quinta-feira, 1 de setembro de 2016

CLARISSE EM DIAS DE SOL E CALOR

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Em dias de sol e calor
Minha alma serena
Passeia livremente
Pela charneca em flor
Nesses dias de extrema felicidade
Eu tenho sentimentos bons
Eu tenho pensamentos probos
Eu sou feliz

Quando as duas, por fim se desgrudaram, não tinham noção de quanto tempo de fato a cena se se desenrolou. Foi como uma enorme fossa abissal equidistante se materialize entre ambas. Clarisse com os olhos negros em chamas não parava de olhar para Anna Victória, não a desejando e sim com certa curiosidade da bela e jovem mulher parada a poucos centímetros dela e tão distante ao mesmo tempo. A outra estava confusa e atônita olhava para o chão em desespero e perdidamente, como quem procurasse algo que acabara de perder, sem nada a dizer, estava corada.
Era constrangedora a cena que se desenrolava ali, mas ambas tinha noção que nada seria mais como antes, nada poderia ser igual, tudo mudou em absoluto. Para Clarisse o mundo ficou menor e, antigas certezas se dissolveram por completo. O desejo intenso e o corpo em chamas exigiam prazer imediato e entrega completa, não o amor platônico e pueril. A apaixonite adolescente, pelo motoboy da livraria, fora sepultada em definitivo, era por fim uma mera lembrança esfumaçada, perdida não só no tempo, mas também no espaço. A antiga cidadã das nuvens revogara a sua cidadania, já não existia mais aquela figura evasiva, agora Clarisse tinha os pés bem fincados no chão. Um novo mundo cheios de infinitas possibilidades erguia bem diante dela. E não precisava ir muito longe de onde estava no exato momento. Antigas desejos que vinham e evanesciam em nanossegundos, agora não pareciam tão distantes e impossíveis assim. Clarisse não queria mais olhar pelas frestas da vida, Clarisse queria vivê-la ao máximo do possível e do imaginável da possibilidade cotidiana. E decidiu começar com o que tinha ao seu alcance, o mundo liquefeito enfim batera na porta da jovem e bela Clarisse.
***
Anna Victória só agora tinha lembrado do que tinha ido fazer ali, na seção de obras raras, e levou a mão até a pesada prateleira de madeira Paolo Santo, e com o dedo indicador esquerdo passa a em revista nos livros ali dispostos, encontrou o que queria e pegou um por fim. Era a primeira edição de um livro autografado, raro e caro, o título era as cinzas da horas. A moça se vira de forma intempestiva, da as costa para a outra, sem nada dizer e sai sem presa alguma, se arrastando na verdade como um enorme peso lhe caísse nas costas.
— Foi bom para você, meu anjo? — A pergunta de Clarisse pegou a outra bem distante, era um tom alegre e descontraído e não de deboche. A outra olha para trás e sorriu, já não estava mais enrubescida, achava graça da situação embaraçosa, afinal o que era um beijo entre amigas? Nada de mais, era assim que Anna Victória pensava naquela hora.


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