Revista literária online, uma viagem cultural. Editor: Jornalista Paccelli José Maracci Zahler (RP/MTE nº 14402/DF; FENAJ; FIJ nº BR20943) Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
segunda-feira, 1 de dezembro de 2025
CAMPANHA "INCLUSÃO É RESPEITO!"
O CORTE
Por Catarina Denise Rabello Osoegawa (São Paulo, SP)
Jacques Lacan, o psicanalista francês conhecido mundialmente pela
releitura da psicanálise de Freud, nos apresentou a máxima afirmação “O
inconsciente estruturado como linguagem”, agregando as visões da linguística da
época, e invertendo a lógica da linguagem proposta por Ferdinand de Saussure.
Para Lacan, o significante não corresponde ao significado. Pelo contrário, o
significante no discurso psicanalítico se liga a outro significante, que se
liga a um outro, e assim indefinidamente, tendo o significado um valor de um
conteúdo suposto, mas difícil de ser decodificado por estar vinculado aos
mecanismos do inconsciente. Toda a linguagem se expressa em um encadeamento
marcado por cortes sucessivos, e a vida nos mostra que suportá-los é uma
experiência que temos que enfrentar desde o nascimento.
O corte é ruptura, mas também uma possibilidade de costura. Na
convivência que tivemos com nossas avós, tias e mães, apreendemos um saber que
não se ensina nas escolas. No delicado ponto em que era necessário religar algo
que havia sido rompido, elas estavam lá, totalmente presentes, dispostas a nos ajudar,
com a agulha e o fio de linha nas mãos e a palavra de acalanto para acalmar.
Talvez esta seja uma das funções maternas mais lindas e afetuosas, o costurar e
o religar. Sem o corte não há nascimento...nem renascimento, como nos declaram
as religiões, desde as mais antigas, que estão ao nosso dispor, até as contemporâneas
que se apressam a conquistar o nosso louvor. Dispomos de uma infinidade de
crenças, filosofias e religiões como uma tentativa de alcançarmos alguma
compreensão sobre o mistério do binômio vida e morte no decurso da existência.
Porém, o que aprendemos com as nossas mães sobre a capacidade de amar e
suportar a dor, supera todo o ensinamento proveniente de uma vasta cultura do
educador.
Se a dureza do corte que enseja o fantasma da morte nos
machuca demais, o recorte nos abre um universo de possibilidades, uma paisagem
cheia de cores, de altos e baixos, de ângulos e horizontes infinitos de criação
e reciclagem.
Um dos cortes interessantes que podemos divagar é sobre o
medo. O medo da morte pode se transformar rápida e sutilmente em medo da vida,
já que o viver é pleno de riscos a todo momento. Já dizia Cecília Meireles “Ou
compro o sorvete e gasto o dinheiro, ou guardo o dinheiro e não tomo o
sorvete”. O medo que nos protege de situações adversas pode se transformar em
uma prisão e um enclausuramento tão antinatural quanto uma doença capaz de
invadir o corpo, a mente e o coração.
Segundo a OMS, a saúde se define como
um estado de bem-estar físico, mental e social, o que significa que a sensação
de bem-estar se sobrepõe à ausência de doença. Todo corte, físico, mental ou
social implica processos de reconstituição e a humanidade tem se debruçado
constantemente a este empreendimento, especialmente no século XXI, quando se
deu conta que o corte da natureza foi profundo demais, e as possibilidades de
recuperação agora são mínimas e frágeis, frente às ambições do poder e o controle
das sociedades que se submetem a ele.
Uma das experiências mais curiosas que tive, foi a observação
dos ciclos de vida do bicho-da-seda, experiência rara que tive à oportunidade
de criar dentro do meu apartamento quando os meus filhos eram ainda pequenos,
sobre todo o processo de metamorfose que este bichinho passa. E aqui se
instaura um paradoxo, como compreender a engenhosidade e grandiosidade do fio
da seda?
