sábado, 1 de abril de 2017

FLORES NA ESPLANADA

Por Paccelli José Maracci Zahler


ADEUS BRA$ILIA... (21 DE ABRIL DE 2009)

Por Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)

Vamos preservar Brasília
Parar de e$pecular
B$B Imobiliária
Sem horizonte no ar
O Cerrado que se foi
Haja ap para alugar

JK geme no túmulo
Na Brasília Capital
O crime a fazer escola
No Distrito Federal
O povo vive na esmola
Passa fome cultural

Lúcio Costa nos deu asas
Para Brasília avoar
As asas foram cortadas
Tanto carro a trafegar
Cidade fora dos Eixos
Só tesoura a nos cortar

Niemeyer nos subterrâneons
Pelos túneis da cidade
Falta estacionamento
Sobra criminalidade
Urbi automobalística
Perdeu a mobilidade

Para que tanto edifício?!
Pra tudo dificultar
Tem carro pra todo lado
Já não dá pra pedalar
Morrem flores e nascentes
Com a poluição do ar

O luxo que gera o lixo
Morte na Estrutural
O verde some do mapa
Sem Eixo Monumental
O tronco parali$ado
E a cabeça maquinal

Filas duplas, buzinaços
A morte do urbanismo
Desemprego, amargura
O velho clientelismo
Corrupção lá nas nuvens
Prolifera-se o cini$mo

Haja tapinhas nas costas
Nhem nhem nhem e blablabá
Foi-se embora a siriema
Adeus ao lobo guará
As cobras se multiplicam
Nas margens do Paranoá



FLORES NA ESPLANADA 2

Por Paccelli José Maracci Zahler




WINDMILLS

By Arjun Singh Bhati (Jaisalmer, India)

One morning I was sitting in one of my classrooms. A
student came to me from the roadside. The boy was very
excited and in a great hurry to give the news to me and all
the students.
“Big fan,” he cried with surprise. The students looked
at him. He was pointing toward the road and crying, “big
fan” again and again. We all came out of the classroom and
looked toward the road, which was about half a kilometer
from the school building. To our surprise there were some
big trucks on the road, carrying some unusual things, very
big white fans; such fans we had never seen before. We
rushed to the road. The boys were very eager to touch the
big giants. We were all seeing these big machines for the
first time, and within half an hour, several villagers came
to see them. It was like a local fair. Then, after just an hour,
the trucks departed from our village.
Now all the villagers and my students had a new
subject to talk about. I heard lots of interesting stories
about these windmills. After some months some windmills
were installed on a small hill about five kilometers from
our village. I had an idea that it was for electricity. Soon
it became clear that hundreds of windmills were being
installed to generate electricity. There are no big factories
and industries in Jaisalmer. This was the first big project in
the area, and it gave a lot of employment to the local people.
It happened about seven years previously, but some of
the stories I heard from my innocent students and villagers
are still in my memory.
I explained in the class that these “fans” were here to
generate electricity through the wind. But a student in class
seven told me another story. “It is very hot here, and the
government is installing these fans for cool wind.” Another
said, “We suffer from malaria every year, and these fans
would produce a particular type of sound. And the sound
keeps the mosquitoes away from us.”
But the most surprising story was told by one of my
girl students in class six. The girl told the class that her
grandfather said, “It is not raining here because these
windmills scatter the clouds, and as a result we face
drought.”
Although it seemed quite ridiculous, I could understand
the different opinions and views of uneducated and
innocent villagers. Well, finally, I took all my students to
the project site, and an engineer explained the working
system of the windmills to us. It was a really interesting and
useful lesson for all of the students.

MUDA

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Minha boca muda
conversas inúteis
  
mudo 
em calado espectro
dos dias cheios

mudo

no olhar súplice
de novos assuntos

mudo

perdido mundo
do que me dizem


sobre outros dos demais
que nem conheço: desconheço
pelo que dizem


muda minha boca permanece

no dia passado em música.

MUTE

By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

 (Marina Du Bois, English Version)

My mute mouth
useless conversations

mute
in silent spectrum
of full days
mute
in supplication looking
at new subjects
mute
lost world
of what they tell me

about others
I do not even know: I do not know
why they are saying

mute my mouth remains

on the day spent in music.

HORDAS

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Hordas
poeira sobre os olhos
no caminho invadido

a morte na sombra


hordas invadem
nossa ignorância
ao pecar o não saber


a morte no escuro pó
em que se transforma o dia
  

hordas de invasores
exigem sabermos as razões

no significado das nossas mortes.

HORDES

By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

(Marina Du Bois, English version)

Hordes
dust on eyes
through the invaded path

death in the shade

hordes invade
our ignorance
by sinning and not knowing

death in the dark powder
in which the day becomes

horders of invaders
demand to know the reasons

in the meaning of our deaths.

MÚSICA E PALAVRA

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)


A música atravessou milênios 
sacralizada no tom repetido
como interlúdio
intermezzo
interrogação
sobre as palavras


plurais palavras se repartiram
na repetição do foi nominado 

a música altera o sentimento
do que é dito


foge do padrão inicial
ao multiplicar os sons da natureza
nos sons criados pelo homem


palavras e músicas caladas
são amores descobertos

no beijo na boca.

MUSIC AND WORD

By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

(Marina Du Bois, English Version)

Music crossed millennia
sacralized in the repeated tone
as interlude
intermezzo
interrogation
on the words

plural words were divided
in the repetition of a nominated was

music changes the feeling
of what is said

flees from initial pattern
by multiplying the sounds of natureza
in the sounds created by man

silent words an songs
are discovered loves

in the mouth kissing.

SEM AMARRAS

Por Clarisse da Costa  (Biguaçu, SC)

Em noite tranquila
sobre a brisa do vento
do meu ventilador,
entre o silêncio
e o som da televisão
revira meus olhos
a te caçar.
***
O meu olhar te ama
quando te busca
e de encontro ao seu
ama muito mais.
***
As minhas mãos
em cada linha que escreve
transcreve
o grande amor;
Puro, lúcido
e sem amarras.
***
Amor, simplesmente
pelo ser bom
que eleva o meu espírito!

EXCELSA LUNA

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
                                                                                                  Para negra Valquíria

Nessas negras linhas!
Subjaz a minha sagrada devoção!
A ti...
Minha deidade imortal
Que invade os meus sonhos
***
Morre aqui!
E não ganhará à luz do dia...
Ficara preso junto a mim!
E perdido em páginas em branco
***
Mas vez ou outra...
Voa em desesperado,
Pela fria noite outonal!
Ganha o céu...
Para perdesse na infinitude do cosmo!
Vai se exilar junto aos astros.
Perdido nas imensidões siderais sem fim.
***
Nestas negras linhas...
Subjaz o meu pranto!
Onde pratico o meu choro...
A minha sina!
Sofro a minha negra dor...
Sem fim!
A minha profana arte
Sangro por fim
Sofro por ti
***
Dou-te...
Toda a minha sagrada devoção!
Meu amor puro...
E nada mais!

