Diogo Cassels
Por
Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Se pensam que nas Igrejas
Evangélicas – e até nas seitas, – não há santos, estão redondamente enganados.
Claro, que não aparecem nos
altares, nem são canonizados; mas que são santos; ah!: isso são!
Havia – já lá vão muitos anos,
– na 1ª República, em Vila Nova de Gaia (Portugal), um homem bom. Homem rico,
que por muito amar os pobres ficou pobre, por amar muito a Deus.
Era pastor anglicano. Sabia ser
justo viver do altar, mas preferiu ser o altar a viver do seu trabalho e da sua
grande fortuna.
Seu nome era: Diogo Cassels;
mas o povo, os operários, os carenciados, por muito lhe quererem, chamavam-no,
carinhosamente: o Sr. Dioguinho.
Dioguinho, junto com as tarefas
pastorais, mantinha: escola – para educar os meninos cristãmente; – e, a “ Sopa
dos Pobres” – para alimentar os que tinham fome.
Portugal, naquele tempo, estava
atulhado em terríveis dívidas. Havia desemprego generalizado, e os que
trabalhavam, mal granjeavam para sustento dos filhos.
Como cristão, como sacerdote
temente a Deus, sentia obrigação: de cuidar, de zelar, de amenizar, o
sofrimento dos operários; e pobreza envergonhada – que sempre atinge a classe
média, em anos de crise.
Todos os meses, o bom homem, ia
de porta em porta, pelas casas inglesas – o Sr. Dioguinho era britânico, – e
pedia…tornava a pedir… rogava, suplicando, contributo para a “ Sopa dos
Pobres”; porque, o que possuía, da sua grande fortuna, já não bastava para
acudir a tanta necessidade.
Certa ocasião, as casas de
pasto, as mercearias, que lhe forneciam os alimentos, disseram-lhe, perentoriamente:
“ Ou paga o que nos deve, ou nada mais haverá fiado! …”
Dioguinho levou as mãos à
cabeça, desesperado. Aflito, atormentado, recorreu a amigos. Calcorreou as
firmas de origem inglesa, da baixa portuense; bateu à porta da colónia inglesa,
e arrecadou substancial quantia… Assim supunha.
Regressou radiante. Contou e
recontou o dinheiro recebido. Fez contas e mais contas… Fez cálculos e mais
cálculos… mas nada: faltavam cinco contos para saldar a divida aos fornecedores…
- “ Os necessitados ficarão
sem a “ Sopa dos Pobres.” - Pensou.
Nervoso, mordendo os lábios
ressequidos, procurou descortinar amigo, que lhe acudisse a tal aperto. Mas as diligências
foram em vão.
Só Deus o
poderia ajudar. Mas seria ele merecedor de tal auxílio? …
Dirigiu-se, estonteado, à
capela; pelo caminho, encontrou a Bertinha – mocinha que lhe servia de
secretária, – agarrou-a com ansiedade, pelo braço, e, numa súplica, disse-lhe:
- “ Peço-te, menina, um
grande favor: Vem comigo à capela, orar a Deus, para que me acuda! …”
No dia seguinte, pela manhã.
Manhã luminosa, cheia de Sol, chegou o carteiro. Entre a correspondência vinha
uma…que incluía cheque no valor de cinco contos!
Junto, trazia bilhete: “ Sei
que veio procurar-me, para acudir os seus pobres. Não estava; mas ai vai
“isso”, para ajudar.”
Após o almoço o Sr. Dioguinho,
agradecendo a Deus, dirigiu-se ao Banco de Londres, para receber o dinheiro.
Mal lhe entregaram os cinco mil
escudos, o rosto desfigurou-se de contentamento. Cambaleou. Agarrou-se ao
balcão…Escorregou… e caiu. Antes de morrer, ainda teve tempo de pronunciar:
- “ Graças a Deus! Os
pobres não passaram fome! …”
Assim morreu o pastor, o santo,
que tudo doou aos pobres. O sacerdote, que sendo rico, se tornou pobre, para
que os pobres fossem menos pobres.
Também há santos nas Igrejas
Evangélicas! …
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