sábado, 1 de fevereiro de 2025

OS RESTOS MORTAIS DE EÇA, PERTENCEM AO ESTADO OU À FAMÍLIA?

 

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)


Um grupo de admiradores do genial escritor, Eça de Queiroz, quis homenageá-lo – transladando os restos mortais, do escritor, para o Panteão.

Esqueceram-se, porém, que a obra do maior estilista da língua portuguesa, pertence à nação, mas os restos mortais – já que não indicou local onde queria ser sepultado, – não são do Estado nem da Povoa do Varzim, onde nasceu, mas à família.

Criou-se, então, acesa polémica, entre os descendentes de Eça, e o grupo de admiradores, que nas melhores intenções – penso eu, – quiseram homenagear o escritor, que há quatro décadas repousa, o sono eterno, em Santa Cruz do Douro.                           Polémica, que a imprensa nacional parece não lhe dar o devido valor, já que raras são as referencias, ao assunto.

Não comento quem tem ou não razão, mas limito-me a levar a matéria, ao conhecimento do atento leitor:

António Eça de Queiroz foi o primeiro a opor-se à trasladação, por considerar:"Ser uma farsa politica negociada entre " amigos" pois o ridículo "“processo" de trasladação dos restos mortais de Eça para o Panteão Nacional é, além duma parolada de pretensiosos, um insulto à memória das pessoas que há mais de três décadas tudo fizeram para que Eça descanse em paz junto da sua filha mais velha no cemitério de Santa Cruz do Douro. Com o acordo das netas, ainda vivas." - Texto publicado no: Jornal de Baião", de 7/7/2021.

Mais adiante, escrito com o entusiasmo e energia, característica peculiar do antepassado, António Eça de Queiroz, continua:

" Definitivamente o termo " Descansa em Paz" parece hoje apenas um pró-forma semi-piedoso, mas sem qualquer valor real: basta o Estado querer que já não descansa. (...) A Fundação Eça de Queiroz, que não é proprietária do cadáver nem pode ser, avançou com este processo através das suas canalizações políticas, sem dar explicação a ninguém.

" A mim e aos restantes familiares, que somos contra este espectáculo macabro, só nos resta apoiar quem desde sempre foi contra a remoção dos restos mortais do escritor Eça de Queiroz. “- idem: “Jornal de Baião” 7/7/2021.

 

                                                                                                 (Continua)          

OS RESTOS MORTAIS DE EÇA; PERTENCEM AO ESTADO OU Á FAMÍLIA? (cont.)

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

 

Também Manuel Tavares Vieira, na: " Tribuna Pacense", de 27/X/2023, ao comentar a trasladação, afirma: " Não se percebe muito bem esta súbita vontade política de sepultar mais uma vez quem já estava sepultado, no " frigorífico da glória", como apropriadamente Eduardo Lourenço apodou o Panteão. Concedo que Eça nunca esteve verdadeiramente entre os seus, nem na vida nem na morte, mas se o Alto de S. João e o jazigo de Santa Cruz do Douro eram "exílios", o Panteão passará a ser desterro. Eça não vai ser trasladado, vai ser desterrado. (...) Assim a questão resvalou para o campo político - mediático colocando-nos perante o triste espectáculo de ver Eça de Queiroz no centro de uma querela que ele seria o primeiro a farpear. 

E há muito que criticar, para lá da aparente falta de cuidado da FEQ. Em primeiro lugar a atitude arrogante do poder politico instalado em Lisboa que julga saber interpretar a vontade de quem já não pode ter vontade. As " honras de Panteão" como pomposamente se lê na resolução da Assembleia da Republica, duvido que alguma vez Eça as quisesse."

E conclui, e bem: " Se queremos homenagear Eça façamo-lo lendo as suas obras, estudando-as, degustando a fina ironia com que observava a sociedade portuguesa do séc. XIX, não muito diferente da actual. Essa é a forma de o mantermos vivo. Engavetando-o no Panteão Nacional estamos finalmente, a sepultá-lo." Manuel Tavares Vieira - " Tribuna Pacense".", 27/10/2023

Entretanto foi criado o Movimento de Cidadãos Baionenses, que pretende lutar contra a trasladação do escritor para o Panteão. Já se realizou uma manifestação popular, junto da estrada de Tornes, no dia 5 de Janeiro. Pretende-se, também, interpor, uma providência cautelar.

Não me compete tecer comentários, se é ou não justo retirá-lo do seu jazigo, para Lisboa, o leitor tirará, certamente, as conclusões. Que é inteira justiça, o escritor – como outros, de igual valor, mas esquecidos, como Camilo – permanecerem no Panteão, não tenho dúvida; mas haverá o direito de o fazer, como foi feito? Não sei.

Termino com uma curiosa declaração de Dona Maria das Dores, neta de Eça, e Marquesa de Ficalho, publicado a 18 de setembro de 2003, no: " Jornal de Gaia", referente à situação moral, em que se encontrava o Pais, nessa época:

" Acho que está tudo maluco. As raparigas estão completamente malucas, despem-se até aos pés. Acho uma coisa horrorosa. Acho que há muito menos valores, há muita corrupção, pelo menos é o que dizem. As pessoas não têm palavra. Honra? O que é isso hoje? Haverá? Acho que não há muita, e tenho pena que seja assim. 

 

 

Quando brotam as sementes...

 Por Valéria Gurgel (Nova Lima, MG)






LEANDRO, POR QUE TRABALHAR COM ENCADERNAÇÃO EM UM MUNDO CADA VEZ MAIS DIGITAL?

 Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)


Essa é uma pergunta recorrente hoje em dia. Como não estou sozinho nesse ofício — muito antes pelo contrário e ainda bem, tamanha a quantidade de pessoas boas a compartilhar dessa paixão — fui atrás de alguns dados que pudessem sustentar a importância desse trabalho e responder a essa pergunta.

Todos os seres vivos se comunicam de alguma forma, mas somente os seres humanos possuem o que chamamos linguagem, podendo essa chegar há mais de 50.000 anos. O que iniciou com uma linguagem gestual, evoluiu para a fala e depois para a escrita.

Mas você sabia que a atual geração está lentamente perdendo essa capacidade?

Está certo, tudo evolui! Hoje existem automóveis e não mais carros puxados a cavalo; não é mais preciso acender lampiões, basta acionar o interruptor de luz, ou mesmo a Alexa. A tecnologia está aí para melhorar tudo, não é isso?

Então… precisamos conversar!

Com a era digital, a maioria das pessoas, principalmente os jovens, está perdendo o conhecimento de regras básicas de escrita. O problema não seria tão sério se esses conhecimentos, cada vez mais atrofiados, segundo estudos da Universidade de Stavanger, na Noruega, apontar que 40% vêm perdendo a fluência na caligrafia.

Só isso?!

Não! Além da caligrafia ilegível, do desconforto físico cada vez maior em escrever à mão, as pessoas estão possuindo pouca familiaridade para elaborar ideias mais complexas em textos e sequer conseguem construir frases coerentes e parágrafos significativos.

Ah, então você está a dizer que devemos abandonar a tecnologia e voltarmos aos tempos das pinturas rupestres?

É claro que não! A tecnologia é algo presente e é benéfica nas nossas vidas, veio para ficar e somente um louco a ignorá-la. Inclusive, ela é de muito auxílio a pessoas com algum tipo de limitação motora nesse campo mesmo da própria escrita e em outras atividades. O problema é quando fazemos uso abusivo dela sem necessidade justificável, tornando-a o único caminho e privando-nos de nós mesmos. Não é por acaso que especialistas (nem precisava ser) defendem e essencialidade de reservar um tempo para a prática da escrita à mão sempre que possível, alternando-a com a digital. Essa simples atitude pode nos salvar da extinção motivada pela preguiça cada vez maior de simplesmente “pensar”.

“Pensar para que se a IA faz isso para nós”?

Bem, a Inteligência Artificial até pode resolver também esse problema cognitivo, mas a custo de ver perder algo que nos acompanha há milhares de anos: a nossa própria capacidade humana de criar, de nos comunicarmos e existirmos. É isso que queremos?

Deixo aqui essa pergunta, mas quero dizer o seguinte: sou um defensor da tecnologia. A utilizo, e muito, em meus trabalhos, inclusive na encadernação. Onde vocês acham que faço os meus projetos, desenhos de cadernos e livros? Estamos aqui neste blog, não estamos? Também possuo redes sociais…

Apenas defendo a possibilidade de caminharmos de mãos dadas com todos os recursos tecnológicos, sem perder a nossa condição de ser gente, a nossa habilidade de pensar, de sentir, por nós mesmos, o mundo maravilhoso que nos cerca.

E como é bom registrá-lo não apenas em selfie… podemos fazer isso em algo saído de nós, com a nossa individualidade e personalidade. E isso a escrita à mão nos proporciona. Dúvida? Experimente!

Vai dar certo, confia

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Eu sei que parece não

existir saída.

Que tudo vai desandar.

As coisas não vão fluir.

 

Mas, calma.

Respira, não pira.

Confia e acredita.

Tudo vai se resolver.

 

Vai ficar tudo bem.

Vai dar certo confia.

Acredita.

Respira.

 

Trilha seu caminho

com maestria.

Segue a vida.

Sinta confiança em Deus.

 

Vai dar certo.

Confia.

Sonha e acredita.

Vai dar certo, confia.

 

Instagram: @liecifranborgesmartins

Eu, Deus e meus sonhos

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Eu, Deus e meus sonhos.

São suficientes ao meu viver.

De Deus vem meus sonhos.

Com ele posso sonhar.

 

Deus me permita a sonhar

em frente ao mar.

Viajar nas nuvens do céu

e amar no papel.

 

Deus, Eu e meus sonhos.

Só esses já me bastam.

A vida já é completa.

A vida com Deus és bela.

 

Grandes sonhos

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Oh, Poeta!

Sonha grande,

minha bela.

Voa alto,

oh, donzela.

 

Cinderela ou bela.

Princesa ou fera.

Fera nas poesias.

Princesa do romantismo.

Sonha grande, minha bela.

 

Voa alto.

Voa, voa alto.

Sonha, sonha alto.

Você é capaz.

Você é inteligente.

 

Grandes sonhos

você tem.

Potencial também.

Oh, Poeta!

Oh, Donzela!

 

O tempo de Deus é perfeito.

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Deus, seu tempo é perfeito.

Sublime, com zeros defeitos.

Você é um dos maiores escritores.

 

Seu tempo é lindo.

Você prepara e capacita.

Capricha na conquista.

 

Vale a pena em ti

eu confiar.

Deixar você conduzir, meu andar.

 

Seu tempo é perfeito.

Pois eu rezo e confio.

Em ti eu espero.

No Coração do concreto de BSB


Por Lucimar Melo (Maracaju, MS)

 

Brasília nos recebeu com céu cinzento e aroma de novidade. A Capital Federal, tão admirada e fotografada, exibia suas formas ousadas, abraçadas por ruas largas e árvores silenciosas. Era impossível não sentir a grandiosidade de um Patrimônio Mundial, onde o concreto conta histórias e o horizonte dança com as nuvens.

