quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A MULHER E SEUS DESAFIOS:OS TEMPOS SÃO OUTROS

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

 Cada vez mais vemos grandes transformações desde a luta da mulher pelo seu espaço e direitos perante a sociedade. trabalho fora de casa deu para a mulher a sua independência, seja financeiramente ou de escolhas. Com isso houve um ganho de direitos e deveres. Mas algumas coisas continuam similares às do século passado. Limpar a casa, fazer o almoço, lavar roupas, cuidar dos filhos e do marido ainda fazem parte da vida da mulher. Em compensação lavar a roupa nos dias de hoje é mais fácil do que fora antigamente. Hoje a mulher tem a máquina de lavar. Em outros tempos a mulher se sujeitava a lavar roupas nos rios e riachos. Neste tempo o seu grande desafio era arrumar um marido para se casar. A mulher nem pensava em dividir espaço com o homem. Nos dias atuais, fora do casamento mulheres e homens são vistos como rivais. O simples fato de o homem ser considerado o macho alfa, forte e com uma grande capacidade, e a mulher ser considerada a frágil pela sociedade faz com que seja desvalorizada. Perante a sociedade enfrenta as desigualdades. Sua luta por direitos iguais tem sido seu maior desafio. Obviamente que cada mulher tem o seu desafio a ser ultrapassado. Já dizia Micaela Waissy: Ultrapasso os meus limites. Em outrora noite disse-me: O desafio é meu melhor amigo. Digamos que o desafio para a mulher é a sua vitamina diária. A independência feminina e o seu crescimento profissional faz com que a mulher busque muito mais do que já pensou em ter. Na década de XX a mulher se quer podia pensar em alguma coisa que não fosse cuidar da casa, ou do seu marido e filhos. Vista como frágil era considerada incapaz de assumir responsabilidades. Com a primeira guerra mundial a mulher se rende ao mundo do trabalho assalariado. Com isso a mulher foi ganhando independência econômica o que a levou lutar pelos mesmos direitos dos homens. Mas o desafio da mulher negra é em grande número maior que os da mulher branca. Como em outrora havia escrito, a mulher negra vive uma dupla situação marcada pela descriminação por ser mulher numa sociedade machista e por negra numa sociedade racista. O fato de ser mulher e negra trouxe para ela uma condição cruel, uma parcela da população brasileira que conseguiu se inserir na sociedade mesmo após a abolição. Embora as mulheres em geral sofram pela opressão de uma sociedade machista a mulher negra paga o maior preço. No período da escravidão seu papel principal esteve ligado aos afazeres domésticos e à questão sexual. Após a abolição a primeira solução que teve para se inserir na sociedade foi adentrar no mercado de trabalho. Mas a sua independência adquirida após a liberdade foi justamente na realização dos trabalhos domésticos, principalmente nas grandes cidades. O que a manteve numa das condições em que a escravidão tinha a submetido, o trabalho doméstico na casa dos senhores de elite. Embora as dificuldades nos dias atuais a mulher negra se mantém de pé. Como tantas mulheres, sem distinção de raças, ela vive seus desafios sempre buscando o melhor para ela, mesmo que no seu tempo, pouco a pouco. Não sei se eu me incluo como essa mulher, mas não há exemplo melhor que Micaela Waissy. Cadeirante enfrenta as dificuldades da mobilidade na cidade de Matola em Moçambique. Artesã por amar essa arte e poetisa nata além de modista, enfrenta os desafios diários com um largo sorriso no rosto desafiando seus próprios limites. Disse-me no madrugar de Moçambique, enquanto aqui no Brasil a noite mal começava que cada obstáculo é um desafio. E deixou bem claro que faz dele o seu melhor amigo. A negra não foge da luta. Em outrora noite em um descontraído papo me relatou sua próxima jornada, estagiar em outra cidade. Micaela terá que pegar dois carros e sozinha, para enfim fazer esse estágio. Senti no tom de suas palavras uma preocupação. Mas devo ter me enganado, pois me pronunciou: - Não é fazer é como fazer. E deixou bem claro que vai dar um jeito. Também me relatou que ao pegar condição para se locomover ouviu diversas vezes os motoristas dizerem que não a pegariam. A razão seria que isso levaria tempo para carrega-la. Ou seja, uma porta fechada para uma mulher negra, cadeirante. Mas uma mulher à frente do seu tempo como tantas outras lutando pelo seu espaço, quebrando desafios e se impondo como mulher diante de uma sociedade omissa, cruel e machista, e em grande número racista. Micaela Waissy um espelho para outras mulheres cadeirantes como muitas vezes me disse é a mulher que o mundo despreza. Eu poderia ser sutil e dizer ‘’a mulher que o mundo ignora’’, mas estaria mentido assim como outras pessoas de raças diferentes que acreditam que o racismo não existe e que embora o negro viva na sociedade não é desvalorizado no mercado de trabalho e que a mulher apesar de viver em meio ao machismo tem seu direito garantido.
O grande ensinamento para todos se chama Micaela Rufino Adriano, conhecida por todos como Micaela Waissy, pequena na sua estatura e grandiosa como mulher. Não esqueço quando certo dia nós conversávamos pela madrugada. Perguntei para ela o que seria Micaela artesã e negra, e ela sem demasia me respondeu: - É ser o espelho para outras mulheres cadeirante. E aqui encerro perguntando: O que é ser a mulher nos dias de hoje?



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