O fio da seda, este fio inquebrável, brilhante, resistente, finíssimo,
caríssimo e tão cobiçado,
se forma nada mais, nada menos, a partir de uma simples espécie de baba que sai
da boca da larva! A
secreção contínua que envolve todo o corpo do bicho-da-seda, se cristaliza e permite
a construção do casulo com um único fio enrolado que chega a medir mais de mil
metros de extensão! Com esta argamassa fina, branca, lisa e delicada da mistura
de duas proteínas, a lagarta se recolhe no seu interior e se protege do mundo
exterior e de seus predadores por alguns dias. Permanece segura em seu casulo,
após ter se alimentado o suficiente para passar esse tempo de metamorfose em
reclusão e sem alimento. O alimento d lagarta antes da fase de casulo é muito
peculiar, ela sabe o que quer, o aroma das deliciosas folhas de amora a fazem
tremer de tanta alegria, quando as encontra em plena fase de crescimento. Recorta
as folhas uma a uma, serrilhando-as, como se os dentes muito finos e cortantes,
de maneira organizada, seguissem um sentido pré-determinado, sem desviar o
olhar para outras folhas aparentemente mais atraentes, mantendo-se obediente ao
seu curso natural.
Passados alguns dias, neste processo delicado de metamorfoses
sequenciais, a lagarta que se transformou em crisálida e depois em mariposa
começa a se sentir sufocada, precisa experimentar uma nova vida, agora
modificada. Criou asas e quer voar, viver a vida livremente, degustar muitas e
muitas amoras. Talvez descubra que as amoras podem ser mais apetitosas do que
as suas folhas. Enfim, sonha com uma vida completamente nova, atraente e
prazerosa. Inicia-se um processo de desconstrução. A mariposa, agora um ser
adulto e maduro, suavemente vai rompendo o seu casulo em uma única extremidade,
e finalmente abre uma janela redonda por onde passa em liberdade. O fio da seda
se fragmenta na abertura do casulo e a liberdade da mariposa, por tanto tempo
sonhada... se torna tão efêmera! Pelo menos, para nós, seres inteligentes, acreditamos
que o tempo de vida da mariposa é por demais breve e fugaz, que pena...ela nem
vai poder aproveitar as asas para voar!? Ao sair do casulo, a mariposa se revela
em toda a sua exuberância, vestida de branco como uma noiva, recoberta com uma
camada fina de penugem aveludada e logo começa a colocar os seus pequeninos
ovos em torno de si mesma, aquecendo-os sob as suas asas... e em questão de
horas, ela se imobiliza.
Seria esta constatação apenas uma
perversidade da natureza? Desta forma o ciclo do bicho-da-seda ilustra um
paradoxo fundamental da existência: no exato momento em que a vida recomeça,
com a eclosão dos ovos, também ocorre o encerramento do ciclo da mariposa, que
morre logo após cumprir a sua missão de perpetuar a espécie. Esta constatação
traz à tona uma reflexão sobre a aparente crueldade da natureza, impondo a
morte como parte inevitável do processo. Não se trata aqui de uma perversidade.
Se observarmos melhor, descobriremos que esta é uma dinâmica essencial e
recorrente em todos os ciclos vitais. Os cortes que geram dor são os mesmos tão
necessários ao movimento contínuo de renovação e transformação que permeia a
vida.
O corte que se embala no reencontro com o renascer pode ser
mais sublime do que a vã tentativa de prolongar a vida. Se a mariposa cumpriu
tão lindamente a sua missão, não há motivo para exigir dela mais do que foi
realizado! Agora exausta após obedecer a todos os ciclos, encerra a sua projeção
no mundo através de seus descendentes. Estes vão seguir a trajetória materna na
produção dos mais lindos fios de seda. Esses fios, frutos de um trabalho
minucioso e natural, carregam uma perfeição e uma delicadeza impossíveis de
serem replicadas, mesmo pelas máquinas mais sofisticadas da indústria têxtil.
Assim, cada geração perpetua e reafirma o valor da experiência vivida e do
legado transmitido de maneira única e insubstituível.
Segundo Freud, o corte representa um dos temas mais intrincados
e difíceis de serem elaborados pelo ser humano, demandando, muitas vezes, anos
de análise para serem trabalhados. A partir de sucessivas releituras recupero a
lembrança de Cecília Meireles, cuja obra se destaca pelo tratamento suave e
primoroso de temas profundos. Novembro, mês de seu nascimento e morte,
ficou marcado pelo legado da escritora que tratou de temas tão delicados e sensíveis
com o seu dom poético e capacidade singular de traduzir emoções por meio da literatura.
