segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

CAMPANHA "INCLUSÃO É RESPEITO!"


Por Eduardo Waack (Matão, SP)


    


Neste filme registramos os bastidores da campanha “Inclusão é Respeito!” 2025. Imagens simples, que sintetizam o esforço coletivo na promoção de uma sociedade mais justa, fraterna e com iguais oportunidades de realização, satisfação e crescimento a todos os viajantes de Pachamama, a nossa Nave Mãe. Agradecemos a Cláudia Ferrari, Ivanise Ferreira do Nascimento, Joelma Cristina Noli, Karla Celene, Margareth Ribeiro da Silva, Maria Julia Rangel de Bonis e Valéria Chiozzini que com suas vozes deram vida ao texto escrito.

O CORTE

Por Catarina Denise Rabello Osoegawa (São Paulo, SP)

 

Jacques Lacan, o psicanalista francês conhecido mundialmente pela releitura da psicanálise de Freud, nos apresentou a máxima afirmação “O inconsciente estruturado como linguagem”, agregando as visões da linguística da época, e invertendo a lógica da linguagem proposta por Ferdinand de Saussure. Para Lacan, o significante não corresponde ao significado. Pelo contrário, o significante no discurso psicanalítico se liga a outro significante, que se liga a um outro, e assim indefinidamente, tendo o significado um valor de um conteúdo suposto, mas difícil de ser decodificado por estar vinculado aos mecanismos do inconsciente. Toda a linguagem se expressa em um encadeamento marcado por cortes sucessivos, e a vida nos mostra que suportá-los é uma experiência que temos que enfrentar desde o nascimento.

O corte é ruptura, mas também uma possibilidade de costura. Na convivência que tivemos com nossas avós, tias e mães, apreendemos um saber que não se ensina nas escolas. No delicado ponto em que era necessário religar algo que havia sido rompido, elas estavam lá, totalmente presentes, dispostas a nos ajudar, com a agulha e o fio de linha nas mãos e a palavra de acalanto para acalmar. Talvez esta seja uma das funções maternas mais lindas e afetuosas, o costurar e o religar. Sem o corte não há nascimento...nem renascimento, como nos declaram as religiões, desde as mais antigas, que estão ao nosso dispor, até as contemporâneas que se apressam a conquistar o nosso louvor. Dispomos de uma infinidade de crenças, filosofias e religiões como uma tentativa de alcançarmos alguma compreensão sobre o mistério do binômio vida e morte no decurso da existência. Porém, o que aprendemos com as nossas mães sobre a capacidade de amar e suportar a dor, supera todo o ensinamento proveniente de uma vasta cultura do educador.

Se a dureza do corte que enseja o fantasma da morte nos machuca demais, o recorte nos abre um universo de possibilidades, uma paisagem cheia de cores, de altos e baixos, de ângulos e horizontes infinitos de criação e reciclagem.

Um dos cortes interessantes que podemos divagar é sobre o medo. O medo da morte pode se transformar rápida e sutilmente em medo da vida, já que o viver é pleno de riscos a todo momento. Já dizia Cecília Meireles “Ou compro o sorvete e gasto o dinheiro, ou guardo o dinheiro e não tomo o sorvete”. O medo que nos protege de situações adversas pode se transformar em uma prisão e um enclausuramento tão antinatural quanto uma doença capaz de invadir o corpo, a mente e o coração.

Segundo a OMS, a saúde se define como um estado de bem-estar físico, mental e social, o que significa que a sensação de bem-estar se sobrepõe à ausência de doença. Todo corte, físico, mental ou social implica processos de reconstituição e a humanidade tem se debruçado constantemente a este empreendimento, especialmente no século XXI, quando se deu conta que o corte da natureza foi profundo demais, e as possibilidades de recuperação agora são mínimas e frágeis, frente às ambições do poder e o controle das sociedades que se submetem a ele.

Uma das experiências mais curiosas que tive, foi a observação dos ciclos de vida do bicho-da-seda, experiência rara que tive à oportunidade de criar dentro do meu apartamento quando os meus filhos eram ainda pequenos, sobre todo o processo de metamorfose que este bichinho passa. E aqui se instaura um paradoxo, como compreender a engenhosidade e grandiosidade do fio da seda?


