quinta-feira, 1 de setembro de 2016

CLARISSE E A REALIDADE LIQUEFEITA

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Os outros são um detalhe alheio,
A nós mesmo,
As nossas próprias existências liquefeitas 
          
Para diante do estúdio de tatuagens, Clarisse tomou fôlego, por fim decidiu entrar no recinto, medos, dúvidas e receios agora eram coisas do passado, se evanesceram no ar com a claridão da luz do dia.
     — Tu vai ficar ai! Parada por muito tempo? Espantando a minha fiel clientela! — A voz fluiu melodiosa pelo ar, apesar do tom grave, das palavras proferidas, que saíram do interior do estúdio. Clarisse adentrou, e sentei uma estranha sensação de nostalgia a percorrer-lhe pelo corpo, ao ser tragada pela escuridão da antessala do recinto. Esquecendo totalmente do celular, último modelo, que a mãe dela lhe dera de presente há pouco tempo. O aparelho moderno jazia em mil nanos-pedaços no meio da rua movimentada. A culpa não foi da jovem bibliotecária, pois o aparelho vibrou e depois tocou assim que ela saiu da livraria. Clarisse logo imaginou a cena toda, Anna Victória ligando, em prantos, para a dela mamãezinha querida, em seguida um conversa breve, chorosa e rápida, e esta última ligando para a mãe de Clarisse, que liga furiosa para a filhinha rebelde e malcriada. A moça para põem fim ao melodrama, espatifando o aparelho no meio da rua com muita força.       
— Então o que te trás ao meu humilde comércio? — Foi Cris, que fez a pergunta de maneira afável. Clarisse já tinha visto pessoas assim em revistas, filmes, reportagens na TV em livros e andando na rua mesmo. Cris era uma figura andrógina e estava de pé bem diante dela. Alta, morena, com os olhos castanhos rasgados, longos cabelos lisos e negros reluzentes, usava uma camisa física preta, calça larga e tênis de esqueitista. Mas a voz melodiosa, a pele sedosa e o sorriso delicado denunciavam era uma mulher.
— Quero fazer uns riscos contigo e furar as orelhas também!
O estúdio era amplo e moderno com vários espaços, estúdios menores dentro de um grande estúdio. Clarisse, longo, percebeu uma pequena lousa digital na lateral esquerda do amplo estúdio, vários cavaletes aqui e ali, notebooks, tabletes de vários modelos e tamanhos, vários estojos de lápis aquarelável supracolor, muitos sprays de tintas também de várias cores, tamanhos e marcas, vários quadros inacabados em vários estilos e escolas de belas artes. Era uma bagunça bem organizada, ali funcionava uma estranha mistura de escola de belas artes com estúdio de tatuagens.   
— Os outros são um mero detalhe, alheio a nós mesmo, as nossas existências liquefeitas! Clarisse leia a frase em voz alta e de forma imponente, que estava pintada na parede do lado direito cada palavra estava escrita com cores diferente e de fonte manuscrita. — Coisa de marqueteiro metido a poeta frustrado me parece! Qual é o teu nome afinal de contas?
  — Podes em chamar de Cris...
  — Já sei: — Sua criada, pronta para te servir!
  — Mais ou menos isso, começa a falar logo que te trouxe o meu humilde comércio?
  — Quero fazer uma tatuagem de dragão no meu braço e por um piercing na orelha!              


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