NÃO! EU NÃO QUERO MAIS SER NEGRO

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
  
Cansei de ser negro
De ser parado pela polícia
Ser confundido com um bandido qualquer
De ter relações promíscuas com os políticos
Sendo sempre massa de manobra
Na mão de algum abnegado...
Não! Eu não quero mais ser negro
Ser minoria nas universidades
Ser tachado de preguiçoso...
Ser o primeiro de lista dos desempregados
Não quero ficar para trás
De tudo
De todos
Das oportunidades
De um futuro melhor
Não quero mais ser negro
Ser excluído de todas as formas
De todas a maneiras
Definitivamente estou casando de celebrar
Meus ritos escondidos
Dos olhos da sociedade
Não quero mais ser negro
E ter a responsabilidade de ser:
No melhor no futebol
Ser bom no pagode
Não...
Não quero mais ter um passado
negro
Que cheira a escravidão
Que cheira a dor
Quero renunciar ao meu futuro
De dor
Não quero mais ser negro
Chega de sofrer
O banzo pós-moderno

QUANTOS MISTÉRIOS CABEM NO NEGRO OLHAR TEU

Por Samuel da Costa (Itajaí,SC) 

Para Vanessa Martins DA Maia
Quantos mistérios...
Cabem no magnânimo...
No negro olhar teu?
O que tu escondes?
No cair da negra noite!
E todos foram dormir tranquilamente.
***
Amanheceu um novo dia
É hora de ganhar as ruas
Experimentar a luz do dia
Minha querida divinal musa
***
Mas quantos mistérios...
Podem caber...
No negro olhar teu?
Por quantos tortuosos caminhos...
Percorresses até chegar até aqui?
***
Quantos mistérios podem caber...
Nos magnânimos olhos teus?

CLARISSE CRISTAL E O MERGULHO NA ESCURIDÃO

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Talvez não seja um sonho.
Enfim...
E ela esteja lá... 
Na alcova minha
À meia luz!
Esperando por mim...
Enquanto na vitrola... 
Toca o mais puro lamento negro,
A mais cristalina negra dor.
‘’Nunca me interessei por revisitar cenários’’  Disse Clarisse para si mesma, mas com vontade de gritar bem alto para todo mundo ouvir. Pois o elementos, que ela podia lembrar, estavam todos lá disposto diante dela. O balcão de mármore carrara, o bar com vários tipos de bebidas e copos de vários estilos, marcas e preços, as cadeiras espreguiçadeiras de praia gêmeas as famosas outdoor dubbele chaise lounge, a mureta com o peitoril e grande fabrica em detalhes artesanais, mesas e cadeiras distribuídas simetricamente e uma pequena piscina e a bela vista para o mar. Uma olhada rápida e Clarisse notou um grande retrato em preto e branco, com a assinatura de fotografo famoso, era o professor Muteia muito bem vestido, como de costume, mas de maneira casual ladeado de uma jovem e bonita mulher elegantemente vestida, também de maneira casual. Ele sentado em uma poltrona e ela em pé e com as mãos em volta do pescoço do africano em terno carinho: — Então esta é Agnela e esposa de Muteia — Pensou Clarisse em um lampejo
 Belo local de trabalho professor Mutéia!
 É Muteia sem acento, há um hiato no meu nome e na minha vida. Podes de me chamar pelo meu prenome Adérito. Vamos sentar logo e começar a entrevista, pois não tenho muito tempo menina/mulher.
Foram andando lentamente em direção de uma mesa a poucos metros da pequena mureta de frente para o mar. O africano afastou uma cadeira de forma cavalheiresca, Adérito ocupou uma cadeira em frente de Clarisse e em um estalar de dedos um garçom apareceu para atende-los. Clarisse deu uma olhada melhor no homem e viu que era mais que um garçom era um mordomo que os servia.
 Secretário me traga uma chávena de chá e os meus charutos, o que queres minha querida Clarisse?
 O chá para mim esta bom e dispenso os charutos!
 Sim senhor! Vou trazer duas chávena de chá e os charutos!
O homem desapareceu tão rápido como surgiu e por fim os dois estavam em um lugar reservado e sozinhos. Clarisse tinha mil perguntas para fazer e ao mesmo tempo queria fugir do óbvio, pois ali quem estava diante dela uma pessoa qualquer.
 Então como é o nome do veículo que trabalhas?
 Revista Astro-domo, de literatura, estética e arte em geral!
 Interessante, já a conheço e bem moderna, pois estão em todas nas plataformas digitais pelo que sei.
 Então o senhor conhece a nossa pequena revista?
 Ligo o gravador miúda e vamos logo começar a trabalhar!
A pressa do africano fez um alarme disparar em Clarisse, pessoas como a formação dele não tendem a ter muita pressa quando estão trabalhando. Adérito era forjado em parte pela velha escola europeia. Esperam por um tempo sem saber o motivo, e entreolharam com profundidade, o clima só foi quebrado com a volta do secretário. Ele voltou com uma bandeja de prata coberta por um delicado pano de linho, os serviu de forma solene e sem nada dizer e se retirou também de forma solene. Clarisse achou tudo muito exagerado e por demais refinado para uma simples entrevista.
 Então professor quer estabelecer alguns limites para a entrevista?
 Creio que não, minha cara só fico contente de poder ser entrevistado por alguém mais próximo que eu. Quase não se vê muitos negros na literatura aqui e é primeira vez que dou entrevista para outra pessoa da minha raça neste belo país.
 Então que é ser escritor para o senhor? — Clarisse usou uma clichê logo de entrada.
 Não posso falar e literatura e arte em geral hoje sem olhar para o passo para compreender o presente. Se no passado não muito distante de nós escritores escreviam usando a pena e era iluminados pelo luz de velas e candeeiros e tendo a geração seguinte a máquina de escrever e a luz elétrica e a máquina a vapor dando um ritmo mais acelerado para a nova sociedade menos agrária em mais urbana. Isso se reflete na escrita e nas arte em geral, pois a velocidade de hoje, com a escrita digital, acelerou muito mais a escrita mecanizada. Mas estou sendo muito enfadonho minha cara!
 Não professor! — Ela queria dizer sim.
 E escrever é transcender infinito, é fugir do óbvio e não conhecer limites! Respondo minha cara o que é realidade? No mundo de hoje a realidade é o que a gente quer que ela seja! — Clarisse ouve ao longe o ranger de uma porta se abrindo — E antecipando a tua segunda pergunta eu navego ou melhor flutuo na escola simbolista e surrealista. Trafego livremente por estas duas escolas, mesmo que esteja fora de moda falar em escolas nos dias atuais. E te digo que para o padrão de hoje são as escolas que mais poderia representar a pós-modernismo! — Clarisse ouve passos, eram o barulho típico de salto alto batendo no chão frio e duro do terraço. — Se a pouco me perguntasse sobre Agnes. Então te digo que ela é fruto da minha imaginação, uma filha querida na verdade na minha imaginação. — Uma sombra surge por detrás de Clarisse e se agiganta — Ela como outros personagens vem e vão ao sabor do vento e da ocasião... — A mulher passa ao lado de Clarisse e a jovem entrevistadora e reconhece é a mesma mulher que outrora estivera com Adérito Muteia na livraria — E é assim que o meu mundo literária surge minha querida, aos pedaços, nevoentos, nebulosos — Ela sussurra no ouvido de Muteia e ele sorri — São personagens rebeldes por natureza minha querida — A mulher se afasta sobe na mureta olha para Clarisse e sorri e mergulha. Clarisse atônita corre até a mureta e olha para baixo, ela estava em prantos, olha para baixo e muitos andares a baixo e vê o próprio corpo estatelado do chão. Clarisse recua em choque e olha de novo, os muitos andares sumiram e ela não vê mais nada. E sem nada entender voltou o sei olhar para Adérito Muteia que estava estático no mesmo lugar — Então é isso miúda, em tempos de realidade liquefeita nada é de verdade e vivemos em um mundo de mentiras, fugaz! — Ela estava de volta sentada de frente ao professor, tinha a cabeça pesada, Clarisse não sabe o que pensar e dizer naquela hora.