O fio da seda, este fio inquebrável, brilhante, resistente, finíssimo, caríssimo e tão cobiçado, se forma nada mais, nada menos, a partir de uma simples espécie de baba que sai da boca da larva! A secreção contínua que envolve todo o corpo do bicho-da-seda, se cristaliza e permite a construção do casulo com um único fio enrolado que chega a medir mais de mil metros de extensão! Com esta argamassa fina, branca, lisa e delicada da mistura de duas proteínas, a lagarta se recolhe no seu interior e se protege do mundo exterior e de seus predadores por alguns dias. Permanece segura em seu casulo, após ter se alimentado o suficiente para passar esse tempo de metamorfose em reclusão e sem alimento. O alimento d lagarta antes da fase de casulo é muito peculiar, ela sabe o que quer, o aroma das deliciosas folhas de amora a fazem tremer de tanta alegria, quando as encontra em plena fase de crescimento. Recorta as folhas uma a uma, serrilhando-as, como se os dentes muito finos e cortantes, de maneira organizada, seguissem um sentido pré-determinado, sem desviar o olhar para outras folhas aparentemente mais atraentes, mantendo-se obediente ao seu curso natural.



Passados alguns dias, neste processo delicado de metamorfoses sequenciais, a lagarta que se transformou em crisálida e depois em mariposa começa a se sentir sufocada, precisa experimentar uma nova vida, agora modificada. Criou asas e quer voar, viver a vida livremente, degustar muitas e muitas amoras. Talvez descubra que as amoras podem ser mais apetitosas do que as suas folhas. Enfim, sonha com uma vida completamente nova, atraente e prazerosa. Inicia-se um processo de desconstrução. A mariposa, agora um ser adulto e maduro, suavemente vai rompendo o seu casulo em uma única extremidade, e finalmente abre uma janela redonda por onde passa em liberdade. O fio da seda se fragmenta na abertura do casulo e a liberdade da mariposa, por tanto tempo sonhada... se torna tão efêmera! Pelo menos, para nós, seres inteligentes, acreditamos que o tempo de vida da mariposa é por demais breve e fugaz, que pena...ela nem vai poder aproveitar as asas para voar!? Ao sair do casulo, a mariposa se revela em toda a sua exuberância, vestida de branco como uma noiva, recoberta com uma camada fina de penugem aveludada e logo começa a colocar os seus pequeninos ovos em torno de si mesma, aquecendo-os sob as suas asas... e em questão de horas, ela se imobiliza.



Seria esta constatação apenas uma perversidade da natureza? Desta forma o ciclo do bicho-da-seda ilustra um paradoxo fundamental da existência: no exato momento em que a vida recomeça, com a eclosão dos ovos, também ocorre o encerramento do ciclo da mariposa, que morre logo após cumprir a sua missão de perpetuar a espécie. Esta constatação traz à tona uma reflexão sobre a aparente crueldade da natureza, impondo a morte como parte inevitável do processo. Não se trata aqui de uma perversidade. Se observarmos melhor, descobriremos que esta é uma dinâmica essencial e recorrente em todos os ciclos vitais. Os cortes que geram dor são os mesmos tão necessários ao movimento contínuo de renovação e transformação que permeia a vida.

O corte que se embala no reencontro com o renascer pode ser mais sublime do que a vã tentativa de prolongar a vida. Se a mariposa cumpriu tão lindamente a sua missão, não há motivo para exigir dela mais do que foi realizado! Agora exausta após obedecer a todos os ciclos, encerra a sua projeção no mundo através de seus descendentes. Estes vão seguir a trajetória materna na produção dos mais lindos fios de seda. Esses fios, frutos de um trabalho minucioso e natural, carregam uma perfeição e uma delicadeza impossíveis de serem replicadas, mesmo pelas máquinas mais sofisticadas da indústria têxtil. Assim, cada geração perpetua e reafirma o valor da experiência vivida e do legado transmitido de maneira única e insubstituível.