Sua frase: “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre
inteira”, revela a resiliência e a força de reconstrução diante dos cortes da
vida, reafirmando a possibilidade de renascer mesmo após as rupturas.
.
O MONO PALRADOR
Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
O grande Aquilino encontra-se
um pouco esquecido, todavia é dos maiores prosadores da língua portuguesa.
Pena é – a meu ver, – que o
nome do extraordinário prosador, esteja manchado por atividade política pouco
recomendada, e pelo facto de ser testemunha no testamento de Manuel Buiça,
realizado três dias antes do regicídio, segundo Rocha Martins, e registado por
António Manuel Ferreira, no livro: "De Marquês de Pombal ao Dr. Salazar.
"Ora o Mestre Aquilino em
" Escritor Confessa-se", afirma: " Na nossa terra, basta
esbracejar, dar murros na mesa, bramar, romper contra a corrente do bom senso,
armar em teso, para ganhar fama de valente ou superioridade, e fama que não
é fácil extirpar com duas razões, no bestunto do nosso próximo."
É o que fazem, em geral,
sindicalistas, e alguns políticos, que arrastam multidões...
Essa valentia lusa, é
igualmente utilizada, por cabeças ocas, que passam por sabias, e abundam pelas
empresas, impressionando dirigentes “medrosos”, que ocupam cargo, por favor do
partido que militam, cuja ideologia asseveram acreditar.
Ninguém melhor os retratou, do
que o nosso Bocage, em:" O Macaco Declamador":
"Um mono, vendo-se um dia/
Entre brutal multidão / Dizem lhe deu na cabeça / Fazer uma pregação.
" Creio que seria o tema /
Indigno de se tratar / Mas isso pouco importava, /Porque o ponto era gritar
" Teve mil vivas, mil
palmas, / Proferindo à boca cheia / Sentenças de quinze arrobas, / Palavras de
língua e meia.
" Isto acontece ao poeta,
/ Orador, e outros que tais; / Néscios o que entendem menos, / É o que celebram
mais."
Quem não conhece, na política,
na associação cultural e desportiva, o mono palrador, que berra de cátedra, e
de voz ardilosa, pretendem esmagar tudo e todos?
Encontram-se nas empresas, em
bicos de pés, " Para serem vistos " (como disse Diderot,) de com voz
de bordão e ares doutorais, pretendem impressionar, para subirem na hierarquia.
António Lopes Ribeiro, em:
" Anticoisas & Telecoisas", escritor e cineasta famoso, conhecedor perfeito da nossa sociedade,
afirma:
" Fazer barulho e dar
nas vistas – tal é a chave do êxito em nossos dias."
E mais adiante: " (...) Quem
for discreto, modesto, pudico, reservado, recatado e respeitador, não vai longe
em qualquer carreira,” mormente – escrevo eu, – na política e funcionalismo
publico,
COMO ERAM ESCOLHIDOS OS DEPUTADOS, SEGUNDO EÇA. E AGORA?
Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Ao
ler: " Uma Campanha Alegre", de Eça de Queiroz, encontrei
passagem escrita, em junho de 1871, em que o escritor explica como se escolhiam
os deputados do seu tempo. Por ser interessante, e bastante curioso, translado,
para o leitor poder avaliar - segundo Eça, - como eram escolhidos os políticos,
no seu tempo:
O
Governo, pois, “nomeia” os seus deputados. Estes homens são, naturalmente e
logicamente, escolhidos entre amigos dos ministros. Por dois motivos:
1º
- Porque a amizade supõe identidade de interesses, confiança inteira.
2ª
- Porque sendo a posição de deputado ociosa e rendosa, é consoante que seja
dada aos amigos íntimos - aqueles que vão ao enterro dos parentes e trazem o
pequerrucho da casa às cavalitas
"
Os amigos dos ministros são, naturalmente, os primeiros escolhidos. Para
completar o número de uma maioria útil, estes amigos, mais em contacto, indicam
depois outros, seus parentes que procuram colocar, ou seus aderentes que querem
utilizar:
-
"Tu não tens ninguém pelo círculo tal? - Pergunta X ao ministro seu íntimo.
