quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

CORDEL DO ARMAGEDOM (7/7/1977)

Por Gustavo Dourado (Amargedom)

Pra começo de viagem
Preciso me apresentar
Sou poeta do destino
Uma história vou contar
Da Guerra do Armagedon
Que ao mundo vai transformar...

Canto a guerra no repente
Fim dos tempos a chegar
A malícia da serpente
Vem uma besta do ar
Controle do Pensamento:
Homens a escravizar...

A guerra sempre existiu
Da caverna ao avião
O homem sempre brigou
Por uma falsa razão
Destruindo o semelhante
Por prazer e por paixão...

Refaço a visão do Apocalipse
Do profeta São João
A cidade dos remidos
A musa da salvação
O berço da eternidade
A glória da perfeição...

As profecias se cumprem
Seria bom que se sentisse
Os profetas predisseram
Nostradamus bem que disse
De Patmos profetizou
O homem do Apocalipse...

Treme a Terra, geme o Povo.
Em tremenda desventura
Terremoto em toda parte
Aumenta a temperatura
O terror faz a moeda
Nos leva à sepultura...

O tempo me preocupa
É hora de meditar
Virá um grande cometa
Para tudo iluminar
Uma chuva de meteoro
Para nos amedrontar...

Gafanhotos atacarão
Guerra bacteriológica
Vírus, fungos e doenças.
E praga tecnológica
A Guerra do Armagedon:
Em transe psicológica...

Guerra-Ódio e amargura
Desgraça e destruição
O Terror invade a Terra
Gerando medo e aflição
A Guerra do Armagedon:
Será a Grande Questão...

Não se fala em Poesia
Só se vê Corrupção
Filhos desrespeitam os pais
Cresce a prostituição
Comanda a Ditadura:
Com tortura e repressão...

O povo a passar fome
A miséria é total
Em toda parte da Terra
A desgraça é geral
O petróleo sobe sempre:
Tudo é mesmo desigual...

Praga – doença e moléstia
Terremoto a abalar
Todo o globo terrestre
Começa a se inundar
Maremoto e furacão:
Muita gente a matar...

Reinam be$tas poderosas:
O homem a governar
Vem a besta americana
Controlar terra e mar
Aliada de Satã:
Faz a guerra prosperar...

Os problemas são gigantes:
É nação contra nação
Todo mundo está na luta
Na Grande Rebelião
Manda a besta do pecado:
Enfeitiça a Multidão...

Livros serão proibidos
Guerra contra o Islão
Desvirtuaram a Bíblia
Na Nova Inquisição:
Conflitos no Oriente:
Iraque – Afeganistão...

O homem é reprimido
Não se pode ser irmão
A verdade proibida:
Será grande a confusão
Pra comprar ou pra vender:
Tem que ter numeração...

Morreu o deus de outrora:
Tudo agora é diferente
“Viva o Homem do Pecado”:
Ouço a voz da pobre gente
Adoram um Imperador:
E a besta do Presidente...

Criarão um mandamento
Todos têm de respeitar
Adorar a Satanás
Pra viver e pra comprar
Quem não tiver o sinal:
Não precisa nem rezar...

A Terra em grande dor
Quem poderá nos salvar?
É grande a exploração
O pobre a massacrar
O povo alienado:
A imagem a adorar...

Guerra fria imperial
De russo e americano
Conflito...espionagem
Muito medo e engano
O lucro e a mais valia
Traz ao homem muito dano...

Não existe comunista
Democrata não nasceu
O ser humano é ditador
Só pensa no que é seu
Consumismo e poder:
Nosso homem se perdeu...

A Verdade está presa
Reina a hipocrisia
A mentira é a moeda
Comanda a putaria
Está tudo endiabrado:
Desgoverno na orgia...

Gente de sexo trocado
Homem virando mulher
É mulher que vira homem
William que vira Ester
Em mulher que era macho:
Quem vai meter a colher?!.

Homem com homem casado
Ligado cangote e pé
Tem tara pra todo lado
Tem Maria que é Zé
E tem Zé que é Maria
Já tô ficando lelé...

Cassino por toda parte
Loteria e milhar
Tudo aqui é diversão
Jogo do bicho e de azar
O desemprego crescente
Faz o povo se virar...

Os ricos estão mais ricos
Muito gente a roubar
Desfalcam o nosso Erário
Sem ligar para o azar
Exploram o dia todo
Para o tesouro aumentar...