Segundo Freud, o corte representa um dos temas mais intrincados e difíceis de serem elaborados pelo ser humano, demandando, muitas vezes, anos de análise para serem trabalhados. A partir de sucessivas releituras recupero a lembrança de Cecília Meireles, cuja obra se destaca pelo tratamento suave e primoroso de temas profundos.     Novembro, mês de seu nascimento e morte, ficou marcado pelo legado da escritora que tratou de temas tão delicados e sensíveis com o seu dom poético e capacidade singular de traduzir emoções por meio da literatura. Sua frase: “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira”, revela a resiliência e a força de reconstrução diante dos cortes da vida, reafirmando a possibilidade de renascer mesmo após as rupturas.

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O MONO PALRADOR

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

  

O grande Aquilino encontra-se um pouco esquecido, todavia é dos maiores prosadores da língua portuguesa.

Pena é – a meu ver, – que o nome do extraordinário prosador, esteja manchado por atividade política pouco recomendada, e pelo facto de ser testemunha no testamento de Manuel Buiça, realizado três dias antes do regicídio, segundo Rocha Martins, e registado por António Manuel Ferreira, no livro: "De Marquês de Pombal ao Dr. Salazar.

"Ora o Mestre Aquilino em " Escritor Confessa-se", afirma: " Na nossa terra, basta esbracejar, dar murros na mesa, bramar, romper contra a corrente do bom senso, armar em teso, para ganhar fama de valente ou superioridade, e fama que não é fácil extirpar com duas razões, no bestunto do nosso próximo."

É o que fazem, em geral, sindicalistas, e alguns políticos, que arrastam multidões...

Essa valentia lusa, é igualmente utilizada, por cabeças ocas, que passam por sabias, e abundam pelas empresas, impressionando dirigentes “medrosos”, que ocupam cargo, por favor do partido que militam, cuja ideologia asseveram acreditar.

Ninguém melhor os retratou, do que o nosso Bocage, em:" O Macaco Declamador":

"Um mono, vendo-se um dia/ Entre brutal multidão / Dizem lhe deu na cabeça / Fazer uma pregação.

" Creio que seria o tema / Indigno de se tratar / Mas isso pouco importava, /Porque o ponto era gritar

" Teve mil vivas, mil palmas, / Proferindo à boca cheia / Sentenças de quinze arrobas, / Palavras de língua e meia.

" Isto acontece ao poeta, / Orador, e outros que tais; / Néscios o que entendem menos, / É o que celebram mais."

Quem não conhece, na política, na associação cultural e desportiva, o mono palrador, que berra de cátedra, e de voz ardilosa, pretendem esmagar tudo e todos?

Encontram-se nas empresas, em bicos de pés, " Para serem vistos " (como disse Diderot,) de com voz de bordão e ares doutorais, pretendem impressionar, para subirem na hierarquia.

António Lopes Ribeiro, em: " Anticoisas & Telecoisas", escritor e cineasta famoso,  conhecedor perfeito da nossa sociedade, afirma:

" Fazer barulho e dar nas vistas – tal é a chave do êxito em nossos dias."

E mais adiante: " (...) Quem for discreto, modesto, pudico, reservado, recatado e respeitador, não vai longe em qualquer carreira,” mormente – escrevo eu, – na política e funcionalismo publico,

COMO ERAM ESCOLHIDOS OS DEPUTADOS, SEGUNDO EÇA. E AGORA?

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

  

 

Ao ler: " Uma Campanha Alegre", de Eça de Queiroz, encontrei passagem escrita, em junho de 1871, em que o escritor explica como se escolhiam os deputados do seu tempo. Por ser interessante, e bastante curioso, translado, para o leitor poder avaliar - segundo Eça, - como eram escolhidos os políticos, no seu tempo:

O Governo, pois, “nomeia” os seus deputados. Estes homens são, naturalmente e logicamente, escolhidos entre amigos dos ministros. Por dois motivos:

1º - Porque a amizade supõe identidade de interesses, confiança inteira.