-
" Não."
-
" Espera! Tenho um primo. O pobre rapaz tem poucos meios, é pianista. Mas
é fiel como um cão. Um escravo! Posso dizer ao rapaz que conte com a
coisa?" - " Podes dizer ao rapaz."
O
leitor alheio às lides políticas. pode, perfeitamente pelo texto, como em 1871,
os representantes do povo - que ocupavam as cadeiras da Casa da Democracia e
deambulavam pelos Passos Perdidos, eram escolhidos; e ainda conhecer o valor e competência,
que possuíam, para debater: leis e o Governo da Nação.
Pergunto
agora: Como são escolhidos os atuais? Pelo grau académico? Pela honestidade?
Pela conduta? Pelos largos conhecimentos que possuem? Defenderem, intransigentemente, a ideologia
que dizem acreditar? Ou ainda, pela crença que professam ou dizem professar, e
pela qual foram batizados?
Não
sei. Saberá o leitor?
O ÂMBAR
Por Catarina Denise Rabelo Osoegawa (São Paulo, SP)
Recônditos
coloridos
Camadas
enfileiradas
Orquídeas
parecem leões
Na fina
tecitura
A chuva fina
Se
transborda
Nas
partituras do viver
Arqueologias
escondidas
Tudo à mão
para tecer
Presentes
entreabertos
Da seiva
endurecida
Nos segredos
ancestrais
Os signos se
deleitam
Entre
verdades e fantasias
Circundam
ironias
Ritmos e
sinfonias
Melodias do
entardecer
No âmago da
geologia
O
autorretrato do ser
Âmbar lapidado com inclusão de
louva-a-deus encontrado na República Dominicana
BASTAVA PEDIR
Por Dias Campos (São Paulo, SP)
Quando
Patrícia contava oito anos de idade, seu desenho de TV favorito era
interrompido por uma propaganda em que um idoso muito simpático presenteava a
esposa com uma linda rosa vermelha.
Essa cena, agradável
aos olhos, corriqueira entre os que se gostam, deitou no coração infantil a
semente de um desejo – ganharia do seu príncipe encantado a mais linda das
rosas.
O
príncipe havia, se bem que o eleito da escolinha ainda não se desse conta.
Assim, os únicos
presentes que Patrícia ganhava, e sempre à base de trocas, eram as famosas
figurinhas colecionáveis, o que, convenhamos, ficavam muito aquém da sonhada
doçura que aquela flor representava.
Mas
por que a princesa não era franca e, com todas as letras, pedia uma rosa ao seu
escolhido? Os mais apressados apostariam na timidez. A realidade, contudo, era
bem outra, e muito mais triste: seu orgulho já se fazia mostrar ao mundo. Para
si, portanto, ter que pedir que lhe dessem uma simples rosa era algo impensável,
insuportável, e que jamais aconteceria.
A
vida, entretanto, apercebendo-se de sua arrogância, resolveu pagar para ver. E
as forças da natureza reuniram-se, maquinaram, e dia a dia impediram que
Patrícia ganhasse, fosse de quem fosse, a tão desejada rosa. Ela teria que
compreender que o pedir não machuca.
No
entanto, ó paradoxo, isso só fez aumentar o seu orgulho.
Um
fato marcante agravou o psiquismo de Patrícia: pode parecer romanesco, mas não
é incomum que um pai amantíssimo queira ofertar uma rosa à sua filha quando vem
a saber que se tornou mulher; a vinda da fertilidade pode ser motivo de grande
alegria.
Patrícia
soube dessa intenção por sua mãe, e ficou radiante. Afinal, ganharia a primeira
rosa de sua vida, sem que, para isso, tivesse que se rebaixar.
O
destino, porém, que se mantinha resoluto, acercou-se de seu Armando de todas as
maneiras, e uma vergonha intransponível tomou conta do seu espírito. E a ideia
foi abandonada.
