Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Ao
ler: " Uma Campanha Alegre", de Eça de Queiroz, encontrei
passagem escrita, em junho de 1871, em que o escritor explica como se escolhiam
os deputados do seu tempo. Por ser interessante, e bastante curioso, translado,
para o leitor poder avaliar - segundo Eça, - como eram escolhidos os políticos,
no seu tempo:
O
Governo, pois, “nomeia” os seus deputados. Estes homens são, naturalmente e
logicamente, escolhidos entre amigos dos ministros. Por dois motivos:
1º
- Porque a amizade supõe identidade de interesses, confiança inteira.
2ª
- Porque sendo a posição de deputado ociosa e rendosa, é consoante que seja
dada aos amigos íntimos - aqueles que vão ao enterro dos parentes e trazem o
pequerrucho da casa às cavalitas
"
Os amigos dos ministros são, naturalmente, os primeiros escolhidos. Para
completar o número de uma maioria útil, estes amigos, mais em contacto, indicam
depois outros, seus parentes que procuram colocar, ou seus aderentes que querem
utilizar:
-
"Tu não tens ninguém pelo círculo tal? - Pergunta X ao ministro seu íntimo.
-
" Não."
-
" Espera! Tenho um primo. O pobre rapaz tem poucos meios, é pianista. Mas
é fiel como um cão. Um escravo! Posso dizer ao rapaz que conte com a
coisa?" - " Podes dizer ao rapaz."
O
leitor alheio às lides políticas. pode, perfeitamente pelo texto, como em 1871,
os representantes do povo - que ocupavam as cadeiras da Casa da Democracia e
deambulavam pelos Passos Perdidos, eram escolhidos; e ainda conhecer o valor e competência,
que possuíam, para debater: leis e o Governo da Nação.
Pergunto
agora: Como são escolhidos os atuais? Pelo grau académico? Pela honestidade?
Pela conduta? Pelos largos conhecimentos que possuem? Defenderem, intransigentemente, a ideologia
que dizem acreditar? Ou ainda, pela crença que professam ou dizem professar, e
pela qual foram batizados?
Não
sei. Saberá o leitor?
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