2ª - Porque sendo a posição de deputado ociosa e rendosa, é consoante que seja dada aos amigos íntimos - aqueles que vão ao enterro dos parentes e trazem o pequerrucho da casa às cavalitas

" Os amigos dos ministros são, naturalmente, os primeiros escolhidos. Para completar o número de uma maioria útil, estes amigos, mais em contacto, indicam depois outros, seus parentes que procuram colocar, ou seus aderentes que querem utilizar:

- "Tu não tens ninguém pelo círculo tal? - Pergunta X ao ministro seu íntimo.

- " Não."

- " Espera! Tenho um primo. O pobre rapaz tem poucos meios, é pianista. Mas é fiel como um cão. Um escravo! Posso dizer ao rapaz que conte com a coisa?" - " Podes dizer ao rapaz."

O leitor alheio às lides políticas. pode, perfeitamente pelo texto, como em 1871, os representantes do povo - que ocupavam as cadeiras da Casa da Democracia e deambulavam pelos Passos Perdidos, eram escolhidos; e ainda conhecer o valor e competência, que possuíam, para debater: leis e o Governo da Nação.

Pergunto agora: Como são escolhidos os atuais? Pelo grau académico? Pela honestidade? Pela conduta? Pelos largos conhecimentos que possuem?  Defenderem, intransigentemente, a ideologia que dizem acreditar? Ou ainda, pela crença que professam ou dizem professar, e pela qual foram batizados?

Não sei. Saberá o leitor?

 

O ÂMBAR

Por Catarina Denise Rabelo Osoegawa (São Paulo, SP)

 

Recônditos coloridos

Camadas enfileiradas

Orquídeas parecem leões

Na fina tecitura

A chuva fina

Se transborda

Nas partituras do viver

Arqueologias escondidas

Tudo à mão para tecer

Presentes entreabertos

Da seiva endurecida

 

Nos segredos ancestrais

Os signos se deleitam

Entre verdades e fantasias

Circundam ironias

Ritmos e sinfonias

Melodias do entardecer

No âmago da geologia

O autorretrato do ser

 

Âmbar lapidado com inclusão de louva-a-deus encontrado na República Dominicana

BASTAVA PEDIR

Por Dias Campos (São Paulo, SP)

 

            Quando Patrícia contava oito anos de idade, seu desenho de TV favorito era interrompido por uma propaganda em que um idoso muito simpático presenteava a esposa com uma linda rosa vermelha.

Essa cena, agradável aos olhos, corriqueira entre os que se gostam, deitou no coração infantil a semente de um desejo – ganharia do seu príncipe encantado a mais linda das rosas.

            O príncipe havia, se bem que o eleito da escolinha ainda não se desse conta.

Assim, os únicos presentes que Patrícia ganhava, e sempre à base de trocas, eram as famosas figurinhas colecionáveis, o que, convenhamos, ficavam muito aquém da sonhada doçura que aquela flor representava.

            Mas por que a princesa não era franca e, com todas as letras, pedia uma rosa ao seu escolhido? Os mais apressados apostariam na timidez. A realidade, contudo, era bem outra, e muito mais triste: seu orgulho já se fazia mostrar ao mundo. Para si, portanto, ter que pedir que lhe dessem uma simples rosa era algo impensável, insuportável, e que jamais aconteceria.

            A vida, entretanto, apercebendo-se de sua arrogância, resolveu pagar para ver. E as forças da natureza reuniram-se, maquinaram, e dia a dia impediram que Patrícia ganhasse, fosse de quem fosse, a tão desejada rosa. Ela teria que compreender que o pedir não machuca.

            No entanto, ó paradoxo, isso só fez aumentar o seu orgulho. 

            Um fato marcante agravou o psiquismo de Patrícia: pode parecer romanesco, mas não é incomum que um pai amantíssimo queira ofertar uma rosa à sua filha quando vem a saber que se tornou mulher; a vinda da fertilidade pode ser motivo de grande alegria.

            Patrícia soube dessa intenção por sua mãe, e ficou radiante. Afinal, ganharia a primeira rosa de sua vida, sem que, para isso, tivesse que se rebaixar.

            O destino, porém, que se mantinha resoluto, acercou-se de seu Armando de todas as maneiras, e uma vergonha intransponível tomou conta do seu espírito. E a ideia foi abandonada.

