Por Clarisse da
Costa (Biguaçu, SC)
Cada vez mais vemos grandes transformações
desde a luta da mulher pelo seu espaço e direitos perante a sociedade. trabalho
fora de casa deu para a mulher a sua independência, seja financeiramente ou de
escolhas. Com isso houve um ganho de direitos e deveres. Mas algumas coisas
continuam similares às do século passado. Limpar a casa, fazer o almoço, lavar
roupas, cuidar dos filhos e do marido ainda fazem parte da vida da mulher. Em
compensação lavar a roupa nos dias de hoje é mais fácil do que fora antigamente.
Hoje a mulher tem a máquina de lavar. Em outros tempos a mulher se sujeitava a
lavar roupas nos rios e riachos. Neste tempo o seu grande desafio era arrumar
um marido para se casar. A mulher nem pensava em dividir espaço com o homem.
Nos dias atuais, fora do casamento mulheres e homens são vistos como rivais. O
simples fato de o homem ser considerado o macho alfa, forte e com uma grande
capacidade, e a mulher ser considerada a frágil pela sociedade faz com que seja
desvalorizada. Perante a sociedade enfrenta as desigualdades. Sua luta por
direitos iguais tem sido seu maior desafio. Obviamente que cada mulher tem o
seu desafio a ser ultrapassado. Já dizia Micaela Waissy: Ultrapasso os meus
limites. Em outrora noite disse-me: O desafio é meu melhor amigo. Digamos que o
desafio para a mulher é a sua vitamina diária. A independência feminina e o seu
crescimento profissional faz com que a mulher busque muito mais do que já
pensou em ter. Na década de XX a mulher se quer podia pensar em alguma coisa
que não fosse cuidar da casa, ou do seu marido e filhos. Vista como frágil era
considerada incapaz de assumir responsabilidades. Com a primeira guerra mundial
a mulher se rende ao mundo do trabalho assalariado. Com isso a mulher foi
ganhando independência econômica o que a levou lutar pelos mesmos direitos dos
homens. Mas o desafio da mulher negra é em grande número maior que os da mulher
branca. Como em outrora havia escrito, a mulher negra vive uma dupla situação
marcada pela descriminação por ser mulher numa sociedade machista e por negra
numa sociedade racista. O fato de ser mulher e negra trouxe para ela uma
condição cruel, uma parcela da população brasileira que conseguiu se inserir na
sociedade mesmo após a abolição. Embora as mulheres em geral sofram pela opressão
de uma sociedade machista a mulher negra paga o maior preço. No período da
escravidão seu papel principal esteve ligado aos afazeres domésticos e à
questão sexual. Após a abolição a primeira solução que teve para se inserir na
sociedade foi adentrar no mercado de trabalho. Mas a sua independência
adquirida após a liberdade foi justamente na realização dos trabalhos
domésticos, principalmente nas grandes cidades. O que a manteve numa das
condições em que a escravidão tinha a submetido, o trabalho doméstico na casa
dos senhores de elite. Embora as dificuldades nos dias atuais a mulher negra se
mantém de pé. Como tantas mulheres, sem distinção de raças, ela vive seus
desafios sempre buscando o melhor para ela, mesmo que no seu tempo, pouco a
pouco. Não sei se eu me incluo como essa mulher, mas não há exemplo melhor que
Micaela Waissy. Cadeirante enfrenta as dificuldades da mobilidade na cidade de
Matola em Moçambique. Artesã por amar essa arte e poetisa nata além de modista,
enfrenta os desafios diários com um largo sorriso no rosto desafiando seus
próprios limites. Disse-me no madrugar de Moçambique, enquanto aqui no Brasil a
noite mal começava que cada obstáculo é um desafio. E deixou bem claro que faz
dele o seu melhor amigo. A negra não foge da luta. Em outrora noite em um
descontraído papo me relatou sua próxima jornada, estagiar em outra cidade.
Micaela terá que pegar dois carros e sozinha, para enfim fazer esse estágio.
Senti no tom de suas palavras uma preocupação. Mas devo ter me enganado, pois
me pronunciou: - Não é fazer é como fazer. E deixou bem claro que vai dar um
jeito. Também me relatou que ao pegar condição para se locomover ouviu diversas
vezes os motoristas dizerem que não a pegariam. A razão seria que isso levaria
tempo para carrega-la. Ou seja, uma porta fechada para uma mulher negra,
cadeirante. Mas uma mulher à frente do seu tempo como tantas outras lutando
pelo seu espaço, quebrando desafios e se impondo como mulher diante de uma
sociedade omissa, cruel e machista, e em grande número racista. Micaela Waissy
um espelho para outras mulheres cadeirantes como muitas vezes me disse é a
mulher que o mundo despreza. Eu poderia ser sutil e dizer ‘’a mulher que o
mundo ignora’’, mas estaria mentido assim como outras pessoas de raças
diferentes que acreditam que o racismo não existe e que embora o negro viva na
sociedade não é desvalorizado no mercado de trabalho e que a mulher apesar de
viver em meio ao machismo tem seu direito garantido.
O grande ensinamento para
todos se chama Micaela Rufino Adriano, conhecida por todos como Micaela Waissy,
pequena na sua estatura e grandiosa como mulher. Não esqueço quando certo dia
nós conversávamos pela madrugada. Perguntei para ela o que seria Micaela artesã
e negra, e ela sem demasia me respondeu: - É ser o espelho para outras mulheres
cadeirante. E aqui encerro perguntando: O que é ser a mulher nos dias de hoje?
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