CLARISSE CRISTAL IN MEMENTO MORI

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Abra as janelas!
E puxe as cortinas.
Deixa o Sol entrar... O astro rei...
Chega de viver na escuridão...
Pois quero viver ao teu lado!
Da me a tua delicada mão!
Vamos juntos abrir as janelas...
Deixar a vida entrar!
Vamos juntos viver a vida...
Deixar a vida entrar

Clarisse olhou perdidamente para a rua, a poucos metros dela, já não estava mais na monotonia claustrofóbica da livraria no centro comercial da cidade e sim sentada confortavelmente no deck de um Café ivory tower, na movimentada via beira mar. Ela olhou para o relógio digital no pulso, não disfarçando a impaciência. Contemplou, extasiada o oceano revolto, não muito longe dela, sentiu o vento morno que soprava e o cheiro de gotículas de água salgada, como se fosse a primeira na vida que experimentara tais sensações. Olhou perdidamente para os pedestres que passavam, com seus típicos trajes de praia, a ciclovia lotada naquela manhã ensolarada de início de verão. Casais idosos levando seus cachorros pequenos para passear, carros que passavam na rua de mão única, todos se movimentando sem muita presa. Uma senhora muito idosa e vestida de forma extravagante, que descia a rua chamou a atenção de Clarisse. Então Clarisse voltou para si mesma, em mais uma profunda digressão, levou lentamente a braço à frente, o membro escapou do abrigo seguro do guarda sol e ela sentiu o calor emanado pelo astro rei, como se fosse pela primeira vez na vida que experimentava tal sensação. Sem as pesadas vestes negras, o rosto despido da maquiagem pesado e usando roupas da estação, ela tentou em vã lembrar-se da outra vida que tinha no subterrâneo, antes daquela que estava começando a viver. Ela não quis divagar muito consigo mesma, sobre como as coisas tinham se dado, só pensou nas muitas idas e vindas do literato luso-africano vestido de forma elegante, na livraria e nas cinzas das horas. Clarisse perdeu a noção de quanto tempo àquela dança e contradança entre ambos tinham começado. Ela de um lado enclausurada, na torre de marfim, no setor de análises e reparos de livros raros na livraria, na própria literatura e o literato luso-africano do outro lado. Ela tinha atendido os pedidos dele, sem ela saber, tanto de restauros bem como pedidos de livros raros e caros, os pedidos chegam sem origem, simplesmente chegavam na mesa dela vindos diretamente da gerência da livraria. E pois o redescobrir como ensaísta, contista, poeta e crítico de arte, protegido por pseudônimos e heterônimos espraiado em jornais e revistas e opúsculos. A cada linha, a cada construção frasal, a cada construção lógica lá estava ele, Clarisse descobriu o africano assim sem o querer. E mais um olhada rápida no relógio e aquele pensamento angustiante veio bem forte: — Ele não vem? Será que virá?
— Demorei em demasiado senhorita Clarisse Cristal! — Soprou Muteia de forma delicada no ouvido da moça e prosseguiu enquanto se sentava a mesa junto dela — Gente velha perde a noção de tempo bem fácil!
— És um homem fascinante mesmo professor Muteia! E Agnes? Ela não veio?
— Mas quem são as outras pessoas? São simplesmente nada mais que além de nanopartículas etéreas, alheias a nós mesmos, gravitando cegamente e perdidamente, nas nossas subsistências, pós-modernas, liquefeitas e vazias.
— Resposta interessante professor, mas vago e abstrato em demasiado.
— É que eu não me acostumo, em responder sempre a mesma pergunta, esta foi original no mínimo. Ela não existe minha querida, é um personagem fictício, fruto de uma mente inquieta e imaginativa e nada mais para além disto. Podes ligar o gravador e vamos começar a entrevista se quiseres!
— Sim! Vamos começar a entrevista... — A jovem levou a mão até a bolsa, que estava postada na confortável cadeira ao lado dela, mas parou de repente, alguma coisa estava errado, muito errado. Tudo funcionado muito bem até ali, bem até demais. Ela devolveu o pequeno objeto eletrônico na bolsa e olhou bem nos olhos do mistério encarnado diante dela. Clarisse olhou seriamente para literato luso-africano, ele devolveu o olhar de volta, sorriu para a jovem e então estavam se entenderam mais claramente por fim. Clarisse não era uma pessoa qualquer e não seria conduzida facilmente. Foi o que o professor deduziu naquela hora extrema.
— Vamos para um lugar mais reservado minha cara...
— Logo imaginai! Aqui não um lugar adequando para a nossa entrevista afinal de contas!
— Claro jovem senhorita! — Muteia olhou para dentro de Café ivory tower como quem procura algo, ou melhor, alguém e não encontrava — Vamos saborear uma chávena de chá, em um lugar mais tranquilo.
Muteia erguesse e convidou Clarisse a fazer o mesmo, mas antes uma velha senhora cigana entre no deck do Café ivory tower de forma intempestiva. O escritor africano foi tomado de um profundo mal-estar, ao olhar para a velha senhora a poucos metros dele, já não sabia se estava sonhando ou se estava acordado. Nessa hora, ele desejou estar armado, Muteia estava em alerta total.
— Flores para a mais bela dama do vilarejo! É com a graça dos deuses imortais minha jovenzinha! — Falou em romani a velha senhora decadente, levou a mão a um cesto de vime que levava nas mãos e a ergueu de súbito com uma agilidade de uma jovem e ofereceu uma rosa para Clarisse que não entendeu nada do que ela dizia. Clarisse de imediato reconheceu a rara haifa, a negra rosa na mão da romani.
— Nada é de graça, nesta vida minha senhora, muito menos na outra! — Muteia falou também e romani e levou a mão até a algibeira no casaco e tirou uma nota alta e repassou para a velha senhora cigana e ela recebeu com a outra mão enrugada e um alvíssimo sorriso nos lábios.
Clarisse ficou atônita com o desenrolar, do que acontecia e pensou logo se era uma peça de teatro encenada por ambos. Mas, alguma coisa dentro dela gritava, e gritava bem alto, que não era. Alguma coisa de muito grava circundava aquele homem alto, altivo e negro a poucos centímetros dela. Clarisse revolveu pegar a rosa negra por fim e a elevou para poder sentir o olor da peça rara. Muteia pegou na mão dela, impedindo que a moça pudesse completar o ato, fez isso de forma busca. A velha senhora cigana deu as costas e partiu rapidamente, contradizendo a idade que tinha.
— Não sabia que falava a língua dos ciganos! És versado em linguística por acaso?
— Olha rapariga! Vamos sair daqui de vez e deixa esta rosa ai mesmo, na mesa e deixe que o destino encarregue de escolher o caminho para ela!
— Mas deixar uma raridade deste tipo aqui? Alias como uma raridade deste tipo...
A resposta foi com um olhar duro, a faceta do um militar que dá uma ordem para um subordinado e é contrariado apareceu. E Muteia apontou para dentro de Café ivory tower de forma elegante e sorridente.
O ambiente do Café ivory tower era praieiro, típico de uma cidade de veraneio, um clima alegre e festivo, palmeiras e aves litorâneas pintadas nas paredes, cadeiras de madeira e de palha contrastava com as mesas com tampas de vidro e pés de metal cromado. Clarisse não viu nenhum funcionário, mas escutou risadas femininas que viam da cozinha. E um figura andrógena desponta por detrás do balcão de mármore, chamou a atenção de Clarisse. Ela se esforçou-se para compreender a cena, uma figura andrógena, um bartender típico de um bar alternativo, fazendo chacoalhar uma coqueteleira para cima e para baixo de forma cadenciada. A figura parou de chacoalhar a coqueteleira e olhou para Clarisse, um sorriso macabro brotou da criatura noturna fez a cabeça da jovem doer.
— Para onde me levas afinal professor?
— Para um lugar propício rapariga, o meu local de trabalho favorito. Mas quando Posidom assim permite e manda fazer sol e calor é claro.
Atravessaram o Café ivory tower que estava, estranhamente, vazio aquela hora da manhã de sol e calor. Ao chegar nos fundos do estabelecimento, Clarisse e encanta com uma belo jardim tropical. Um pequeno lago, ornado com um passarela de madeira, carpas japonesas, um casal de cisnes negros dançavam nas águas límpidas e cristalinas, grandes vasos de pedras vulcânicas abrigavam várias espécie de bromélias. E em um dos pequenos lagos formada em uma das plantas, um sapo macaco esperava faminto algum desavisado inseto aparecer, para lhe matar a fome. Clarisse em um instante de devaneio idílico procurou em vão uma haifa, ali naquele pequeno Éden encantado, só viu um colibri batendo asas, estava indo se abrigar em um ninho. Era ali naquele coreto depois no fim da ponte que sobrevoava o lago que o literato africano trabalhava era o que Clarisse ponderou.
— Por aqui, vamos subir estas escadas minha jovem! — Muteia apontou para uma escada que ladeava o prédio. Mais uma vez Clarisse ficou desnorteada com a cena, uma escada em caracol, e ela começou a ligar os pontos, eram descrições dos ambientes que ela leu na prosa e nos versos de Muteia.
— O que há miúda? Sente-se bem?
— Um pouco tonta só isso, mas já passa…
— Não deverias ter tocado naquela cangalha ora gaita!
— Vamos subir de uma vez e vamos trabalhar logo.
A subida foi bem rápida e o latejar na cabeça de Clarisse sumiu como por encanto ao chegar no terraço.