            Às vésperas de debutar, Patrícia já experimentava o vulcão do primeiro amor; em que pese às escondidas de seu pai. Idealizava o baile, as desafiantes valsas, e as rosas que ganharia do seu namorado assim que se vissem.

            Nesse meio tempo, soube que seu Armando lhe comprara uma linda gargantilha de diamantes, e ficou deslumbrada.

            A joia e o baile vieram; as flores, não.

E ninguém conseguiu compreender por que Patrícia ficou bastante amuada.

            A maturidade chegou. E com ela, o casamento; não o próprio, mas o de uma grande amiga.

            Patrícia estava eufórica, pois além de ter sido convidada para madrinha, Tatiana confessou-lhe que o buquê que escolhera fora confeccionado com as mais lindas rosas brancas. E sentenciou:

            - Desta vez não tem para ninguém!

            Ora, pensava consigo, mataria dos coelhos com uma só cajadada, pois receberia rosas de alguém, e, de quebra, seria a próxima a casar. Por isso, caprichou no longo, cobriu-se de adereços, e foi à festa com a certeza dos que anteveem a vitória.

            Não faltaram olhares cobiçosos para Patrícia, linda que estava. E no vaivém das apresentações, um advogado conseguiu prender-lhe a atenção.

            Fábio soube muito bem como se aproximar e cativar a desejada madrinha.

            E Patrícia flutuava!... Ao que parecia, ela enfim conhecia a sua cara-metade.

            De vez em quando, porém, a moça notava um estranho comportamento no admirador. Mas Fábio foi logo esclarecendo:

            - Não é nada, quero dizer, nada com que você deva se preocupar. É que sou alérgico a rosas, e a decoração da mesa está me fazendo, me fazendo... – e um espirro estrepitoso foi a conclusão da explicação – Mas já estou me tratando há um bom tempo, e tudo indica que ficarei curado.

            Essa afirmação acalmou Patrícia. E de tranquila passou a ansiosa tão logo a noiva lhe sussurrou que já sabia quem pegaria o buquê.

            Com efeito, depois que Tatiana, com mais de um olhar insinuante, certificou-se da direção em que deveria jogar as rosas, estas voaram certeiras rumo às mãos da felizarda.

            O problema foi aquela tia extrovertida, alcoolizada e corpulenta que resolveu chutar a viuvez e medir forças com a pobre da sobrinha...

            O namoro com Fábio não foi longo. Depois de um mês, e de infindáveis espirros, Patrícia resolveu terminar o relacionamento.

Pouco tempo depois, conheceu quem seria o seu verdadeiro amor, um arquiteto muito bem sucedido.

            Foi pedida em casamento na noite do réveillon, e aceitou radiante.

Agora, concluía, seria impossível que a vida a brindasse com filhos, mas lhe negasse as flores que anelava!

            Casou-se no mês das noivas. Mas porque se recusasse a pedir rosas, a confecção do seu buquê coube à profissional responsável pela decoração, que jurou serem os copos-de-leite a última moda.

            Os filhos vieram. Era um casal lindo e saudável.

Desta feita, planejava Patrícia, se não abrisse mão de dar à bebê o nome de Rosa, talvez o seu marido se tocasse e a presenteasse com as flores que por décadas suspirava.

No entanto, Carlos, que ficara deslumbrado por ter podido escolher o nome do seu futuro varão, limitou-se a um beijo afetuoso, acrescido de uma caixa de bombons de cereja.

Na realidade, ele tinha percebido aquela dica. Mas o ódio pelas rosas falou mais alto. É que sua mãe lhe revelara, ainda no leito de morte, que seu pai tinha o hábito de distribuí-las às amantes.

 O tempo passou ligeiro. O filho cresceu, casou-se, e o primeiro neto chegou. E toda vez que Patrícia ia visitá-lo, aparecia com o coração opresso, pois geralmente era obrigada a apreciar, no centro da sala de estar, um lindo vaso de cristal caprichosamente adornado com rosas amarelas, as preferidas de sua nora.