No aeroporto JK, o primeiro passo foi em direção ao hotel, estrategicamente posicionado ao lado de três shoppings. Tentador? Sim. Mas o que eu realmente queria era estar diante do Palácio do Planalto. Sonhava com uma foto ao lado dos guardas, cujas vestes, quase caricatas, arrancavam sorrisos que eu tentava conter. Aquelas ruas e prédios, símbolos de poder, eram marcantes, embora as figuras que as habitam hoje provoquem um frio na espinha.

A fome me levou ao Mangai, um refúgio nordestino no coração da modernidade. O cheiro da comida invadia a alma, e a indecisão no bufê era quase uma obra de arte. Ao final, a simplicidade de uma banana na sobremesa trouxe o aconchego de casa, um gesto doce de despedida.

O Lago Paranoá e os monumentos icônicos foram o cenário de fotos indispensáveis. Cada clique era um diálogo com Brasília, uma tentativa de capturar sua essência. Na volta ao hotel, o banho e o descanso prepararam o corpo para a despedida.

Brasília não era apenas concreto; era memória, contraste e um pedacinho do Brasil em cada esquina. E assim, com a mala pronta, seguimos para o próximo destino, levando no coração a capital que é ao mesmo tempo distante e tão nossa.


Sobre a autora:

Lucimar Rodrigues Melo Colpo, é sul-matogrossense, residente em Maracaju MS, casada, duas filhas. Licenciada em Educação Física, Pedagogia, pós-graduada em Psicopedagogia e Ludopedagogia e Educação Física escolar, cursos em educação escolar e literatura. Escritora, poetisa, antologista, professora na rede municipal de ensino de Maracaju - MS. Vencedora do Concurso Literário (antologia)Regional Poesia de Praça. Coautora em diversas antologias nacionais, prefaciadora na antologia Cartas Para 2022, Ser Mãe, organizadora da antologia Diva’s Florescer Maternal, Além-fronteiras (Breccibooks editora), Entrelaços (Brunsmack), acadêmica imortal AILAP e AINTE, administradora do grupo virtual da Corporação de Literatura e Arte Brasileira (CLABCD), publica seus poemas no site Recanto das Letras e MS Poetar, participações literárias pela Hermand Literária Rosa Blanca – Chile e outros.

 

 

Joaninha e o Beija-flor

Por Lucimar Melo (Maracaju, MS)

 

O jardim da dona Lúcia era lindo, sempre carregado de flores coloridas. Mas, como todo jardim, recebia visitantes inesperados que apareciam para sentir o perfume, degustar o néctar e trocar algumas palavras com outros amigos.

Certo dia, o beija-flor estava saboreando o néctar quando avistou uma joaninha alegre, descansando em uma folha. Cheio de ciúmes, perguntou:

- O que você está fazendo aqui?

Sem hesitar, a joaninha respondeu:

- Venho sempre aqui apreciar a beleza e o perfume das flores.

O beija-flor respirou fundo e, percebendo sua atitude, resolveu fazer amizade com a joaninha. Desde aquele dia, a amizade deles cresceu, marcada por respeito e admiração. Sempre que possível, o beija-flor convidava a joaninha para conversar naquele jardim encantado.

 

Moral da história: Jamais julgue alguém sem antes conhecer.

 


Te Procuro Por Toda Parte

Por  José Perez Urtiaga Martinez  (Guarulhos, SP) 

 

Senhor!

Senhor!

Onde estás? 

Te procuro por toda a parte!

Fui ao monte, mas não te vi! 

Preciso de ti! 

Fui a sua procura no Tabernáculo, 

mas não te achei! 

Tenho rezado todos os dias,

Senhor 

 Ahh! 

O vento bateu aqui e foi possível te escutar,

no sino dos ventos! 

A chama se acendeu,

incrivelmente no meu coração!!

Ohh! Meu Senhor!! 

Sinto tua presença no meu coração! 

Uma explosão de alegria 

e bondade surge na noite! 

 Não, não vai embora não! 

 Sei, que cuida de mim! 

 Te encontrei senhor! 

 Sinto tua presença 

 Obrigado, Senhor por me dizer, 

 mesmo sem eu entender, qual caminho seguir! 

.-.-.-.-.-.-.-.-

 

Abelha

Por Artton Potiguar (Santo Antônio do Salto da Onça, RN)

 

Elas trabalham em silêncio

Em segredos minuciosos

Suave lentos das mais

Perfeição dos singelos

Detalhes que detalham

O segredo guardado

No armário da construção

Todo mundo ao tempo

Em tudo com todos

Ver mais não consegue

Enxergar aos olhos

Invisível ao visível

Ver nos olhos da alma

No trabalho da escuridão

Humana do enxerga-se.

 

 

 

 

ARTTON POTIGUAR, Natural de Santo Antônio do Salto da Onça/RN, primogênito dos oitos filhos de Maria de Fátima Pessoa dos Santos e Ailton Rodrigues dos Santos. Servidor Público, Agente de saúde, Autor, Escritor, Enfermeiro Especialista UNIFACEX/RN, Biólogo/UFRN, mestrando/UFRN, Professor, articulador, fomentador cultural literário, militante, ativista, agente e produtor cultural com várias participações em inúmeras Coletâneas e Antologias nacionais e internacionais físicas e virtuais por diversas editoras. Autor de um livro e coautor de mais de 400 obras literárias pelo Brasil. Membro das academias literárias: AIL, ALB, ACL, AILB, ALPAS, AILAP, ACAL.

