Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC).
Amanhã, dia 06.03.2016, faz 04 anos que ele partiu. Minha
modesta imagem, abaixo, àquele que representava, para mim, a Esperança.
(Para o homem da rodoviária de Ciudad Bolívar e para Hugo
Chávez Frías)
Mais ou
menos dez da noite, e eu chegara à Ciudad Bolívar, interior da Venezuela,
cansada, com fome e muitíssimo curiosa para saber o que pensavam as gentes de
uma cidade de 100.000 habitantes, depois de uma semana ouvindo as gentes de
Caracas, cidade grande.
Sentei-me
à mesa de plástico de um vendedor de sanduíches e pedi algo para comer. Os
venezuelanos são muito simpáticos, e logo eu estava em animada conversa com
aquele vendedor de sanduíches.
-
Primeiro, eu nunca tinha votado – explicou-me ele. Há que se lembrar que na
Venezuela o voto não é obrigatório. Meu novo amigo apontou-me uma praça
próxima:
- Agora, não perco uma eleição. Agora todos votam. Está
vendo aquela praça ali? Há tanta gente que vota que aquela praça fica tomada
por uma fila que vai de lá até aqui, ó! – continuou, mostrando o tamanho
considerável da fila que revia na sua imaginação, e que enfrentava a cada vez
que havia eleições e referendos.
Era verdadeiramente impressionante o tamanho da fila que meu
novo amigo me contava, como era impressionante no seu olhar, no seu rosto e na
sua postura, o orgulho de se saber e se sentir cidadão, após a miserabilidade
de uma vida que eu diria de escravidão, já que nos mais de sessenta anos
anteriores só eram cidadãos e quase que só votavam os milionários donos do petróleo
– pelo menos eram eles quem davam todas as cartas e aplicavam todo o dinheiro
gerado pelo subsolo venezuelano nas suas fortunas de Miami e tinham abandonado
seu povo à própria sorte, como eu já pudera ver sobejamente na Caracas rodeada
de cerros onde até pouco campeava a mais absoluta miséria e abandono.
- E o Comandante? – fiz uma pergunta que poderia ser tudo ou
nada.
O rosto do homem se abriu num largo sorriso de prazer, como
também se abriam os rostos das gentes de Caracas.
- Ah! Nós amamos o Comandante! Não havia nenhuma esperança
nas nossas vidas antes do Comandante. Agora passamos a ser gente livre, agora
podemos decidir nosso futuro! – e o meu amigo passou a contar das diferenças na
sua vida, de como voltara a estudar, de como agora ele e sua família tinham
acesso a médico a qualquer momento, de como os remédios eram gratuitos, de como
a comida era subsidiada pelo dinheiro do petróleo que agora não vazava mais
todo para Miami , de como até pudera abrir seu pequeno negócio de sanduíches.
- Antes a gente não podia nada, além de ser pobre e sofrer.
Se não fosse o Comandante, o que seria de nós?
Isto foi em janeiro de 2006, e como hoje é 06 de março de
2013, lá já se foram sete anos. Eu sei que aquele homem de Ciudad Bolívar deve
estar chorando, e queria estar lá para dar um abraço nele, porque também estou
chorando aqui. Chávez se foi ontem, mas nunca mais deixará de estar conosco.
Luminosa estrela no meu céu, eu lhe digo:
- Até a vitória sempre, Comandante! – e de novo choro, pois
o mundo já não é igual desde ontem, quando te foste tão prematuramente. O que
me consola são todas as sementes que plantaste, tantas que a gente ainda nem
sabe avaliar como germinarão por todos os lados. Há que chorar, no entanto, porque o coração
dói.
Blumenau,SC,
06.03.2013
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