            Mas foi quando sua filha engravidou que Patrícia finalmente se convenceu de que jamais ganharia uma única rosa, uma vez que o seu orgulho sempre se imporia.

            Enganava-se...

Ela faleceria dias após sua filha dar a luz. E à medida que o caixão baixava, todos lhe ofereciam dezenas de rosas.

APRENDA COM OS ERROS

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Errar é humano.

Errar faz parte da vida.

Aprender com os erros

é o segredo da vida.

 

Não se prenda aos erros.

Nem fiquem paralisados neles.

Siga a vida.

Agradeça por errar.

 

Se você não tivesse,

errado tanto não aprenderia.

Aprenda com seus erros.

Não se prenda neles.

 

Errar é humano.

Errar faz parte.

O que seria da vida

sem os erros?

 

Errar é arte para

quem aprendem.

Errar faz parte.

Siga em frente.

JANTAR DE NATAL

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


O Natal chegou.

A ceia do amor.

Jesus nasceu em

Belém.

 

Trouxe luz e paz.

Maria é mãe

de Jesus.

 

Seu pai é José.

Homem de Deus é.

Jantar de natal.

Bem-vindo, Senhor!

PERDÃO

 Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Perdão passado.

Perdão futuro.

Perdão presente.

 

Eu não vi o

tempo passar.

Perdi o tempo

de amar.

 

Quebrei a cara.

Feri meu ser.

O tempo passou.

É boas lembranças deixou.

 

HÁ PESSOAS QUE NÃO SÃO MAIS PARA VOCÊ

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Há pessoas que não são

mais para você.

Por isso, precisa partir.

Permita, deixa ir.

 

Não se culpa.

Faz parte da vida.

Não sofra.

Siga a vida.

 

Novas pessoas vão chegar.

Outros vão sair.

É assim segue a

nossa vida.

 

A relação não

depende de você.

Os esforços não

deve ser só de um.

 

Há pessoas que não

te pertencem mais.

Não sofra, siga.

Siga a vida.

 

SAÚDE MENTAL

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Não alimenta palavras.

Nem come as falas.

Preservem sua alma.

 

Não se culpe por nada.

Acabou pois tinha que

acaba.

Siga a vida.

 

Não deu certo

pois não era para ser.

Sua saúde mental

vale ouro.

UM, DOIS,TRÊS, AMEI!

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Um, dois, três.

Amei três vez.

Um, dois e três.

No três eu amei.

 

Um é perfeito.

Dois é par perfeito.

Três uma família.

 

No três um belo amor.

Um, dois três e amei.

Três, dois e um eu amei.

Dois, um, três amei mil vez.

APRENDA COM A VIDA

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


De todos os ensinamentos.

O melhor é da vida.

Aprender com a vida.

 

A vida tem belos

ensinamentos.

Aprenda com a

vida.

 

A vida tem muito

que ensinar.

Com a vida deve

Aprender.

AMEI

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Amei, amei.

Amei você.

Amei como amei.

 

Amei te conhecer.

Amei ver você.

Amei beijar você.

Amei demais você.

Como amei você.

 

Te amei, meu bem.

Meu bem querer.

Amei, amei você.

AMO VOCÊ

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Meu amor, amo você.

Como eu amor você.

Te quero, meu bem querer.

 

Amo, amo, amo você.

Seu amor transborda

meu ser.

 

Amo-te.

Amo você.

Amar-te.

Amor, amo você.

Amor, amo você.

 

OLHAR

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Seu olhar de amor

me conquistou belo.

Seus olhos azuis amei.

 

Amei seus olhos.

Seus olhos azuis.

Seu olhar de amor.

Eu amei seu olhar.

 

Com seu olhar eu amei.

Amei seu olhar.

Como amei.

Seu olhar amei.

AMEI VOCÊ!

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Amei o seu cheiro.

Amei os seus beijos.

Amei você.

 

Como amei te ver.

Amei você.

Como amei você.

Amei te ver.

 

Meu bem querer.

Amei você.

Como amei você.

Amei você.

 

INSTAGRAM: @liecifranborgesmartins

A ARTE DIGITAL DE CLARISSE DA COSTA (BIGUAÇU, SC)

 








CRÔNICA DO DIA: CHARLOTTE, DOS TEUS ASTRAIS ANVERSOS E OBVERSOS!

