, estava muito longe, de ser verdade. Aurora, de um
comando apertando como os finos e delicados dedos na manopla no antebraço
esquerdo. De o comando verbal inaudível, procure nos bancos de dados e a
inteligência artificial, nada encontrou, os reais motivos para aquele lugarejo
pacato, na soleira de enormes prédios.
E Aurora a programadora, usou dá
lógica orgânica, dos instintos mais básicos de sobrevivência e olhando
profundamente daquele lugar com singelas casas de madeira. Então deu outro
comando verbal, para acessar a listagem dos moradores, tanto ascendentes e descendentes,
nos bancos de dados públicos. A checagem deu uma pista da má fama, eram
parentes de líderes de facções criminosas e agentes dos aparatos de segurança.
As muitas ondas de criminalidade, aquele lugar por motivos óbvios, foi um lugar
a ser evitado nas ações criminosas e ações policiais. As informações eram
projetadas em uma pequena tela projetada pela manopla da programadora, imagens
decodificadas pelas lentes de contato nos olhos de Aurora.
Parada na entrada da rua L, Aurora
revisou o assunto que teria que tratar com o doutor Hentom, e a programadora
pensou no lema que norteava as pesquisas e as invenções do seminal engenheiro
mecatrônico. Resolver problemas complexos, com soluções simples, era o que
guiava a excepcional vida profissional do doutor Hentom. A alcunha de doutor
Hentom, surgiu do fato de extrair soluções dos estudos da entomologia, nas
construções de robôs, eram na maioria robôs de manutenção, em diversas áreas
das indústrias pesada e construção civil pesada, naval e aeronáutica.
Parada na frente de uma singela casa
de madeira, pintada de branco gelo, com as suas ruas laterais estreitas e um
muro de alvenaria de um pouco mais de um metro, sombreada por um grande prédio
residencial. Um homem alto e negro e trajado com vestes casuais, sai da porta
lateral e caminhou sorrindo até a pequeno portão de ferro.
— Senhora Aurora, fiquei curioso com
o vosso pedido, para uma reunião! — Disparou de forma cordial e direta, o
doutor Hentom levantando a mão em um comprimento formal. — Eu quero muito
entender os motivos, da senhora de usar a velha comunicação subterrânea, mas
entre, seja bem vinda a minha humilde residência.
Aurora a programadora, adentrou no
ambiente do doutor Hentom, com um certo temor, pois a programadora não gostava
daquilo, ela que compreendia e processava os fatos da vida, com lógica
cartesiana. Presa em uma rotina rígida e segura, que se repetia e se repetia
dia após dia. Ter o engenheiro mecatrônico, a sua frente, era outra coisa que
Aurora, sempre quis se desvencilhar, ter um desconhecido conduzindo a sua
caminhada e em um terreno desconhecido. E o pensamento pungente floresceu na
mente de Aurora, algo lhe dizia que ela estava vivenciando algo novo e
imprescindível. A programadora, teve uma impressão vaga, que não caminhava,
flutuava, era uma habilidade, que os botos, que ela ajudou a projetar não
possuíam.
Passado o mal estar, Aurora se
deparou com o engenheiro mecatrônico parado ao lado de uma mesa de centro, a
programadora olhou os quadros nas paredes, eram famílias em momentos
descontraídos. As lentes de contato, nos olhos da programadora, fizeram a leitura
facial dos elementos nos retratos, os elementos simplesmente não constavam nos
bancos de dados e redes sociais. A posterior expansão da pesquisa, apontava que
aquelas pessoas retratadas não existiam e nem eram montagens, eram fotografias
produzidas por máquinas fotográficas analógicas e recuperadas e tratadas de
forma digital.
Aurora percebeu um cabideiro poucos
centímetros atrás dela e ali colocou o chapéu e o sobretudo. Os braços
alvíssimos e delicados, chamaram a atenção do doutor Hentom, assim como os
longos, lisos, finos e cabelos brancos. Um brilho vago nos olhos do engenheiro
mecatrônico e a programadora devolveu com um olhar de lince.
— Sente-se senhorita! — Disse o dono
da casa de pé e apontando para um sofá.
— Claro doutor! — A voz vacilante da
Aurora não passou despercebida pelo engenheiro mecatrônico! E a programadora se
sentou e o dono da casa a acompanhou.
— Podes me chamar de Hentom, pois é
assim que me chamam a tanto tempo, que eu nem sei mais qual é o meu nome de
batismo. E doutor? Estou aposentado, menina! — A voz do Hentom parecei ecoar no
tempo e no espaço.
E ambos se calaram, um glacial
silêncio constrangedor se abriu por poucos segundos, até que o dono da casa
levantou a mão direita fechada e apontou com o dedo indicador, para cima.
Abrupto se levantou e partiu para um dos cômodos aos fundos da pequena casa e
voltou em pouco tempo com uma bandeja de acrílico, com duas xícaras e um bule
de café. Aurora a programadora, se perdeu nos detalhes atômicos impressos, nas
peças futuristas, eram estranhos, cheios simbolismos, astrais, mecânicos e
eletrônicos. Eram placas configuradas complexas, portentosos braços mecânicos,
fórmulas matemáticas de tão avançadas, que Aurora, pensou serem
extraterrenas.
— O que de fato, senhora veio fazer
aqui? — Perguntou o engenheiro de mecatrônica, colocando a bandeja na mesa de
centro.
— Na verdade eu já encontrei o que
vim buscar! — Disse Aurora a programadora. E um feixe de luz amarelo tomou
conta do ambiente e a programadora perdeu a consciência.
Fragmento
do livro: Sono paradoxal, texto de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista
em Itajaí, Santa Catarina.
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