Não existe mais verdade
Só se vê demagogia
O Terror a detonar
Dia e noite...Noite e dia...
A corrupção impera
Explode a Democracia...

A miséria se agiganta
A fome se multiplica
O pobre está na dança
Cada vez mais se complica
Ninguém liga para o povo:
Nessa vida de titica...

É chegado o momento
Da grande desolação
A batalha crucial:
Uma louca confusão
A Guerra do Armagedon
É caos e destruição...

O mundo está com medo
De enfrentar o temporal
O homem está perdido
No Pecado Capital
Corrompeu o coração:
Eis aí o grande mal...

Ninguém teme o futuro
Nem procura a Razão
O Amor foi sepultado
Está faltando o pão
Só se deseja poder
Neste mundo de ilusão...

O desgoverno comanda
O Estado está doente
Liberdade só vai ter
Pra se adorar a $erpente
O sistema desumano:
Oprime, mata e mente...

Começou o Grande Império
Reino da destruição
Do engano e da miséria
Medo e profanação
O homem está perdido
Na via da solidão...

Foi aceso o estopim
Lá nas bandas do Islão
No Irã do Aiatolá:
Iraque – Afeganistão
Palestina e Israel
Na Índia e Paquistão...

Os dias estão contados
Para o velho Reino Unido
O Império Americano
Prepara o seu gemido
O Império Soviético
Que também será vencido...

Morre o velho “comunismo”
A esgotar-se pelo mundo
A Guerra do Armagedon
Terá estrondo profundo
Sobreviverá a Luz:
Morrerá o ser imundo...


A Guerra do Armagedon:
A intervenção de Miguel
Perseguição ao Islã
Conflito com Israel
Palestinos na berlinda
Na terra de leite e mel...

O Brasil será potência?
A Austrália, uma rainha.
Países mediterrâneos
Seguirão a outra linha
A Europa dividida
É a guerra que caminha...

África a se rebelar
A Ásia num só estouro
EuroAmérica como centro
Cantarola um novo agouro
Bombas, guerras, invasões.
Desgoverno de um touro...

O último dos Papas
Pietro será chamado
O último da dinastia
O final de um Estado
Dá adeus ao Vaticano
Será tudo transformado...

O Papado mudará
Da sede do Vaticano
Um novo Papa reinará
No continente americano
Deve ir para o Brasil:
Onde cairá o pano...

A decadência da Igreja
Veio com a Inquisição
tornou-se um vasto Império
Esqueceu a salvação
O Brasil foi escolhido
Pro fim da religião...

Um colapso mundial
Por causa da energia
Falsos profetas prometem
Paz, pureza e harmonia.
É o Reino do Anti-Cristo:
A besta da hipocrisia...

Surge a grande meretriz
Babilônia, a grande musa.
O caos se espalha na Terra
A multidão fica confusa
Sorve a taça de sangue:
Que a Besta-Fera U.$.A


Vive-se a confusão
O Terror está no ar
A TV mostra a guerra:
O Horror a atacar
Naves a explodirem
Bombas a nos detonar...

É a fome massacrante
Multidões a dizimar
Terroristas de plantão
Prontos para pipocar
A Guerra do Armagedon
Será de arrepiar...

Terá Bomba de Hidrogênio
Raio Laser pra matar
Bomba de Antimatéria
Vai desmaterializar
Terá Bomba de Neutrônio
Pra tudo paralisar...

A Terra fora dos eixos
Em grande transformação
Terremoto e hecatombe
Maremoto e furacão
Ondas gigantes no Mar
E a fúria do vulcão...

A Terra entrará em transe
Tempestade a dizimar
Gigantesca inundação
Um dilúvio de matar
Fogo, água e meteoro.
Tudo vai se transformar...

O egoísmo é tirano
Faz o homem guerrear
Usar o conhecimento
Pra excluir e matar
Aprisiona a liberdade
Tira o outro do lugar...

A guerra surgiu tão logo
Ao mundo o homem veio
Um se julgando bonito
O outro se achando feio
Surgiu a luta ferina
Partindo tudo no meio...

Descobriu-se o armamento
Primeiro que a Educação
A estratégia da guerra
Sempre teve promoção
O mundo está doente
Cheio de poluição...


É a luta dos sistemas
Ciência e Religião
A política do mal
Faz a espoliação
Mata o povo de fome
Com tanta corrupção...

Geram medo nas pessoas
Fazem a profanação
É o credo diabólico
A grande imposição
Submetem tanta gente
Com ódio e opressão...