@arttonpotiguar

Poeziar

 Por Artton Potiguar (Santo Antônio do Salto da Onça (RN)

 

A poesia é do mundo

E o mundo é da poesia

A poesia é de origem local

A poesia é originária estadual

 

A poesia originou-se nacional

A poesia nasceu em berço internacional

A poesia ela é continental 

A poesia já nasceu única e universal

 

A poesia é preta de equidade

A poesia é branca de igualdade

Mais também a poesia

É o clamor de liberdade

 

Em versos de poemas falados

Nas rimas das poesias cantadas

A poesia é nua e crua

A poesia é um caminho

 

No caminhar dos recomeços

Em caminhos de pluralidades

Quero caminhar por

Caminhos de diversidades.

 

Poeartizar

 Por Artton Potiguar (Santo Antônio do Salto da Onça, RN)

 

Poesia é arte

Em qualquer

Que seja a parte

No toque tudo vira arte

Seja em qualquer

Obra de arte

Na poesia

Tudo se faz arte

Tudo vira poesia

Dentro vira arte

Por fora vira poeartizar.

Vivência Alegre

Por Carlos Frederico (Rio de Janeiro, RJ)


Viver com você é ter a alegria de conviver

A cada amanhecer com o sorriso florescer.

Um despertar de amor e curtir o teu calor

Um ritmo de harmonia

Uma vivência em alegria

E os filhos criar com sabedoria

Com dedicação a cada dia

Com respeito e amor pelos seres

E deste modo assim conviveres

É bom viver ao seu lado

E num pensamento alado

Curtir bem o mar de São Conrado

E dar vida a todo sonho dourado.


Carlos Frederico – RJ. @carlosfredericoescritor

Opera mundi: Intenso Prazer no Quarto Escuro!!!

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)


      (Para a poetisa Clarisse da Costa)

 

O meu pensamento insano e sedento,

Tornei-me refém desta angústia,

Preciso do teu toque, na minha loucura,

Posso senti-lo, me toma, transbordo.

Permita-me ser toda tua, heresia.

Então! Envolva-me sobre o teu corpo,

Faça amor comigo, com maestria.

Fabiane Braga Lima

 

           Camilla extasiada, com os sabores dos vapores de hortelã, que subiram das papilas gustativas e chegaram à mente, ela expeliu no ar uma densa nuvem verde pela boca.

          — Então, minha irmãzinha querida? O que tu achaste, da grande e pequena Madalena? — Disse Camilla de forma pastosa.

          — Irmãzinha? Sou a tua rainha Cacilda, ora essa! — Respondeu Cacilda em tom de galhofa.  

        — Mas ela se comporta, como se fosse uma garotinha assustada e perdida! — Ponderou Camilla, sendo a racional das irmãs.

        — Não pude deixar de notar, a surpresinha escondida, que aliás é uma enorme surpresa! E como tu, não parou de olhar e pensar na caixa de surpresas da menina moça. — Falou a sonhadora Cacilda.  

         — Linda ela! Uma bela orientalzinha, com toda a certeza, minha irmã. — Disse a faminta Camilla.  

        As irmãs, se entreolharam e deram sorrisos contidos, a Cacilda levou um cigarro, importado do extremo oriente, até a boca e tragou e a sensação de prazer extremo, a fez relaxar. Ela fechou bem os olhos, viu uma mesa ao longe do tempo e do espaço. Sentados, estavam um casal, era um senhor teuto, alto austero, de meia idade, de olhos verdes cálidos, bem-vestido de terno e gravata italianos, nos pés um confortável sapato francês. Na outra ponta, estava uma jovem mulher esquálida, de aparência, de uma meretriz barata, que pega no meio no meio da rua e se leva para um beco escuro.

       E o homem tirou do bolso, um pequeno pacote de plástico, com um pó branco dentro. O homem, delicadamente, fez duas carreiras na mesa de vidro e tirou um pequeno canudo de cristal, do bolso esquerdo do terno feito sob medida.

       Não demorou muito tempo, para dois homens negros corpulentos, de ascendência norte-africana, apareceram e olharam de forma severa, para o homem de meia idade, um deles colocou, a mão no ombro do teuto e apontou para a porta de saída. Constrangidos, o casal exótico se retirou discretamente, deixando para trás o pó branco na mesa.

          — Mana, pensei que este era um clube exclusivo! E não uma pocilga barata qualquer — Falou a entediada Cacilda, ela levou o cigarro até o cinzeiro e bateu no cigarro.

         — Claro que é, ora essa! Os dois são amiguinhos do Otto, minha querida irmã! Faz uma hora, que estes dois indivíduos foram expulsos do clube. O doutor Otto, gosta de comprometer os seus aliados da ocasião. — Enfática declarou Camilla.   

        Cacilda, que estava vestida, com um diáfano penhoar transparente, com rendas nos antebraços, usava meia calça arrastão transparente, uma lingerie vermelha, ressaltando as curvas do corpo farto, nos delicados pés havia sandálias japonesas tradicionais. No ombro esquerdo, estava tatuado com as palavras, em fonte japonesa: ‘’O meu corpo me pertence! ’’. Na boca pequena, um batom carmim cintilante, os longos e lisos cabelos platinados, que quedavam até a cintura, emolduravam o belo rosto delicado de uma mulher. Com o seu corpo incorpóreo, de pele amendoada bem tratada e o rímel ressaltava os olhos castanhos rasgados. Ela levou um copo de Saquê Massú pequeno, até a boca, com as pontas dos dedos das duas mãos, ela sorveu a bebida oriental, as mãos tremiam.

         — Então, tu queres uma noite, com a Madame Butterfly? — Perguntou Camilla à irmã mais jovem com tom de deboche, e finalizou depois de uma breve pausa! — Sua cretina!