Por Clarisse da Costa (Balneário Camboriú, SC)

 

‘’E, assim deixo a minha marca, a minha escrita, os meus gritos contidos,

O meu silêncio e as minhas lágrimas de poeta.

Reinvento-me, sou filha do vento, caminho por horizontes,

Nos quais deixo sempre um pouco de mim.

Filha do vento, errante, estrangeira, caminho por horizontes, sem fim...!’’

Fabiane Braga Lima

 

 

Primeira parte: Anversos!

 

O suave vento outonal, açoitou a árvore centenária, as aves Mores regozijavam uma lamúria tétrica ancestral. Os balançarem dos corpos sem vida, era um bailado lindamente funesto, que os habitués daquela localidade, estavam mais que acostumados com aquele espetáculo teatral.

— A senhora, senhora! Chame o meu pai? Por favor! — A lamúria parecia que vinha de todas as partes e de lugar algum.

Olhei para cima, para o topo da frondosa árvore inexistente e vi o impensável, logo pensei em Charlotte Bernard Kerber, quatro corpos sem vida, balançando aos sabores do vento outonal no agonizante arrebol, eram negras e agourentas aves Mores, elas empoleiradas e sobrevoando a árvores. Mas não eram quatro corpos sem vida, eram três.

— Ricardo? — Eu estava atônita, como eu não queria avistar o conhecido e reconhecido adicto, que o pai dele estava morto, tinha morrido em um desastre aéreo. Os outros três eram pessoas desconhecidas, dois homens, um adulto e outro um jovem adulto e uma mulher bem jovens, pelas roupas deduzi que eram maquis.

Segui o meu caminho e não fui muito longe, atravessei o decadente deck de madeira, inundado de areia fina da praia, e olhei para a esquerda, uma lufada de vento marítimo levantou uma mística borrasca de areia. O dia prometia! E logo vi que a praia agreste estava deserta e eu achei maravilhoso.

E não muito longe, vi a suntuosa barraca de acampar, branca polar, com faixas azuis nas bordas e dobraduras, era o efêmero de Charlotte Bernard Kerber, como ela mesma nomeou. E lá caminhei, antes de pôr os meus pés na areia, tirei as minhas botas de canos longos de vinil negras, confesso que as minhas roupas casuais, não eram apropriadas, as minhas vestes de ir até o cemitério mais próximo para o ambiente. Muito menos as minhas pesadas maquiagens negras e vermelhas.

E caminhei pelas normas areias da praia naquela final de uma tarde de outono e eu estava esperando pelo pior de todas as sensações.

 

Segunda parte: Obversos!

 

            — Podes entrar, minha querida! — Disse Charlotte Bernard Kerber! Ela de costas para da entrada da barraca, logo pensei que a pequena exposição de quadros, ali expostos, parecia que estava disposto para a minha chegada.

      A pequena exposição neoimpressionista, intitulado O Triângulo vermelho, contava uma história, que começava no velho mundo e desembocava no novo mundo, o embate da última grande guerra, a travessia para o novo mundo, a chegada no novo mundo e aculturação do que aqui chegaram. Era focado em um pequeno grupo, de mulheres, todo expressivo e cheio de sentimentos vagos e nevoentos.

         — Gostei muito da vossa produção! — Eu disse baixinho

        — Muito bom a vossa visita! — Disse Charlotte Bernard Kerber, que trabalhava em uma pintura, estava pintando o rosto da bailarina, o quadro que estava trabalhando na última visita que eu tinha feito. A pintora neoimpressionista, se virou para mim e deu um passo para a direita, me aproximei e vi o meu rosto na pintura. Foi arrastada pela imagem, eu estava em uma rua do subúrbio de Paris, era uma modelo de uma fotógrafa, uma chuva fina e fria começou a cair e a equipe da fotógrafa se desesperou e a fotógrafa disse em um francês, com sotaque belga, para todos ficarem quietos e bateu a fotografia. Enquanto uma capa de chuva foi lançada em cima da máquina fotográfica. Depois de fortes dores de cabeça eu voltei para o tempo presente.