PRINCESA NEGRA

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

Espelho, espelho meu... Não vou perguntar quem é a mais bonita que eu, afinal até ontem eu era o patinho feio e eu já saí dessa posição que me colocaram faz tempo. Vou apenas dizer-lhe que essa vida é uma caixinha de surpresas. A Princesa Rapunzel, a mais linda, do mundo real chamado planeta terra disse que sou uma princesa. Uma princesa negra? – fiquei pensando. E por que não? Afinal, quem disse que Jesus é branco? Espelho eu demorei um tempão para me ver com outros olhos, hoje sei que sou aquilo que sou e não o fruto da criação dos outros. O meu cabelo duro da época em que eu apenas queria brincar têm cachos que balançam e uma linda história de luta para contar. Vi-me em você e encontrei beleza. Não falo do físico e sim de algo que vem da alma. Uma beleza interior que não se desenha simplesmente se vê com o coração. Dizem que sou incrível, pois bem, quem sou eu pra discordar? Afinal não existe mais o patinho feio! E a estrada dos vencedores é logo ali. É só seguir e seguir. Desistir tem alto preço. Confesso que já pensei em desistir várias vezes, olho pra mim e pergunto se vale a pena. Mas isso faz parte de mim. Digamos que escrever é metade da minha personalidade. Ouvi um amigo me dizer que sou dez. O que quer dizer com isso? Quando tirei uma nota dez na vida que eu não estou sabendo? Eu passei? Cadê o diploma? Sei, sei bem espelho. Não existe diploma na escola da vida. Só estou brincando. Rir um pouco tornam as coisas mais leves. De amargo já basta o limão. Não quero esse cálice. E que cale se o maldito conservadorismo! É meu dever ser feliz. Curtir cada momento como um novo rabisco. Claro que a vida não é uma folha de papel ou algo descartável, mas podemos fazer novos jeitos, sempre recomeçar… Uma reviravolta nos momentos atuais muda a trajetória das coisas. Mudar espelho. Você me reflete e pouco do que hoje sou eu vejo. Normal até, quando vivemos presas no nosso mundo e rapidamente saímos da casca custamos ver as mudanças. Somente quem está de fora para nos dizer. E vem os carinhas a me perguntarem: - Como uma gata como você pode está sozinha? O engraçado espelho querido, é que quando eu acreditava fielmente no amor não era notada por nenhum homem. São os novos tempos? E eu perdi essência do amor, deixei de acreditar no amor e com isso parei de escrever sobre ele. Acho que tenho que resgatar isso. Um pouco desse cálice não mata e nem dói tanto assim. Acho que fui dramática com as minhas dores. Eu devo ter um defeito... Claro, sou romântica demais. Não sei se eu esperava o príncipe encantado até mesmo porque príncipes não existem e este não é ‘’O Diário de Uma Princesa’’, nem eu sou a autora Meg Cabot. Na verdade é apenas uma tentativa de escrever o texto com a temática em volta do cálice para um Jornal de Itajaí, Santa Catarina. E pra ser franca deu o que seria um relato, ou, monólogo sobre mim. Cruz e Sousa, diria que é mais um diálogo comigo mesmo. Maluquice de poeta! Na sua percepção nós poetas somos loucos. Então... Viva os loucos. Não há nada melhor espelho que seguir com a minha loucura. Afinal isso é a minha felicidade.