        — Então? As câmeras do Clube! Ainda estão transmitindo? — Perguntou Cacilda, tentando desconversar.

       — Otto! — Falou estarrecida Camilla!

       — Ele pensa que está no controle! E antes que tu me perguntes, eles ainda não chegaram. — Avisou Cacilda a irmã mais velha.

         Camilla, a irmã mais jovem, usava um hobby floral cinza claro, que ia até os joelhos, as flores de cerejeira Sakura, que decoravam o robe de seda, davam um tom sedutor. E o cabelo negro, reluzente e volumoso, penteado para trás, ressaltavam as maçãs do rosto, os intensos olhos negros, contornados por rimem preto cintilante e na boca carnuda um batom azul escuro. Nos pés, vestiam sandálias japonesas, ricamente decoradas de forma artesanal.

       — Estão chegando, os dois, os gêmeos! — Falou Camilla e depois levou o bico do narguilé até a boca, o aroma de hortelã, tomou conta do lugar quanto ela soltou a fumaça no ar.

      — Será que o conselho, vai gostar das nossas fotografias? — Perguntou Cacilda, que tremeu ao proferir essas palavras e prosseguida tensa — E a infinitude? Como será? Um dia vamos transcender?

       Camilla, levou a mão à boca e pediu silêncio, semicerrou os olhos, levou a mão ao copo de saquê e bebeu lentamente, aproveitando cada gota da bebida oriental. As câmeras que as vigiavam do alto das paredes, pararam de funcionar.

       — Chegaram! Estão perto e vê se acalma mulher! E quanto a Madalena, ela é uma sonhadora, como uma vampira e sedenta como uma loba faminta, em noites de lua cheia. Ela é uma típica criatura da noite, minha querida irmã. Deixamos a futanari, para depois — A voz sedutora da Camilla, deixou a outra ainda mais nervosa e excitada.

        Dois homens altos, atléticos de ascendência germânica, adentraram no Hellfire Club, pela porta da frente. Eram jovens e bronzeados, na casa dos vinte anos, estavam vestidos como surfistas itinerantes. As irmãs, felizes, se entreolharam, se levantaram de onde estava, caminharam, estavam a poucos metros à frente dos dois irmãos gêmeos idênticos. A cada passo que davam, as câmeras de vigilância se desligavam, assim como os monitores de vigilância externos, que se desligavam, assim que minutos antes os dois homens se aproximavam da porta da entrada do Hellfire Club.

       O quarteto, passou ao largo de várias mesas, onde casais diversos e improváveis, felizes se confraternizavam, o quarteto adentrou por um corredor estreito e vazio. Luzes vermelhas, nas paredes de teto alto, deixavam o corredor na semiescuridão. O quarteto passou por várias salas vazias e pararam em uma sala vazia, ao final do corredor. No alto da sala privativa, estava escrito em fonte bold amarelo luminescente: O quarto escuro do intenso prazer. As irmãs, deram as mãos, caminharam e a porta abriu sozinha, os dois irmãos entraram na sequência. A escuridão abissal tragou o quarteto.  

        Minutos depois o vai e vem, o sobe e desce dos corpos femininos nus, demoraram um pouco, para se sincronizar o ritmo. E não demorou muito, para que o intenso prazer, jorrarem dos corpos incorpóreos delas. Elas de mãos dadas apertadas, um leve beijo entre as duas selaram a irmandade de ambas. A noite só estava começando.  

 

Fragmento do livro: Em perpétuos ciclos, por Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina.

Argumento de Clarisse Cristal, bibliotecária, contista, novelista e poetisa em Balneário Camboriú, Santa Catarina. 

 

Opera Mundi sétima parte: Do diário negro diário de Luna Dark 1ª parte!!!

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

 

 Em noites de tempestade!

E ventos álgidos...

Eu vagueio solitária...

E languidamente!

Pelo mítico vergel da solidão...

Choro e sofro!

Todas as dores do mundo!

Pelo amor que se foi,

Por tudo aquilo que não veio...

E por tudo aquilo que nunca virá.

 

            Começo este relato, não como uma justificativa dos meus atos, nem querendo me humanizar, diante de olhares alheios. Simplesmente eu peguei uma caneta e papel e recomecei este diário, um tanto abandonado. Recorro a este hábito analógico, não porque eu sou avessa a atual avalanche tecnológica digital, em que vivo. Recorro a este expediente, um tanto démodé, porque quero me voltar a mim mesma e mais ninguém.

            Eu deixei um emprego público, onde eu trabalhava em uma pequena repartição pública colegiada, em uma pequena cidade. Fica na minha memória, um horrível uniforme laranja berrante e uns colegas que, no mínimo, posso dizer que eram estranhos à minha pessoa. Mas, eu não quero aqui, me ater a essa passagem em específico, e sim no passo que dei, que me levou para onde estou agora. Pois este meu primeiro passo na máquina pública, me levou ao segundo passo, um bom passo à frente.  

            Por agora, eu ocupo um cargo de assessora parlamentar, no segundo escalão, eu devidamente concursada, da presidência de um parlamento local, de uma das maiores cidades do estado, em que vivo atualmente. E são quase cem quilômetros de distância, da cidade em que moro. Entre idas e vindas, em compromissos profissionais, pessoais e familiares, entre uma cidade e outra. Eu ainda fui frequentar uma faculdade, em uma terceira cidade, na capital do meu estado. E eu entrei em uma rotina, bem acelerada a bem da verdade, rotina que adorei posso dizer.