Às
vésperas de debutar, Patrícia já experimentava o vulcão do primeiro amor; em
que pese às escondidas de seu pai. Idealizava o baile, as desafiantes valsas, e
as rosas que ganharia do seu namorado assim que se vissem.
Nesse
meio tempo, soube que seu Armando lhe comprara uma linda gargantilha de
diamantes, e ficou deslumbrada.
A
joia e o baile vieram; as flores, não.
E ninguém conseguiu
compreender por que Patrícia ficou bastante amuada.
A
maturidade chegou. E com ela, o casamento; não o próprio, mas o de uma grande
amiga.
Patrícia
estava eufórica, pois além de ter sido convidada para madrinha, Tatiana
confessou-lhe que o buquê que escolhera fora confeccionado com as mais lindas
rosas brancas. E sentenciou:
-
Desta vez não tem para ninguém!
Ora,
pensava consigo, mataria dos coelhos com uma só cajadada, pois receberia rosas
de alguém, e, de quebra, seria a próxima a casar. Por isso, caprichou no longo,
cobriu-se de adereços, e foi à festa com a certeza dos que anteveem a vitória.
Não
faltaram olhares cobiçosos para Patrícia, linda que estava. E no vaivém das
apresentações, um advogado conseguiu prender-lhe a atenção.
Fábio
soube muito bem como se aproximar e cativar a desejada madrinha.
E
Patrícia flutuava!... Ao que parecia, ela enfim conhecia a sua cara-metade.
De
vez em quando, porém, a moça notava um estranho comportamento no admirador. Mas
Fábio foi logo esclarecendo:
-
Não é nada, quero dizer, nada com que você deva se preocupar. É que sou
alérgico a rosas, e a decoração da mesa está me fazendo, me fazendo... – e um
espirro estrepitoso foi a conclusão da explicação – Mas já estou me tratando há
um bom tempo, e tudo indica que ficarei curado.
Essa
afirmação acalmou Patrícia. E de tranquila passou a ansiosa tão logo a noiva lhe
sussurrou que já sabia quem pegaria o buquê.
Com
efeito, depois que Tatiana, com mais de um olhar insinuante, certificou-se da
direção em que deveria jogar as rosas, estas voaram certeiras rumo às mãos da
felizarda.
O
problema foi aquela tia extrovertida, alcoolizada e corpulenta que resolveu
chutar a viuvez e medir forças com a pobre da sobrinha...
O
namoro com Fábio não foi longo. Depois de um mês, e de infindáveis espirros,
Patrícia resolveu terminar o relacionamento.
Pouco tempo depois,
conheceu quem seria o seu verdadeiro amor, um arquiteto muito bem sucedido.
Foi
pedida em casamento na noite do réveillon, e aceitou radiante.
Agora, concluía,
seria impossível que a vida a brindasse com filhos, mas lhe negasse as flores
que anelava!
Casou-se
no mês das noivas. Mas porque se recusasse a pedir rosas, a confecção do seu buquê
coube à profissional responsável pela decoração, que jurou serem os
copos-de-leite a última moda.
Os
filhos vieram. Era um casal lindo e saudável.
Desta feita, planejava
Patrícia, se não abrisse mão de dar à bebê o nome de Rosa, talvez o seu marido se
tocasse e a presenteasse com as flores que por décadas suspirava.
No entanto, Carlos,
que ficara deslumbrado por ter podido escolher o nome do seu futuro varão,
limitou-se a um beijo afetuoso, acrescido de uma caixa de bombons de cereja.
Na realidade, ele tinha
percebido aquela dica. Mas o ódio pelas rosas falou mais alto. É que sua mãe
lhe revelara, ainda no leito de morte, que seu pai tinha o hábito de distribuí-las
às amantes.
O tempo passou ligeiro. O filho cresceu, casou-se,
e o primeiro neto chegou. E toda vez que Patrícia ia visitá-lo, aparecia com o
coração opresso, pois geralmente era obrigada a apreciar, no centro da sala de
estar, um lindo vaso de cristal caprichosamente adornado com rosas amarelas, as
preferidas de sua nora.
Mas
foi quando sua filha engravidou que Patrícia finalmente se convenceu de que
jamais ganharia uma única rosa, uma vez que o seu orgulho sempre se imporia.