PRINCESA NEGRA (2)

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)


Espelho eu fui recriada e não sabia. Eu fui recriada de tal forma que Clarisse parece um ser surreal. Não imaginei que fosse tão difícil ser Clarisse da Costa.A minha rebeldia diz: ‘’quero colo vou fugir de casa’’... Fugir? Como? Não adiantaria. Até mesmo porque onde formos à realidade vai junto conosco. E que princesa é essa que eu sou? A minha coroa é a caneta e o meu manto é o papel. Será que sou o fruto da mente alheia?
- Querida, os guerreiros se perguntaram várias vezes o que faziam ali guerreando. Muitos não sabiam o objetivo da guerra e nem porque tinham matado aquela pessoa lá do outro lado. A única certeza que tinham era de seguirem em frente. O ser humano é complicado. A vida não vem com o manual de instruções. Nós que as complicamos. E ser mulher nos dias atuais não é nada fácil.
-A mulher é alvo de críticas sempre, não dá pra correr disso. É permanecer firme. Faz parte do crescimento humano. Você agora vive uma nova fase, é uma nova mulher. E essa nova pessoa eles desconhecem e geralmente o povo tem pavor de novidades. Mudanças nem sempre são bem vindas. Em sociedades tradicionais é ainda mais acentuado. Eles estão com medo da nova Clarisse.
-Mas não deixe o barco parado por causa dessas pessoas. Princesa, ou não, só é um guerreiro que não para de lutar. Então espelho... Por um momento pensei que estava fazendo algo errado. Como se eu fosse o pecador e o povo do meu bairro Pilatos, me condenando.
- Querida somos todos errantes e o povo do poder cai em cima dos pequenos. São alguns os que chamamos de falsos puritanos. A sua luz ofusca o povo da sua cidade. De repente o pássaro ganhou asas e se destacou. Você cresceu mais que a cidade e é natural a rejeição. A solução é seguir adiante sem olhar para trás.
Tudo bem... Aliás, pedras são para serem chutadas mesmo. E o caminho é aquele que te faz feliz.


TODA MULHER É SAFIRA

Por Clarisse da Costa (Biguaçu,SC)

No fundo toda mulher é a Safira Naal e Aluarki o homem mais esperado. Personagens de um cenário bem real, a África. Mas fora do cenário literário uma busca incansável pelo o amor. Safira batalha todos os dias pelo seu sustento. Em sua vida calos nos pés, fracassos, alegrias, derrotas, vitórias, tristezas... Um caminho árduo.
Uma luta interminável sem deixar de ser a princesa do mundo. Aluarki é apenas mais um detalhe complementar na sua vida. Digamos que um príncipe, que sabemos bem que não existe, mas aquele homem de verdade que faz toda diferença na vida de cada mulher Safira.
Safira é a representação da mulher guerreira atual na sua guerrilha diária do seu cotidiano cosmopolita. Uma guerrilha negra em tempo real, sem o acelerar dos minutos contados no relógio.


O MOVIMENTO HIPPIE PASSOU PELA MINHA COZINHA

 Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)

Às vezes, pessoas jovens com quem convivo me perguntam se eu fui hippie. Eu fico me questionando: fui? Não fui? Bem, eu não botei a mochila nas costas e fui para as estradas, como os hippies faziam, nem sentei em praças a fazer artesanato, nem vivi em fazendas comunitárias - na verdade, em todo o tempo em que as coisas estavam acontecendo, eu continuei a levar uma vida de pequena burguesa, em Blumenau, primeiro estudando, depois trabalhando e estudando, e sei que o meu pai jamais deixaria que eu botasse a mochila nas costas e saísse pelo mundo.
Por outro lado, eu estava ligadíssima em tudo o que acontecia: era adolescente quando chegaram as primeiras notícias sobre o movimento hippie, e quase fiquei adulta antes que ele terminasse. Minhas antenas estavam todas voltadas para aqueles jovens que estavam botando em xeque todos os valores pré-estabelecidos, que estavam derrubando tabus e preconceitos, e tudo o que eu queria na vida era ser como eles. Na verdade, absorvi ao máximo a filosofia hippie, e quando me perguntam se fui hippie ou não, acabo pensando cá comigo : "De uma certa forma, eu sou hippie até hoje!"
Daí, um dia, logo depois de 1970, o movimento hippie chegou em Blumenau. Os hippies tinham rotas pré-estabelecidas: do Rio desciam para a Ilha do Mel/PR, e de lá a Florianópolis, e de lá enveredavam para o Rio Grande do Sul e a Argentina, e depois iam conhecer mais coisas na América do Sul, e acabavam voltando ao Brasil via Bolívia. Em algum momento, no começo da década de setenta, eles colocaram Blumenau nessa rota, e foi lindo!
Eles chegavam sem pressa a Blumenau, e hospedavam-se num hotelzinho da Rua Ângelo Dias chamado Hotel Braz, e passavam os dias na escadaria da Igreja Matriz, fazendo os mais diferentes tipos de artesanato, e tocando violão, e compondo poemas, e filosofando e se curtindo, e eu daria um braço para poder ficar lá com eles - só que, pequena burguesa que era, tinha que ir trabalhar.
Nos finais de tarde, porém, parava diante da escadaria da Igreja, e ficava de papo com eles. Surgiram amizades daí, e os hippies começaram a ir lá em casa jantar. Meus pais tinham se mudado para a praia, e eu e minha irmã Margaret morávamos num "apertamento" na Rua XV de Novembro 1398, a principal de Blumenau. Com certeza, se morássemos, ainda, com nossos pais, as coisas teriam sido diferentes - mas em pleno movimento hippie blumenauense, Margaret e eu estávamos morando sozinhas - uma maravilha!
Nosso "apertamento" virou ponto de jantar de muitos hippies - porque eles estavam sempre indo ou chegando de algum outro lugar, e as amizades não duravam muito tempo.  Estávamos, naquele tempo, num período de baixíssima inflação, e tínhamos bons salários, o que resultava em esmerados jantares feitos de camarão e outras coisas boas.
Nossos amigos andavam sempre meio esfomeados, e era um prazer cozinhar para eles. Nós entrávamos com a comida, e eles entravam com as histórias, e quantas histórias tinham para contar! A maioria deles tinha viajado muito, e contavam para nós as coisas do Brasil e da América, e alguns tinham viajado inclusive pela Europa, e era um nunca acabar de contar coisas. Discutíamos música e coisas filosóficas, falávamos mal da guerra do Vietnã e dos preconceitos da sociedade - eram noites estimulantíssimas!
Naquele tempo, porém, se dormia cedo. Meia noite era uma hora tardia, e era por essa hora que eu anunciava :
- Gente, hora de dormir! - e nossos amigos se despediam e iam escada abaixo, mas quantas coisas e quantas experiências nos deixavam! Quantas coisas, na minha vida de hoje, ainda são influenciadas por aqueles papos e por aquele tempo! Eram doces amigos que foram educados e gentis, sequer alguma vez acenderam um baseado na nossa cozinha. E como os mais velhos falavam mal deles! Acho que fui uma felizarda pelo contacto com eles. E afirmo, hoje, com orgulho, que o movimento hippie passou pela minha cozinha!
Blumenau, SC, 02 de Abril de 1998.


O HOMEM DE CIUDAD BOLÍVAR

Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC).