       — Não tem a ver, com o que você pede e sim, o que você merece, o que podemos dar e o que queremos dar! Às vezes, é um pequeno vislumbre o que se quer, ou onde quer estar! Outras é um paradoxo temporal, sem fim, um pesadelo ou um sonho! — Disse me a pintora neoimpressista e continuou — Gostei do vosso texto, na revista Astro-domo, um tanto aquém do que realmente acontece! — E me jogou de forma ríspida um exemplar da revista que peguei no ar.

      — Interessante! Então é um desejo meu reprimido? — Disse eu para me arrepender depois, eu estava navegando em um universo vasto e desconhecido.

      — Aí fica para a vossa imaginação! Vá embora minha cara e não volte mais aqui! Mas vamos brindar as nossas vidas, imaginária, real, presumida, reprimida ou desejada.

      Charlotte Bernard Kerber ergueu duas taças de cristal e uma garrafa de vinho antiga, muito antiga. Degustamos o negro vinho e como era doce e etérea aquele líquido divinal, mergulhei em doces sensações astrais. Sai daquela tenda como se eu saísse de um sonho simbolista, na orla da praia estava apinhada de gente jovem e famílias jovens vestidas de roupas praias de tempos imemoriais e na água homens jovens surfavam com pranchas antigas em bravias ondas perigosas.

        Eu tinha em mente que eu bem que gostaria de rever este cenário, mesmo sabendo que nunca mais teria a chance de rever este universo mágico do triângulo vermelho. Pois eu já tinha experimentado o que não queria, mas merecia e eu não ousava querer mais.

 

Fragmento do livro: Do diário de uma louca, de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária em Balneário Camboriú, Santa Catarina.

A ARTE DIGITAL DE CLARISSE DA COSTA (BIGUAÇU, SC)

 










ALÉM DOS VÉUS DA NORMALIDADE!

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

            Para a poetisa Clarisse da Costa

 Deparei-me com secos arbustos

 E verdes galhos de árvores

No meio de uma estrada deserta

 Então é precisa ter cuidados

Com o que vem por aí

***

Criei coragem e li e reli

Os antigos e infantos estribilhos meus

Que republiquei recentemente

***

E o mundo está mais escuro,

 Sem o brilho da lua cheia

 Sem os raios do astro rei  

Digo que é apenas a escuridão

De um céu sem estrelas

Os ventos solares que não sopram  

As ondas não quebram na orla oceânica

E a poetisa ebúrnea me abandonou

Para nunca mais voltar

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Olho para trás e veja

Que o tempo não é mais nada

Do que uma mera ilusão

E os nossos sonhos

Não correspondem ao momento presente

E eventualmente os nossos pés descalços

 Tocaram no chão hirto e frio

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Eu o negro e periférico

O cidadão do novo mundo

Gostaria de citar elementos

 Da cultura africana nos meus textos  

São mulheres de ébano

 Da aldeia Nyiominka Serer

Lindas a praticar uma dança tradicional

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Na minha obsolescência programada

Disse o meu programador acidental

Como é lindo o vosso trabalho

Adoro o teu conteúdo artístico flácido

 E há muito ultrapassado

Adoraria poder colaborar

Com o seu deslumbrante fim

Sussurrou ele ao meu ouvido

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Eu queria conhece a Nigéria

Ver as mulheres da nobreza Peule

Ornadas com os seus maviosos

Brincos de ouro

E carnudos lábios tatuados

***

Como é deveras sedutor

Imaginar a criatividade serena  

Em ação a consagra a imaginação

A produzir ideias originais

E criar algo realmente

E inventivamente novo  

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Surreal

 Contaram-me que os meus designers internos

 Trabalham sem parar

 Com uma perspectiva hipersurreal

Querem conquistar o inóspito ciberespaço

O universo afrofuturista das belas-letras

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 Tolas criaturas

Vou chamar um carro de aplicativo

Adentra-lo corajosamente

Ver-me dobra a esquina

E desaparecer por completo

 

Fragmento do livro: Astro-domo, de Samuel da Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.