Caminhamos pro incerto
Sinto medo e amargura
Na frente a hecatombe
Ao lado a sepultura
Congelaram o Amor
Petrificaram a ternura...

Começou na Idade Antiga
Primor da civilização
Lá nas terras da Suméria
Anunakis em ação
De Babel à Babilônia:
Instaurou-se a confusão...

Tarsis era atlante
Egito piramidal
Fenícia dos navegantes
Tiro era fenomenal
Nínive era colosso
A mudança foi total...

Tinha o Império de Mu
Um povo adiantado
De alta tecnologia
Alta classe e rico Estado
Foi para o fundo do Mar:
Ficou tudo sepultado...

Em Lemúria e Atlântida
Tudo era colossal
Maias, incas e astecas
Era um poder magistral
Tupis e peles vermelhas
Foi um tempo sem igual...

Foi-se um tempo de potência
Tudo era diferente
Vivia-se em plena festa
Era um tempo caliente
A injustiça comandava:
Nos tempos de antigamente...


Até que veio o Terror
A desgraça foi geral
Veio o grande dilúvio
Numa inundação total
A vingança dos deuses
Contra o filho hominal...

Escapou um cidadão
Cujo nome era Noé
Foi destaque entre nós
Pois em Deus botava fé
Redimiu a raça humana
Que vive em marcha ré...

Deu-se a continuidade
Da espécie da ambição
O homem se elevou
E olhou pra amplidão
Começou a guerrear
E matar o seu irmão...

Tinha Sodoma e Gomorra
Pompéia e Herculano
O fogo abrasou tudo
Com a fúria de Vulcano
Tróia e Alexandria
Sumiram no oceano...

Cidades da Antigüidade
Persepólis foi arruinada
Alexandre pilhou tudo
Foi grande a derrocada
Karnac – Helicarnasso
Sumiram na madrugada...

Morreram hiperboreus
Os loiros ocidentais
Orgulhosos arianos
Poderosos generais
Nas águas dos oceanos
Ao poder terão jamais...

O egoísmo não morreu
Faz o homem se matar
Avareza e mentira
O homem a enganar
Usura e lucro fácil
O homem a explorar...

Surgiram novos impérios
O poder se renovou
Árabes e judeus
Por tudo sempre brigou
Na luta pelo poder
A verdade se enterrou...


A Pirâmide de Gizé,
A Esfinge de valor
Queóps e Miquerinos
O instinto construtor
O Rio Nilo a molhar
Fez brotar a luz da flor...

O homem não se contenta
Com aquilo que ele tem
Sempre quer aumentar
O poder que não convém
Para atingir a meta
Não respeita seu ninguém...

Homem escravo do homem
Mania de ser superior
Passa por cima de tudo
Provoca medo e dor
A luta pelo poder
Trouxe a morte do amor...

Egito, Síria e Iraque
Guerra no Oriente Médio
Palestina perseguida
Terror, ódio, medo, tédio
O homem provoca o mal
Para ele tem remédio?!

Origem do patriarcado
Do errante povo hebreu
Conta a velha escritura
Que o tempo concebeu
Mostra a vida de Abraão
O patriarca judeu...

Dividiu sua família
Expulsou a Ismael
Teve um filho com Sarai
Isaque, pai de Israel
Tirou de um deu ao outro:
A terra de leite e mel...

Dividiram-se os irmãos
Em tribos bem desiguais
Foi em Ur da Caldéia
As divisões raciais
Do Iraque ao Egito:
A confusão é demais...

Ismael foi para um lado
Para ter futuro incerto
Era filho de estrangeira
Não tinha destino certo
Foi expulso pelo pai
Para viver no deserto...


Isaque foi abençoado
Teve toda regalia
Cresceu em sua mente
Ego e megalomania
Transmitiu aos descendentes
O poder que possuía...

Aí está o mistério
É uma luta de irmão
Árabes e israelenses
Precisam de evolução
Buscar paz e tolerância
Harmonia e comunhão...

O conflito prosseguiu
Com Jacó e Esaú
O Jacó foi mais esperto
Deixou pois o outro nu
Enganou o primogênito
Causou o maior rebu...

Será no Médio Oriente
No Estado de Israel
A Guerra do Armagedon
Uma batalha cruel
Luta do bem contra o mal
De Satã contra Miguel...

Har-Magido é mistério
No Megido há rebeldia
Planície de Jezrael
A morte da hipocrisia
Na Guerra do Armagedon
Morrerá a tirania...