Amanhã, dia 06.03.2016, faz 04 anos que ele partiu. Minha modesta imagem, abaixo, àquele que representava, para mim, a Esperança.

(Para o homem da rodoviária de Ciudad Bolívar e para Hugo Chávez Frías)

                                       Mais ou menos dez da noite, e eu chegara à Ciudad Bolívar, interior da Venezuela, cansada, com fome e muitíssimo curiosa para saber o que pensavam as gentes de uma cidade de 100.000 habitantes, depois de uma semana ouvindo as gentes de Caracas, cidade grande.
                                   Sentei-me à mesa de plástico de um vendedor de sanduíches e pedi algo para comer. Os venezuelanos são muito simpáticos, e logo eu estava em animada conversa com aquele vendedor de sanduíches.
                                   - Primeiro, eu nunca tinha votado – explicou-me ele. Há que se lembrar que na Venezuela o voto não é obrigatório. Meu novo amigo apontou-me uma praça próxima:
- Agora, não perco uma eleição. Agora todos votam. Está vendo aquela praça ali? Há tanta gente que vota que aquela praça fica tomada por uma fila que vai de lá até aqui, ó! – continuou, mostrando o tamanho considerável da fila que revia na sua imaginação, e que enfrentava a cada vez que havia eleições e referendos.                         
Era verdadeiramente impressionante o tamanho da fila que meu novo amigo me contava, como era impressionante no seu olhar, no seu rosto e na sua postura, o orgulho de se saber e se sentir cidadão, após a miserabilidade de uma vida que eu diria de escravidão, já que nos mais de sessenta anos anteriores só eram cidadãos e quase que só votavam os milionários donos do petróleo – pelo menos eram eles quem davam todas as cartas e aplicavam todo o dinheiro gerado pelo subsolo venezuelano nas suas fortunas de Miami e tinham abandonado seu povo à própria sorte, como eu já pudera ver sobejamente na Caracas rodeada de cerros onde até pouco campeava a mais absoluta miséria e abandono.
- E o Comandante? – fiz uma pergunta que poderia ser tudo ou nada.
O rosto do homem se abriu num largo sorriso de prazer, como também se abriam os rostos das gentes de Caracas.
- Ah! Nós amamos o Comandante! Não havia nenhuma esperança nas nossas vidas antes do Comandante. Agora passamos a ser gente livre, agora podemos decidir nosso futuro! – e o meu amigo passou a contar das diferenças na sua vida, de como voltara a estudar, de como agora ele e sua família tinham acesso a médico a qualquer momento, de como os remédios eram gratuitos, de como a comida era subsidiada pelo dinheiro do petróleo que agora não vazava mais todo para Miami , de como até pudera abrir seu pequeno negócio de sanduíches.
- Antes a gente não podia nada, além de ser pobre e sofrer. Se não fosse o Comandante, o que seria de nós?
Isto foi em janeiro de 2006, e como hoje é 06 de março de 2013, lá já se foram sete anos. Eu sei que aquele homem de Ciudad Bolívar deve estar chorando, e queria estar lá para dar um abraço nele, porque também estou chorando aqui. Chávez se foi ontem, mas nunca mais deixará de estar conosco. Luminosa estrela no meu céu, eu lhe digo:
- Até a vitória sempre, Comandante! – e de novo choro, pois o mundo já não é igual desde ontem, quando te foste tão prematuramente. O que me consola são todas as sementes que plantaste, tantas que a gente ainda nem sabe avaliar como germinarão por todos os lados.  Há que chorar, no entanto, porque o coração dói.

           
            Blumenau,SC, 06.03.2013


A MULHER DE CARACAS

Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)

(Fez 4 anos, neste mês, que ele partiu. Minha humilde homenagem.)                
            (Para Hugo Chávez Frías)
                                   Éramos um pouco mais de 20 brasileiros daqui de Santa Catarina em Caracas. Fôramos por causa do Fórum Social Mundial, mas do Fórum eu só vi uma palestra – deixei-me ficar pelas ruas, conversando e conversando pelos dias inteiros, conversando com quem quisesse conversar comigo, ricos e pobres, muito mais pobres do que ricos, claro, porque sempre há uns pouquinhos ricos para cada multidão de pobres, e como havia pobres em Caracas! Logo ficava claro como as coisas funcionavam por lá: os ricos ODIAVAM (assim com maiúsculas) ao Presidente Hugo Chávez, que tirara das suas mãos a grande riqueza do petróleo, enquanto os pobres AMAVAM (assim com maiúsculas e negrito ao cubo) ao mesmo presidente, por estar canalizando para eles a mesmíssima riqueza do petróleo que lhes fora usurpada por mais de 60 anos.
                                   Chávez era um reformador, um revolucionário, um corajoso por quem aquela gente daquele país sem classe média (só consegui ver duas classes, na Venezuela: a dos milionários e a dos miseráveis) só conseguia ter sentimentos extremos. Dentre outras coisas, fizera coisas assim: ricos proprietários estavam há décadas sem pagar impostos de grandes edifícios? Sem problemas, Chávez nacionalizava os mesmos e os entregava para que os moradores de rua tivessem aonde viver. Fico pensando em tantos outros políticos por aí, no lugar de Chávez: teriam distribuído tais edifícios para os moradores de rua ou teriam, silenciosamente, passado os mesmos para genros, pais, amantes ou sei lá quem, como é tão comum ver-se pelo mundo, a começar pela justiça brasileira, onde um certo juiz Lalau foi exemplo para dar e vender!
                                   Mas queria contar como descobri tais coisas lá da Venezuela.
                                   Fim de tarde, e tomava alguma coisa em simpático bar numa das avenidas principais, quando se aproximou uma velha senhora vendendo algumas canetas. Foi só lhe dar trela e já ficou minha amiga, como é tão comum às gentes daquele país simpático.
-                                  - Moro ali, ó! – explicou-me ela, apontando bonito edifício do outro lado da rua. – Moro ali porque o Comandante me deu um pequeno apartamento ali!
                                   Fiquei curiosa. Embora já tivesse sabido de tantas coisas em mudança na Venezuela, aquilo era novidade para mim. Quis saber mais, saber tudo. A mulher me explicou das desapropriações de imóveis com grandes dívidas de impostos, e depois contou a sua história:
                                   - Eu nasci na rua, sabe? Minha mãe me teve e me criou na rua, porque não havia para onde ir. Cresci na rua, fui prostituta na rua, e conforme envelheci, passei a ser mendiga na rua. Mas agora tenho o meu apartamento.
                                   O peito da mulher inchou, gritou de sentimento, creio que numa mistura de prazer e dor:
                                   - Dona, a senhora não imagina o que é ter uma chave, possuir uma chave como esta aqui! – ela tinha uma chave pendurada ao pescoço por forte cordão. – A senhora decerto sempre teve chave, não sabe como é nunca ter nenhuma! Eu nunca tinha tido, e agora tenho, e posso fechar a minha porta e me sentir segura, e poder fazer o que queira dentro do meu apartamento, sem ficar com medo.
                                   Ela sentou-se à minha frente para ter mais forças para explicar melhor o que acontecia com ela.
                                   - Quando a gente não tem uma chave, um lugar com chave, qualquer um pode vir e abusar da gente, maltratar a gente...
                                   Céus, que coisa mais forte era o poder de uma chave, e a gente nunca pensa nele! Já quase no final da sua vida, aquela mulher de Caracas acabara encontrando aquele poder que lhe dava a segurança que nunca tivera, e a emoção dela era violenta:
                                   - Se não fosse o Comandante...
                                   Nunca poderei esquecer daquela mulher, nem do seu prazer de ter, afinal, uma proteção que lhe faltara por toda a vida.
                                   E então de novo choro, e penso: por que o Comandante teve que se ir tão cedo? Ah! Comandante, ah! Comandante! Que tua obra não seja interrompida, pois há ainda muitas chaves a serem entregues...