           E com o tempo, que corre como se tivesse asas nos pés, eu percebi que a simples troca de uma burocracia fiscalizadora do executivo local, para uma burocracia parlamentar, não foi assim um grande passo à frente. Só troquei de um uniforme funcional, para um uniforme formal, só troquei uma burocracia litorânea enviesada, para uma burocracia teuta, tudo isto em cidades de interior.  

            Entre idas e vindas da rígida burocracia parlamentar, as saídas com os meus colegas de trabalho, em choperias e bares, a oportunidade de fazer um curso de teatro amador, uma luz se acendeu. E eu tinha começado o meu enlace, com Yendel, que conheci no trabalho, outra luz se acendeu. Yendel, foi assim que o renomeei, ele riu do codinome que lhe dei e, riu mais ainda, depois que eu disse, que eu não gostava do nome dele, nome de pessoa velha, que lhe deram ao nascer.     

           E assim como as tênues luzes se acenderam, logo se apagaram e veio as escuridões, pois tudo mudou em um instante apenas, quando eu estava sentado em meio ao público. Eu estava na minha função, tomando notas, do que ocorria no parlatório. Um homem desconhecido e bem alinhado, uma pessoa, que eu nunca tinha visto na vida, ele apareceu do nada vindo de lugar algum. Era um homem alto, loiro, corpulento e olhos claros faiscantes, de terno feito sob medida. Sem nada dizer tocou o meu ombro, olhou para cima e ele me entregou um convite, para mim era um convite pelo menos. Um papel dobrado, amarelado, envelhecido que exalava a morte, escuridão e loucura.

            Era um convite de fato, vi quando eu abri, vi o emblema amarelo ornando o papel, o convite com horário, data e local e estava assinado assim: De Cassilda e Camilla. Sai do meu corpo, eu não fazia isso sempre, pelo menos e nunca em público. Flanei a poucos metros acima, eu pude observar o homem estranho, que estacionado a poucos centímetros de mim, uma aura amarela pútrida e, eu pude sentir no meu âmago, os eflúvios de mortes, loucuras, fundas vermelhidões e muitas perversidades, que emanava daquele ser estranho. Possivelmente um habitante de Carcosa. 

            Voltei para o meu corpo, e olhei para cima e o sujeito tinha desaparecido, fechei os olhos e procurei a criatura e não encontrei em lugar algum. Fui trazida para a realidade de forma abrupta, era o ponto no meu ouvido, era a minha chefe, dizendo que eu estava dispensada do trabalho naquela noite. Eu deveria voltar para casa e só voltar no que seria dois dias depois. Estranho? Muito para aquele ambiente cheio de formalidades!

            E mais ainda quando olhei com mais atenção, para o convite nas minhas mãos, o sigilo amarelo falava comigo, ou parecia falar. Então eu estava livre para ir até o endereço do convite? Um alerta gritou dentro de mim, um enorme não vá! Mas no ambiente, onde eu estava naquela altura, eu aprendi a duras penas, a não questionar ordens vindas dos andares superiores. E o mais estranho de tudo, que era na cidade onde eu vivia e o local do encontro, um lugar que nunca frequentei, mas conhecia bem a má fama do ambiente. Claro que eu sabia quem eram Cassilda e Camilla e o que significava o emblema amarelo. O que eu não sabia era que, de fato, elas queriam ter comigo. Eu estava mais que tranquila, no meu exílio voluntário, no mundo em vigília.

            Já no dia seguinte eu me preparei para o encontro com as duas míticas negras ninfas da noite. O encontro se deu no mal-fadado Hell-fire Club, lugar infame na minha cidade, como era a noite somente das mulheres, deixava as coisas mais fáceis, para mim pelo menos.

Chegando no lugar, no hall de entrada eu vi muitas mulheres de topless, andavam de cima para baixo, carregando bandejas atulhadas de bebidas variadas e várias marcas de cigarros. Eram mulheres lindas, de negros cabelos curtos, pequenas e eram todas iguais, iguais demais para a minha opinião. Afinal era a noite das meninas e eu esperava outra coisa. Revi o cenário, diante de mim e pude notar que não era bem assim, pois quase todas as garçonetes, para além de sandálias romanas pretas, micro shorts, pequenos seios à mostra. E notei, que algumas delas, usavam delicados e sofisticados diademas amarelos, ornando as cabeças.

Como era a noite somente das mulheres, no Hell-fire Club, em uma happy hour animada, eram mulheres de todas as idades e etnias, bem-posicionadas e estavam usando roupas casuais de trabalho. Algumas das mulheres, estavam usando esplendorosos diademas amarelos, para o meu espanto, aquelas peças reluzentes de ouro branco e incrustadas de joias raras, de novo o sigilo amarelo estava em todas as peças.

            E assim que entrei e passei pelo hall de entrada, eu estranhei que não havia seguranças e ninguém me pediu o convite, como emblema amarelo. Ao mergulhar em meio a escuridão do ambiente, percebi ao fundo estava Madalena Assumi. Ela, indo até um suntuoso piano de cauda, um Cristal Heintzman, a famosa pianista e performance, estava usava o famoso uniforme de hussardo e ostentava o seu inconfundível diadema amarelo, no alto da cabeça. As luzes se acenderam e a pianista então se curvou para a audiência, que a retribuiu com vivas a aplausos esfuziantes. A diva Madalena, assumiu o seu lugar ao piano, logo nos primeiros rápidos dedilhados nas teclas, reconheci a música Uma canção para Cassilda. Como a música era executada alta demais, eu baixei a música ao mínimo possível.

            Fechei os olhos e encontrei rainha Cassilda e a princesa Camilla, elas sentadas na terceira mesa, no lado esquerdo da pista de dança, longe do pequeno palco. Então reuni todas as minhas forças e fui ao encontro as duas afras do Lago Hali.