Enganava-se...
Ela faleceria dias
após sua filha dar a luz. E à medida que o caixão baixava, todos lhe ofereciam dezenas
de rosas.
APRENDA COM OS ERROS
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
Errar é humano.
Errar faz parte
da vida.
Aprender com os
erros
é o segredo da
vida.
Não se prenda
aos erros.
Nem fiquem
paralisados neles.
Siga a vida.
Agradeça por
errar.
Se você não
tivesse,
errado tanto
não aprenderia.
Aprenda com
seus erros.
Não se prenda
neles.
Errar é humano.
Errar faz
parte.
O que seria da
vida
sem os erros?
Errar é arte
para
quem aprendem.
Errar faz
parte.
Siga em frente.
JANTAR DE NATAL
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
O Natal chegou.
A ceia do amor.
Jesus nasceu em
Belém.
Trouxe luz e
paz.
Maria é mãe
de Jesus.
Seu pai é José.
Homem de Deus
é.
Jantar de
natal.
Bem-vindo, Senhor!
PERDÃO
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
Perdão passado.
Perdão futuro.
Perdão
presente.
Eu não vi o
tempo passar.
Perdi o tempo
de amar.
Quebrei a cara.
Feri meu ser.
O tempo passou.
É boas
lembranças deixou.
HÁ PESSOAS QUE NÃO SÃO MAIS PARA VOCÊ
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
Há pessoas que
não são
mais para você.
Por isso,
precisa partir.
Permita, deixa
ir.
Não se culpa.
Faz parte da
vida.
Não sofra.
Siga a vida.
Novas pessoas
vão chegar.
Outros vão
sair.
É assim segue a
nossa vida.
A relação não
depende de
você.
Os esforços não
deve ser só de
um.
Há pessoas que
não
te pertencem
mais.
Não sofra,
siga.
Siga a vida.
SAÚDE MENTAL
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
Não alimenta
palavras.
Nem come as
falas.
Preservem sua
alma.
Não se culpe
por nada.
Acabou pois
tinha que
acaba.
Siga a vida.
Não deu certo
pois não era
para ser.
Sua saúde
mental
vale ouro.
UM, DOIS,TRÊS, AMEI!
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
Um, dois, três.
Amei três vez.
Um, dois e
três.
No três eu
amei.
Um é perfeito.
Dois é par
perfeito.
Três uma
família.
No três um belo
amor.
Um, dois três e
amei.
Três, dois e um
eu amei.
Dois, um, três
amei mil vez.
APRENDA COM A VIDA
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
De todos os
ensinamentos.
O melhor é da
vida.
Aprender com a
vida.
A vida tem
belos
ensinamentos.
Aprenda com a
vida.
A vida tem
muito
que ensinar.
Com a vida deve
Aprender.
AMEI
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
Amei, amei.
Amei você.
Amei como amei.
Amei te
conhecer.
Amei ver você.
Amei beijar
você.
Amei demais
você.
Como amei você.
Te amei, meu
bem.
Meu bem querer.
Amei, amei
você.
AMO VOCÊ
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
Meu amor, amo
você.
Como eu amor
você.
Te quero, meu
bem querer.
Amo, amo, amo
você.
Seu amor
transborda
meu ser.
Amo-te.
Amo você.
Amar-te.
Amor, amo você.
Amor, amo você.
OLHAR
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
Seu olhar de
amor
me conquistou
belo.
Seus olhos
azuis amei.
Amei seus
olhos.
Seus olhos
azuis.
Seu olhar de
amor.
Eu amei seu
olhar.
Com seu olhar
eu amei.
Amei seu olhar.
Como amei.
Seu olhar amei.
AMEI VOCÊ!
Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)
Amei o seu
cheiro.
Amei os seus
beijos.
Amei você.
Como amei te
ver.
Amei você.
Como amei você.
Amei te ver.
Meu bem querer.
Amei você.
Como amei você.
Amei você.
INSTAGRAM: @liecifranborgesmartins
CRÔNICA DO DIA: CHARLOTTE, DOS TEUS ASTRAIS ANVERSOS E OBVERSOS!
