sábado, 1 de fevereiro de 2025

LEANDRO, POR QUE TRABALHAR COM ENCADERNAÇÃO EM UM MUNDO CADA VEZ MAIS DIGITAL?

 Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)


Essa é uma pergunta recorrente hoje em dia. Como não estou sozinho nesse ofício — muito antes pelo contrário e ainda bem, tamanha a quantidade de pessoas boas a compartilhar dessa paixão — fui atrás de alguns dados que pudessem sustentar a importância desse trabalho e responder a essa pergunta.

Todos os seres vivos se comunicam de alguma forma, mas somente os seres humanos possuem o que chamamos linguagem, podendo essa chegar há mais de 50.000 anos. O que iniciou com uma linguagem gestual, evoluiu para a fala e depois para a escrita.

Mas você sabia que a atual geração está lentamente perdendo essa capacidade?

Está certo, tudo evolui! Hoje existem automóveis e não mais carros puxados a cavalo; não é mais preciso acender lampiões, basta acionar o interruptor de luz, ou mesmo a Alexa. A tecnologia está aí para melhorar tudo, não é isso?

Então… precisamos conversar!

Com a era digital, a maioria das pessoas, principalmente os jovens, está perdendo o conhecimento de regras básicas de escrita. O problema não seria tão sério se esses conhecimentos, cada vez mais atrofiados, segundo estudos da Universidade de Stavanger, na Noruega, apontar que 40% vêm perdendo a fluência na caligrafia.

Só isso?!

Não! Além da caligrafia ilegível, do desconforto físico cada vez maior em escrever à mão, as pessoas estão possuindo pouca familiaridade para elaborar ideias mais complexas em textos e sequer conseguem construir frases coerentes e parágrafos significativos.

Ah, então você está a dizer que devemos abandonar a tecnologia e voltarmos aos tempos das pinturas rupestres?

É claro que não! A tecnologia é algo presente e é benéfica nas nossas vidas, veio para ficar e somente um louco a ignorá-la. Inclusive, ela é de muito auxílio a pessoas com algum tipo de limitação motora nesse campo mesmo da própria escrita e em outras atividades. O problema é quando fazemos uso abusivo dela sem necessidade justificável, tornando-a o único caminho e privando-nos de nós mesmos. Não é por acaso que especialistas (nem precisava ser) defendem e essencialidade de reservar um tempo para a prática da escrita à mão sempre que possível, alternando-a com a digital. Essa simples atitude pode nos salvar da extinção motivada pela preguiça cada vez maior de simplesmente “pensar”.

“Pensar para que se a IA faz isso para nós”?

Bem, a Inteligência Artificial até pode resolver também esse problema cognitivo, mas a custo de ver perder algo que nos acompanha há milhares de anos: a nossa própria capacidade humana de criar, de nos comunicarmos e existirmos. É isso que queremos?

Deixo aqui essa pergunta, mas quero dizer o seguinte: sou um defensor da tecnologia. A utilizo, e muito, em meus trabalhos, inclusive na encadernação. Onde vocês acham que faço os meus projetos, desenhos de cadernos e livros? Estamos aqui neste blog, não estamos? Também possuo redes sociais…

Apenas defendo a possibilidade de caminharmos de mãos dadas com todos os recursos tecnológicos, sem perder a nossa condição de ser gente, a nossa habilidade de pensar, de sentir, por nós mesmos, o mundo maravilhoso que nos cerca.

E como é bom registrá-lo não apenas em selfie… podemos fazer isso em algo saído de nós, com a nossa individualidade e personalidade. E isso a escrita à mão nos proporciona. Dúvida? Experimente!

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