 

Fragmento do livro: Sustentada no ar por asas fracas, de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Argumento de Samuel da Costa, poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

 

Opera mundi: Fallen

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

‘’Hoje eu largaria tudo

Para ouvir o seu coração,

Te sentir bem perto de mim.

Eu estou sentindo

O meu coração apaixonado,

Intenso como um menino

Amando pela primeira vez. ’'

Clarisse da Costa

 

           Que grata surpresa, foi Madalena, como ela se comportou, uma grande e grata surpresa, muito bem guardada e resguardada sabe-se lá onde e como. E que ritmo, ora selvagem, ora suave e ora como um vulcão, em erupção e ora como um eflúvio, de rosas frescas matinais.

           Madalena conduziu tudo, como uma maestrina experiente, diante de uma filarmônica inteira, de uma só pessoa. E foi assim, que Lenny pensou, entre o sono abissal e o despertar abrupto, na alvorada rubra, do raiar de um novo dia. E a visão da outrora Madalena servil, simplesmente desvaneceu por completo, desapareceu na calada da noite e com o alvor de um novo dia.

           Lenny, a fotógrafa de profissão, estava muito angustiada e pensou nas vantagens e nas desvantagens de acordar e vê-la deitada ao lado. Lenny, por fim, venceu o sono profundo, os muitos pensamentos atrozes e levou a mão ao lado, e ela não estava mais lá. Um alívio, imediato e uma tristeza profunda, sentimentos que se misturavam e se completavam. O inconfundível olor, de café fresco, vindo da cozinha, dava a pista de onde Madalena estava. E Lenny, soube que ela estava onde deveria estar, estava preparando o café da manhã, das duas, como sempre fazia pela manhã. Era Madalena dando as cartas como sempre, pensou a fotógrafa e algo mudou dentro dela. 

         A fotógrafa se recompôs, pois ela é uma profissional, ela se comportou naquela hora. Deitada na cama, Lenny repassou friamente, o que tinha ocorrido de fato, no dia anterior. E Lenny, se lembrou da intensa sessão de fotografias do dia anterior, como tudo ocorreu de forma sincronizada, igual a um relógio. As duas belas modelos plus size negras, estavam perfeitas, a produção e direção de Madalena, estavam mais que perfeitas. Madalena, ajustava as lingeries e os quimonos, aos corpos das modelos, que foram usadas, ajustava as luzes do ambiente. Madalena, conduzia as modelos, com graças e delicadezas, abria e fechava as janelas, apagando e acendendo as luzes, dos abajures e dos cômodos. Madalena, arrumava os cabelos, fazia e refazia as maquiagens, movia e retirava, pequenos objetos, móveis e arranjos de flores e dava direção nas poses. Usava a velha e eficiente polaroide, na pré-produção das fotografias, ajustava os tripés e interagia de forma natural, com as duas modelos. Para Lenny, ficou somente o encargo de escolher, qual o cômodo da casa iriam ocorrer as fotografias, escolher as analógicas máquinas fotográficas e por fim, dar os cliques. As palavras, a serem usadas, para definir a secção de fotografias, não poderiam ser outra, senão: perfeição, total sincronia, liberdade, elegância, sedução, feminilidade e pura emoção negra.

        E depois da sessão de fotografias, garrafas de vinhos tintos foram abertas, taças de cristal ao alto e os bramidos evoés, saudações para Baco e Dionísio, charutos e cigarros mentolados, foram degustados. E depois? O que houve? Deitada na cama extasiada, Lenny não se recordava ao certo, do que havia ocorrido. E a fotógrafa de profissão, teve que ir até o palácio das memórias, para pinçar as imagens perdidas.

          E Lenny, acessou as imagens difusas e as falas melodiosas. Madalena, deu um beijo lascivo em uma das modelos, Cacilda a irmã mais velha, e a mais sombria. E depois beijou, de forma suave, os lábios carnudos da outra modelo, Camilla a irmã mais nova, a flor do dia. As duas modelos, ainda usam as suas sensualíssimas lingeries, pés descalços e mais nada.

         E Lenny, teve que encontrar, em outro recanto mais profundo, mais escuro, mais obscuro, do seu palácio das memórias, para completar o que faltava na cena. Foram trocas de números de telefones pessoais, entre Madalena e as duas modelos, e as duas se despedindo na porta da frente do solar, no alvor, na alvorada rubra, na tardinha. Lenny, tentou e tentou novamente, recordar o que as três falavam, mas os lábios sedutores se moviam e as falas se perdiam no ar, no tempo e no espaço. Era uma língua estranha, notou Lenny, quase alienígena.

        E uma ponta de ciúmes, brotou em Lenny, na hora dos beijos, ao recordar as cenas, no término da sessão de fotografias. E sem pedir licença, a imagem da servil Madalena desaparecia por completo e surgia uma outra mulher, sedutora e dona de si. Uma Madalena desafiadora, dona do seu próprio corpo, da sua sexualidade e identidade de mulher plena.

           Deitada na cama e completamente nua, Lenny tinha que pensar o que fazer com Madalena, e relutou, mas era bem simples, a dispensa da assistente de produção seria inevitável. Madalena, aprendeu tudo que tinha que aprender com Lenny, agora era hora dela, a dedicada assistente de produção, procurar seu próprio caminho. Era um fato, um fato consumado há se resolver ao final do dia, e outro assunto surgiu, quem é de fato Madalena? Uma pergunta que nascia, crescia e morria, na consciência intranquila de Lenny, como um segredo bem guardado, um segredo que ora a envolvia, ora se afastava dela.