                                   Blumenau,SC, 18 de março de 2013.


O HOMEM DE SANTA HELENA DE UAIRÉN

Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)

Nesta semana fez 04 anos que ele partiu. Minha modesta homenagem, abaixo, àquele que representava, para mim, a Esperança.(Para Hugo Chávez Frías)

Era dia de tomar o rumo do Brasil. Na boca da noite, dirigi-me à rodoviária de Ciudad Bolívar, onde tantas coisas tinham acontecido! Sentei-me a um banco com minha mochila e uma sacola xadrez cheia de livros daquele país maravilhoso, e logo um jovem casal me sorriu com a simpatia tão própria das gentes da Venezuela.
Ambos, mais um filhinho muito lindo, eram assim como eu tinha me acostumado a ver a gente de lá: morenos, talvez mestiços, naquela tão fácil mestiçagem altamente democrática que aconteceu na Venezuela ao longo da sua história. Chamava a atenção os luzidios cabelos negros escorridos da mulher, cuidadosamente presos num rabo de cavalo. Ela estava pela metade de uma gravidez, penso, e usava um lindo vestido de laise creme – o conjunto dela, do marido e do filhinho era muito bonito; lembrava gente simples, próspera e culta, talvez agricultores, mas haveria agricultores naquela terra tão fértil por onde viajei de ônibus durante toda a claridade de um dia, sem ver uma roça, uma vaca? Haveria agricultores num país onde poderia faltar o leite para o café da manhã, caso o avião dos EUA não chegasse a tempo? Até a alface vinha dos EUA, de avião...
Num instante estávamos conversando. Já se passaram mais de sete anos, não recordo mais dos seus nomes, mas eles eram índios. Estava encantada com eles, queria saber de onde eram.
- Depois de Santa Helena do Uairén, viajamos mais quatro horas até chegar à nossa tribo.
Céus, isso era muito longe! Santa Helena de Uairén era a cidadezinha quase na fronteira do Brasil, pequenina, quase que um posto avançado da Venezuela – quatro horas de viagem dali em diante era longe mesmo!
- Eu estou fazendo a Faculdade de Multiculturalismo – explicou-me o homem – Agora, lá na nossa tribo, a gente pode fazer faculdade. Agora se estuda em todos os lugares – ele sorriu, compreensivo, pois decerto eu fizera alguma cara de espanto:
- Assim que a minha mulher tiver o bebê, ela também vai estudar Multiculturalismo!
Naquele momento, todos estudavam na Venezuela  - quem fora analfabeto andava entrando no ensino secundário; quem já fizera o primário estava a chegar nas universidades. Os investimentos em saúde e educação eram impressionantes – só não imaginava que os índios quatro horas depois de Santa Helena de Uairén estavam a estudar Multiculturalismo, tão importante curso num país tão mestiço quanto aquele!
- E antes, como era? – eu queria saber tudo.
- Antes do Comandante, éramos índios abandonados. Se não fosse o Comandante...
Viajamos por toda a noite no mesmo ônibus, e de manhãzinha chegamos à Santa Helena. Mais 15 km e eu estaria no Brasil – mais quatro horas e meus amigos estariam na tribo onde se estudava Multiculturalismo. Despedi-me daquela família cheia de dignidade que um dia se limitara a sofrer as humilhações que sofrem a maioria dos pobres e que agora se instruía lá na sua terra de uma forma que nunca sonhara.
Comandante Hugo Chávez, obrigada por mais aquela belíssima surpresa dentre tantas outras naquelas semanas de Venezuela! Nunca mais ninguém poderá pisar naquele homem que morava a quatro horas de Santa Helena de Uairén, agora que ele está armado com as fascinantes armas do Conhecimento! Ah! Comandante, Comandante, por que te foste tão cedo?
Choro.


Blumenau, SC, 13 de março de 2013.

DRA. ADAIR, A GRANDE DAMA DE CANOINHAS

Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)

                                   Homenageando a saída do maravilhoso livro “O meu lugar”, de Adair Dittrich, volto a compartilhar a crônica abaixo.          
                                   (Para Dra. Adair Dittrich, de Canoinhas/Brasil)