O homem não tem remédio
É um eterno carniceiro
Desde os tempos da caverna
Tem mania de guerreiro
A Guerra do Armagedon
Abalará o mundo inteiro...

O petróleo do Oriente
Causará a confusão
Árabe e israelense
Nunca mais se unirão
Na Guerra do Armagedon
Vamos ver quem tem razão...

Israel tremula e treme
Por matar o redentor
O rabi assassinado
Mestre e consolador
Até hoje é negado
Por um povo sofredor...


Crise no Oriente Médio
Terror na Mesopotâmia
Invasão tortura e morte
Na terra da Babilônia
A Águia na invasão
Gera dor medo e insônia...

É tempo de ironia
Do crente e do ateu
O demo na gargalhada
Nunca se escafedeu
Atenta para o pecado
O nobre e o plebeu...

Judeus e palestinos
Mesmo povo perseguido
Eles dizem ser de Deus
O povo bem escolhido
E que a bela Jerusalém
Será um reino remido...

Judeus são discriminados
Foram vítimas de racismo
Sofreram lá na Europa
Sob a égide do Nazismo
Fazem com os palestinos
As loucuras do fascismo...

A Bíblia nos atormenta
Com as suas profecias
Vejo a deusa prostituta
Nas horas contando os dias
Babilônia com o vinho
Enlouquece nas orgias...

Vejo a Terra tremer
Maremoto e explosão
Grande Cidade atacada
Por satélite e avião
Tempestade e geleira
Bomba, vírus, furacão...

É o fim da religião
A verdade se emperra
Ateus, profanos e crentes
Brigando na eterna guerra
Todos na ambição
De ter o planeta Terra...

O Papa mudará
Da Europa pro Brasil
Tomarão o Vaticano
Com bomba e com fuzil
O papa como é esperto
Não quer perder o covil...


Sai da Praça de São Pedro
Em busca de outro lugar
Deixa a vida de nobre
Terá que modificar
Novo tempo, nova era
Novo homem vai raiar...

Anti-Cristo, Falso Profeta
Estão juntos pra brigar
O falso Cristianismo
Um dia vai acabar
Ouvi um dia em sonho:
Que o bem vai triunfar...

O cordeiro apocalítico
O sagrado redentor
Prometeu a liberdade
A Poesia e o Amor
Eliminará da Terra:
O sistema de Terror...

Os selos já foram abertos
Começa a transformação
Vejo Gogue e Magogue
O Demo na ebulição
As duas bestas brigando
E adorando o Dragão...

A América belicista
A Europa a reclamar
A Rússia esfacelada
Israel a se armar
O Islã se elevando:
A guerra está no ar...

É a voz da profecia
Em tempo de revelação
Do mistério cabalístico
Do profeta São João
É o princípio da dor
Vou fazer meditação...

O capital faz a guerra
Dilacera o amor
Aniquila com a paz
Tortura com sua dor
O Diabo nos engana
Com seu ar de traidor...

As ogivas a dançarem
Bactérias no ar
Os fungos e cogumelos
Fazem o robô chorar
Na Guerra do Armagedon
O homem vai se transformar...

*Poema apresentado em Brasília, no Festival Nacional de Cordelistas e Poetas Repentistas(1980) e gravado em entrevista
pela antropóloga Silvie Raynal da Universidade de Sorbonne(Paris),
em Brasília, agosto de 1980.
Sobre o autor:
Gustavo Dourado (Amargedom), professor, poeta, cordelista, ensaísta, articulista, escritor, jornalista, pesquisador. Autor de 11 livros. Premiado na Áustria e recomendado pelo World Poetry Day e World Portal Libraries, ambos da Unesco. Dourado foi objeto de tese de mestrado na Universidade Federal de Ouro Preto e de doutorado na Sorbonne e na Universidade Federal da Paraíba. Sua obra(principalmente o Cordel) foi discutida em várias universidades do Brasil e do exterior: Sorbonne(Silvie Raynal), Manz(Wolf Lustig), UnB(Michelle Sampaio), entre outras. Faz parte do Grupo da Memória da Educação do DF(UnB/SEEDF). Organizou o livro “40 anos de Educação no Distrito Federal”, com ênfase na experiência do educador Anísio Teixeira.
Página pessoal: www.gustavodourado.com.br: blog: http://cordel.zip.net: antologia poética www.ebooks.avbl.com.br/biblioteca1/gustavodourado.htm

(Originalmente publicado no nº 2 da Revista Cerrado Cultural).

Nenhum comentário:

Postar um comentário