          Outro fato estranho que veio, sem aviso algum, na mente confusa de Lenny, naquele momento de digressão interna. O inusitado, fato ocorrido uma pouco antes da sessão de fotografias, era um drone, um sofisticado drone de vigilância e tático a nível militar. O sofisticado aparelho militar, simplesmente caiu do alto, e foi parar no meio do jardim decrépito, do solar dos Blumenthau. O jardineiro, que iria trabalhar na recuperação do jardim, devastado pelo tempo e pelas intempéries do clima. O trabalhador, que foi fazer um levantamento do que o decadente vergel precisaria, o homem simples veio muito apavorado ter com Madalena, para relatar o fato ocorrido inusitado. E Madalena estupefata, veio ter com Lenny, dizer que um estranho aparelho, estava no meio do jardim, uma peça negra de uns setenta centímetros, com quatros hélices laterais.

             Lenny, foi ver o tal do aparelho e chegando ao jardim logo a fotógrafa notou o drone de vigilância e tático, uma peça bélica, um instrumento militar, notou Lenny, assim que colocou os olhos na peça. A fotógrafa, notou as quatro câmeras multifocais de alta definição, na parte de baixo do drone e não se atreveu em pedir para o jardineiro levantar a peça militar, para ver se havia ou não uma arma, acoplada embaixo do aparelho bélico. Lenny reconheceu a peça bélica, pois tinha feito um curso rápido de fotografia, feitas por drones e por ser uma arma tática, o fato fez gelar o âmago da fotógrafa.

           Lenny, logo deduziu, que a sofisticada máquina bélica, deveria ter simplesmente dado uma pane e caído, não de muito alto, pois a peça não estava danificada. O aparelho militar, por lá ficou, no jardim o dia inteiro e a fotógrafa, logo anteviu militares fortemente armados, na verdade a inteligência militar, ou de alguma agência do serviço secreto, invadindo a sua residência. Agentes do aparato de segurança, eles fortemente armados, interditando o solar dos Blumenthau, fazendo mil perguntas. E por fim, todos os envolvidos, assinando termos de sigilo, de silêncios absolutos. Nada disso aconteceu e o que fazer com o aparato militar, ficaria para outro um momento, pelo menos naquele dia.    

          Lenny, ainda no conforto do leito, voltou à realidade em que vivia, ela sentiu o cheiro de café fresco passado, café que Madalena colheu no jardim do solar e moeu na cozinha no dia anterior. O moedor manual de café, muito antigo, um presente da mãe de Lenny, enviado do vale europeu, assim como o leite colonial que estava fervendo na leiteira.

           No ar, tinha o eflúvio sutil, de queijo Emmental derretido outro presente, mas do pai de Lenny. E também chegou um vislumbre da imagem, da agora da delicada Madalena, se movendo, graciosamente, com seus pés pequenos de bailarina chinesa. Ela se movendo, de um lado para outro, da ampla cozinha da casa da fotógrafa, como se fosse um lento bailado, de um teatro asiático.

         E veio a pergunta na mente de Lenny: Como a misteriosa Madalena chegou e aportou na vida dela, de Lenny? Uma resposta bem simples, foi uma indicação da secretária pessoal de Otto Blumenthau, o pai de Lenny, o influente político, o empresário de sucesso e o filantropo reconhecido. Uma sobrinha, vindo do recôndito mais afastado do interior, disse a discreta e eficiente secretária do pai de Lenny. Disse ela, entre um cafezinho e outro, em uma perdida tarde, no suntuoso e funcional escritório político de Otto Blumenthau.

            Lenny foi ver o pai, que vinha da capital e estava ocupado como sempre, dando expediente. Foi quando Lenny confidenciou para a jovem senhora, que trabalhava havia anos, com o pai da fotógrafa. A fotógrafa profissional, disse para a assistente do pai, que precisava de um assistente pessoal e de produção, para fazer pequenas tarefas diárias, do estúdio e da casa. Logo Lenny, deduzido, na distância segura, no tempo e no espaço, sempre era ele, o pai de Lenny, sempre o velho político habilidoso, sutil. Ele que se esgueirava pelas frestas e caminhava através das negras sombras e controlando tudo e a todos, até onde as mãos dele alcançavam. Madalena era uma indicação de Otto Blumenthau.

         Mas era hora de se levantar, sair da letargia matinal, do conforto da cama, com seus lençóis de linho, de linha egípcia e travesseiros de penas de gansos. Passou da hora de ter com Madalena uma boa, longa e definitiva conversa. E de repente veio, sem aviso, o som estridente do processador de alimentos, que inundou o ambiente onde Lenny estava. E ela pensou estar ouvindo agudos sons de finos cristais, sendo triturados ferozmente. E a fotógrafa de profissão, fez outro balanço e resolveu o que faria, ao final do dia, à tardinha teria a tal conversa, com a assistente de produção.

        A fotógrafa, se ergueu da cama e se dirigiu, como estava até a cozinha e ela teve a visão de Madalena, terminando de preparar o café matinal. Ela estava linda, sorridente, vestia um delicado quimono vermelho e estava colocando os aparelhos do café na mesa. A mesa estava preparada para duas pessoas e Madalena olhou para Lenny e sorriu. Era um sorriso que desmontou a fotógrafa por completo e também foi um prelúdio que uma coisa muito grave e ruim estava por vir. O sorriso ebúrneo de Madalena a denunciava.

  

Fragmento do livro: Em perpétuos ciclos, por Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina.

Argumento de Clarisse Cristal, bibliotecária, contista, novelista e poetisa em Balneário Camboriú, Santa Catarina.