Por Clarisse da Costa (Balneário Camboriú, SC)
‘’E, assim deixo a minha marca, a minha escrita, os meus gritos
contidos,
O meu silêncio e as minhas lágrimas de poeta.
Reinvento-me, sou filha do vento, caminho por horizontes,
Nos quais deixo sempre um pouco de mim.
Filha do vento, errante, estrangeira, caminho por horizontes, sem
fim...!’’
Fabiane Braga Lima
Primeira
parte: Anversos!
O suave
vento outonal, açoitou a árvore centenária, as aves Mores regozijavam uma
lamúria tétrica ancestral. Os balançarem dos corpos sem vida, era um bailado
lindamente funesto, que os habitués daquela
localidade, estavam mais que acostumados com aquele espetáculo teatral.
— A
senhora, senhora! Chame o meu pai? Por favor! — A lamúria parecia que vinha de
todas as partes e de lugar algum.
Olhei
para cima, para o topo da frondosa árvore inexistente e vi o impensável, logo
pensei em Charlotte Bernard Kerber, quatro corpos sem vida, balançando aos
sabores do vento outonal no agonizante arrebol, eram negras e agourentas aves
Mores, elas empoleiradas e sobrevoando a árvores. Mas não eram quatro corpos
sem vida, eram três.
—
Ricardo? — Eu estava atônita, como eu não queria avistar o conhecido e
reconhecido adicto, que o pai dele estava morto, tinha morrido em um desastre
aéreo. Os outros três eram pessoas desconhecidas, dois homens, um adulto e
outro um jovem adulto e uma mulher bem jovens, pelas roupas deduzi que eram
maquis.
Segui o
meu caminho e não fui muito longe, atravessei o decadente deck de madeira,
inundado de areia fina da praia, e olhei para a esquerda, uma lufada de vento
marítimo levantou uma mística borrasca de areia. O dia prometia! E logo vi que
a praia agreste estava deserta e eu achei maravilhoso.
E não
muito longe, vi a suntuosa barraca de acampar, branca polar, com faixas azuis
nas bordas e dobraduras, era o efêmero de Charlotte Bernard Kerber, como ela
mesma nomeou. E lá caminhei, antes de pôr os meus pés na areia, tirei as minhas
botas de canos longos de vinil negras, confesso que as minhas roupas casuais,
não eram apropriadas, as minhas vestes de ir até o cemitério mais próximo para
o ambiente. Muito menos as minhas pesadas maquiagens negras e vermelhas.
E
caminhei pelas normas areias da praia naquela final de uma tarde de outono e eu
estava esperando pelo pior de todas as sensações.
Segunda
parte: Obversos!
— Podes entrar, minha querida! — Disse Charlotte
Bernard Kerber! Ela de costas para da entrada da barraca, logo pensei que a
pequena exposição de quadros, ali expostos, parecia que estava disposto para a
minha chegada.
A
pequena exposição neoimpressionista, intitulado O Triângulo vermelho, contava
uma história, que começava no velho mundo e desembocava no novo mundo, o embate
da última grande guerra, a travessia para o novo mundo, a chegada no novo mundo
e aculturação do que aqui chegaram. Era focado em um pequeno grupo, de
mulheres, todo expressivo e cheio de sentimentos vagos e nevoentos.
— Gostei muito da vossa produção! — Eu disse baixinho
— Muito bom a vossa visita! — Disse Charlotte Bernard Kerber, que
trabalhava em uma pintura, estava pintando o rosto da bailarina, o quadro que
estava trabalhando na última visita que eu tinha feito. A pintora neoimpressionista,
se virou para mim e deu um passo para a direita, me aproximei e vi o meu rosto
na pintura. Foi arrastada pela imagem, eu estava em uma rua do subúrbio de
Paris, era uma modelo de uma fotógrafa, uma chuva fina e fria começou a cair e
a equipe da fotógrafa se desesperou e a fotógrafa disse em um francês, com
sotaque belga, para todos ficarem quietos e bateu a fotografia. Enquanto uma
capa de chuva foi lançada em cima da máquina fotográfica. Depois de fortes
dores de cabeça eu voltei para o tempo presente.