                                   Muitas e muitas cidades não têm uma grande dama – há muitas que sequer sonham com o que pode ser isto, e eu acho que fica bastante difícil de explicar em palavras comuns o que é ser uma grande dama – grande dama é aquela pessoa que não precisa dizer nada nem fazer nada para sê-la – grande dama é alguém perceptível diretamente pelos olhos do coração, e as palavras são coisas bobas diante delas. 
                                   Então no ano que passou fui à cidade de Canoinhas/SC, lá no extremo norte do Estado, e lá estava aquela mulher inigualável a me atender. A princípio ela parecia normal, uma mulher da minha idade, médica, educada e delicada quanto tantas, cuidando para dirigir muito devagar para evitar que eu enjoasse no caminho do que queria me mostrar, conversando agradavelmente, inteligentemente, mas até aí tudo parecia normal.  Levou-me ao seu lugar, onde nascera e crescera, à localidade de Marcílio Dias, e lá mostrou-me muitas coisas: a casa onde se criara (há uma sobrinha dela ainda morando lá na casa vetusta, de madeira, onde juro que deve haver fantasmas escondidos sob as escadarias e entre as paredes duplas e, portanto, pudemos entrar e conhecer a casa); as diversas outras casas de formatos e construções únicas da região, o leito da antiga estrada de ferro, a velha estação, ao lado da casa de moradia e de comércio da sua nona , que tantas coisas na vida ensinara à menina Adair, enquanto atendia autoridades que o trem trazia até ali, sendo a mais ilustre o presidente Getúlio Vargas; contou-me muitas coisas da Guerra do Contestado e da Madeireira Lumber, uma desgraça que aconteceu ao Brasil lá no começo do século XX, com seu Ogro chamado Paschaol Farquhar.
                                   Canoinhas ainda é uma cidade bastante pequena, mas Dra. Adair havia decidido me dar um city-tour, e em seguida lá fomos nós para a Cervejaria Canoinhense, onde o inigualável cervejeiro Rupprecht  Loeffler  produz cerveja e gasosa há mais de 80 anos, ele pessoalmente. Acabei ganhando uma coleção de cervejas e comprando uma coleção de gasosas, das vermelhas e das brancas, as inigualáveis gengibiras que degustaria depois, em casa. Doutora Adair contou prazerosamente como seus pais compravam, nas festas de final de ano, engradados inteiros daquelas gasosas, e como os irmãos e primos dela (decerto ela também) aproveitavam para esconder muitas garrafas nos mais inacessíveis esconderijos da casa, para que sobrassem para depois – sobravam para o ano inteiro; era um nunca acabar de se achar gasosas por todo o ano dentro daquelas paredes duplas onde agora, com certeza, devem morar muitos fantasmas! 
                                   E nos dias em que fiquei lá (não só em Canoinhas, como também em Três Barras e Bela Vista do Toldo) fazendo palestras nas escolas cujos alunos haviam lido os meus livros e também participando de uma noite de autógrafos na Livraria Santa Cruz, Dra.  Adair esteve todo o tempo a me acompanhar, sem contar as duas vezes em que me convidou para almoçar na sua casa.  Então, aos poucos eu fui conhecendo, desvendando seus mistérios de grande dama e outros, e um pouquinho da sua biografia. Ela era médica desde os 25 anos, e já completou seus 50 anos de medicina há algum tempo atrás, o que significa que... céus, mas aquela mulher linda  que parece ter a minha idade não tem a minha idade? Não, acabei por saber – aquela mulher linda e tão jovem já passava dos 75 anos! Como fez ela para se manter assim cheia de vigor, de beleza e de juventude? Penso que por conta do muito trabalho da sua vida, e de ter escolhido fazer exatamente o que gostava de fazer – mas também por ter seguido seu coração e suas convicções sem se dar trégua, e ter vivido de acordo com eles sem esmorecer. Fiquei a admirá-la silenciosamente quando, numa reunião pública onde estávamos, ouvi sua indagação para a qual ainda não se tem resposta:
- Então que faço com os vinte anos que a ditadura me roubou? Faço de conta que eles não existiram, e digo que agora só tenho 50 e tantos anos?
Grande Dra. Adair, que não permitiu que se lhe arrancassem os sonhos e ideais da juventude! Continua convivendo com eles com a mesma intimidade com que sempre viveu – nunca deixou de acreditar nas suas crenças, nunca deixou de levar muito a sério o que acha que é justo! Seria este o segredo que a tornou uma grande dama?
É bem possível e provável que sim. É, pelo menos, um dos fatores. Dra. Adair nunca transigiu, nunca deixou de perseguir os seus ideais, fossem eles os de mitigar o sofrimento alheio ou de sonhar com um mundo melhor. Nunca prestou atenção, ela, aos arautos da Apocalipse que ficaram anunciando a chegada do desânimo, a ruína dos sonhos, o fim dos tempos da esperança – única e perfeita, ficou na sua pequena cidade defendendo que o tempo de sonhar nunca se acaba, e então se tornou grande, a grande dama de lá!
Querida Dra. Adair, a grande dama de Canoinhas, que bom que foi ter tido o privilégio de conhecê-la!

                        Blumenau, SC, 29 de março de 2011.


CONVERSANDO COM A MINHA MÃE - 6

Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)

                                   Está cheinho de boas almas com quem conversar hoje, pois a gente do Bem é grande, mas sinto que hoje devo conversar com a mãe, que tanto viu e tanto soube e tanto sentiu deste país, desde antes do tempo do Getúlio. Mas acho que a mãe ainda não sabe o que eu vou contar agora, e por isto é que achei que devia contar.
                                   Trata-se daquele homem que está só, lá naquele apartamento, acompanhado de um filho e das tantas e tantas lembranças, o coração rasgado de dor pela segunda vez, vertendo o sangue vermelho da dor sem consolo, assim como aqui também o meu coração dói, pois é tão triste, mãe, tão triste...
                                   Sabe, mãe, tinha sabido dela faz assim como uns dois anos, quem sabe três, e eram notícias tão lindas! Disseram-me de como ela estava bonita, magérrima, elegante, unhas bem feitas, estuante de vida, pronta para recomeçar tudo de novo na sua vida que era sempre um hino de amor e de justiça; aquele coraçãozão que ela tinha no peito a lhe ruborizar as faces de tanta energia, as mãos estendidas para ajudar, sempre – gente assim como ela, daquele naipe único, se a gente sabe uma vez cada dois ou três anos já é um privilégio, enche o coração da gente de beleza, reacende todas as esperanças... Ai, mãe, não consigo pensar que ela se foi assim, sufocada pela maldade, ela que só tinha o bom e o belo para espargir para quem se achegasse... A mãe soube que ela se foi, penso. Talvez vocês duas já tenham se encontrado por aí aonde estão agora, quem sabe a mãe já disse para ela da admiração que tinha pela trajetória dela, que a mãe sabia desde lá da infância dela...
                                   Mas queria falar, agora, é daquele homem, o marido dela, sozinho com um filho lá naquele apartamento agora tão vazio, irremediavelmente vazio da alegria e da beleza que era ela, aquele apartamento tão intensamente cheio das lembranças dela que não sei como ele sobrevive ao rubro do sangramento do coração partido de dor...
                                   Nunca pensamos numa coisa assim, né, mãe, nem naqueles maravilhosos momentos quando ela se torna a vedete da nossa esperança – a gente não podia imaginar... Nunca se imagina uma coisa assim, e o marido dela também não imaginou e foi pego de surpresa como toda a gente do Bem, e agora está lá naquele apartamento sangrando de dor muito mais que eu aqui... Recém soube que ele começa a reagir, a fazer ginástica de novo, pois ele não se pertence e tem que voltar a se preparar para a luta imensa que tem pela frente, porque ele é assim, homem de luta, e ela não esperaria outra coisa dele. Aí onde ela está, agora estrela, decerto a mãe acompanha como ela manda forças para ele, pois a mãe sempre acompanhou o que ela fazia... A gente está contando com a força dela somada à força dele, pois sem ele, o que será de nós, seres já com poucas forças, que nunca tinham tido a dimensão da tremenda perversidade que tomou conta deste país, e que só ficou clara naquela Noite dos Horrores, mãe, quando os deputados votaram para derrubar a presidenta – penso que a mãe há de ter se inteirado disso.
                                   Então aquele homem está lá e começa a reagir fazendo ginástica, e ele é o centro da nossa esperança de sair do lodaçal. Mãe, se der, pergunta a ela como vai ser, pois ela agora pode ver mais longe e talvez saiba as coisas por antecipação. Eu tenho tanta pena dele assim sem ela, o coração partido sangrando tanto... Se a mãe puder dar uma passadinha lá e fazer qualquer coisa por ele, uma oração, talvez, eu vou ficar um pouco menos triste. Ele precisa de toda a nossa ajuda – a daqui e a daí – pois a perversidade que tem que enfrentar é tanta, que toda a ajuda se faz necessária. Como me dói o coração sabe-lo assim, mãe, como dói!

(Dedicado a Lula e à Dona Marisa Letícia)

                                   Enseada de Brito, SC, 10 de março de 2017.