segunda-feira, 1 de novembro de 2021

CLARISSE DA COSTA EM VERSOS E PROSAS

Sociedade Versus Mulher Preta

Quando nova eu me questionava por que não tinha nascido homem. Não pela possibilidade de fazer xixi em pé, mas sim pelos privilégios que o homem sempre teve. Eu achava que a vida do homem era fácil. Primeiro que a gente ouvia constantemente que "isso é coisa de macho" e a sociedade negava à mulher o direito de ser independente.  Menina usa saia, menina não usa calça  já diziam as tias logo que a gente começava a entender algumas palavras.

E se parar para pensar a sociedade não impõe regras ao homem. O tempo todo a gente é julgada e as exigências são inúmeras. Se for mulher preta, piorou mais ainda!  A sociedade só falta dizer pra gente voltar para a senzala. Até mesmo porque nós não somos o tipo de padrão que a sociedade idealizou a vida inteira. Parando pra pensar a sociedade comprou a ideia das princesas dos contos de fadas. E como preta não tem cabelo liso e nem pele branca feito a neve, somos tudo menos princesa.

Avaliando bem, a sociedade é machista, fruto de uma falsa democracia. E a gente na escola era obrigada a cantar o Hino Nacional. Aff, anatomia humana, a gente era os macacos e os brancos os seres humanos! Para nossa ironia, a gente não podia discordar do preconceito. Afinal de contas, a gente não era princesinha e sim plebeia.

Eu ainda tinha ténis nos pés e um bom casaco para vestir no inverno. Imagina as senhoras de cabelos grisalhos da nossa família como era a vida delas! A minha mãe dizia que só tinha um chinelo, o saco de pão era o seu caderno escolar. Igualdade social nota zero, democracia como sempre pura utopia!

O que diriam elas nos dias de hoje com tantos acontecimentos? Isso não é coisa de Deus? Somos tantas mulheres agredidas e humilhadas pela sociedade. Quando não somos mulheres exóticas somos objetos sexuais. Ainda há quem diga que somos morenas ou mulatas. O preconceito é forte e tentam alienar as nossas mentes dizendo que racismo não existe.

Seja na favela ou nos centros urbanos, a mulher preta sempre vai ter que provar o seu valor, desmistificar todos os estereótipos dados a ela.

Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu em Santa Catarina.

Contato: clarissedacosta81@gmail.com


Negritude: Resistência e Luta

Parece que teremos ainda que conviver com o racismo por mais séculos. Enquanto ficamos no nosso mundinho sem se quer um gesto de atitude isso não incomoda a ninguém. Mas como muitos de nós fazemos a diferença é motivo de repulsa e preconceito.  A existência do negro para muitos é inaceitável.

O negro cresce com difícil luta de ser aceito ou pelo menos ser respeitado. O nagô do negro perpetua o quão difícil é existir.  A mulher negra pode confirmar isto. Dantes a sua condição era de serva dos "brancos da elite", aqueles que tinham dinheiro e achavam indigno cuidar de seus filhos, se limparem sozinho ou até mesmo abrir uma porta.

Quando falamos de negritude, falamos de luta e resistência. As dificuldades no mercado de trabalho, as dificuldades em ser aceito pela sociedade... Todo o seu contexto histórico é marcado pela sua condição de escravismo.

No Brasil a escravidão teve início com a produção da cana de açúcar na primeira metade do século XVI com o sequestro de homens e mulheres vindos da África, foram trazidos pelos portugueses. Surge a partir daí a prática de sequestro. E com isto a ideia de propriedade privada no Brasil.

No ano 1850 não era possível hipotecar um lote de terra no Brasil, mas hipotecar um escravo era possível. O que não deixa de ser uma ironia. O negro não passava de uma propriedade de seus senhores.

Mesmo depois de séculos o negro é visto como um ser inferior. Parece que criamos um mundo particular nosso e o restante da população o seu. Mas bem sabemos que a vida do negro foi moldada pela "elite branca" essa história todos bem conhecem.

Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu em Santa Catarina.

Contato: clarissedacosta81@gmail.com


Noite de Chuva

Dormir

Com o cair da chuva,

O cheiro de terra molhada

Invadindo o quarto,

Traz aquela saudade

De estar perto

De alguém.

De sentir o calor do corpo

Através de abraços

E nesse aconchego

Sentir o coração pulsar

Por mim.

Como pode isso,

Sentir saudades de

Algo tão ausente?

Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu em Santa Catarina.

Contato: clarissedacosta81@gmail.com

 

Laço de Amor

 

Talvez você pense,

Repense

E deixe o medo

Entrar pela porta mesmo assim,

Mas a vida estará ali

Sempre à sua espera.

***

A vida é como

Um sopro de vento

Que leva sorrisos e dores;

Que abraça sonhos

E formas laços.

E você entre os saberes,

Momentos e sabores

Só tem um dever com sigo,

Formar um laço de amor

Com você,

Um laço rosa.

Se tocar e entender

Que um toque salva,

Assim como o abraço

Que acolhe.

***

Abrir a janela e se permitir

Para a vida,

Não é abrir para a morte

E ficar ali esperando,

É se pôr a viver.

Deixe que as rosas

De outubro

Floresçam em você.

Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu em Santa Catarina.

Contato: clarissedacosta81@gmail.com

 

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