— Não tem a ver, com o que você pede e sim, o que você merece, o que
podemos dar e o que queremos dar! Às vezes, é um pequeno vislumbre o que se
quer, ou onde quer estar! Outras é um paradoxo temporal, sem fim, um pesadelo
ou um sonho! — Disse me a pintora neoimpressista e continuou — Gostei do vosso
texto, na revista Astro-domo, um tanto aquém do que realmente acontece! — E me
jogou de forma ríspida um exemplar da revista que peguei no ar.
—
Interessante! Então é um desejo meu reprimido? — Disse eu para me arrepender
depois, eu estava navegando em um universo vasto e desconhecido.
—
Aí fica para a vossa imaginação! Vá embora minha cara e não volte mais aqui!
Mas vamos brindar as nossas vidas, imaginária, real, presumida, reprimida ou
desejada.
Charlotte Bernard Kerber ergueu duas taças de cristal e uma garrafa de vinho
antiga, muito antiga. Degustamos o negro vinho e como era doce e etérea aquele
líquido divinal, mergulhei em doces sensações astrais. Sai daquela tenda como
se eu saísse de um sonho simbolista, na orla da praia estava apinhada de gente
jovem e famílias jovens vestidas de roupas praias de tempos imemoriais e na
água homens jovens surfavam com pranchas antigas em bravias ondas perigosas.
Eu tinha em mente que eu bem que gostaria de rever este cenário, mesmo sabendo
que nunca mais teria a chance de rever este universo mágico do triângulo
vermelho. Pois eu já tinha experimentado o que não queria, mas merecia e eu não
ousava querer mais.
Fragmento
do livro: Do diário de uma louca, de Clarisse Cristal, poetisa, contista,
novelista e bibliotecária em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
ALÉM DOS VÉUS DA NORMALIDADE!
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Para a poetisa Clarisse da Costa
Deparei-me
com secos arbustos
E
verdes galhos de árvores
No
meio de uma estrada deserta
Então
é precisa ter cuidados
Com
o que vem por aí
***
Criei
coragem e li e reli
Os
antigos e infantos estribilhos meus
Que
republiquei recentemente
***
E
o mundo está mais escuro,
Sem
o brilho da lua cheia
Sem
os raios do astro rei
Digo
que é apenas a escuridão
De
um céu sem estrelas
Os
ventos solares que não sopram
As
ondas não quebram na orla oceânica
E
a poetisa ebúrnea me abandonou
Para
nunca mais voltar
***
Olho
para trás e veja
Que
o tempo não é mais nada
Do
que uma mera ilusão
E
os nossos sonhos
Não
correspondem ao momento presente
E
eventualmente os nossos pés descalços
Tocaram
no chão hirto e frio
***
Eu
o negro e periférico
O
cidadão do novo mundo
Gostaria
de citar elementos
Da
cultura africana nos meus textos
São
mulheres de ébano
Da
aldeia Nyiominka Serer
Lindas
a praticar uma dança tradicional
***
Na
minha obsolescência programada
Disse
o meu programador acidental
Como
é lindo o vosso trabalho
Adoro
o teu conteúdo artístico flácido
E
há muito ultrapassado
Adoraria
poder colaborar
Com
o seu deslumbrante fim
Sussurrou
ele ao meu ouvido
***
Eu
queria conhece a Nigéria
Ver
as mulheres da nobreza Peule
Ornadas
com os seus maviosos
Brincos
de ouro
E
carnudos lábios tatuados
***
Como
é deveras sedutor
Imaginar
a criatividade serena
Em
ação a consagra a imaginação
A
produzir ideias originais
E
criar algo realmente
E
inventivamente novo
***
Surreal
Contaram-me
que os meus designers internos
Trabalham
sem parar
Com
uma perspectiva hipersurreal
Querem
conquistar o inóspito ciberespaço
O
universo afrofuturista das belas-letras
***
Tolas
criaturas
Vou
chamar um carro de aplicativo
Adentra-lo
corajosamente
Ver-me
dobra a esquina
E
desaparecer por completo
Fragmento do livro: Astro-domo, de Samuel da Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa
Catarina.