Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
‘’Entre janelas abertas
E outras fechadas,
Em tons obscuros
Ninguém quer se
machucar.
Suponho que todo mundo
Quer dar risadas
Sem ter hora para
acabar...’’
Clarisse da Costa
Ao pender do céu e tocar o alto da Turris Ebúrnea, Luna Dark caminhou
triunfante ao passar pelo portal da entrada do salão principal da câmara
ardente. A semideusa parou e escaneou cada canto e recanto da Igreja ebúrnea, o
outro nome dado a Turris Ebúrnea. Luna Dark não sentiu um vestígio da presença
do vate Yendel, nem uma centelha sequer, no Palácio das Memórias Perdidas, o
outro dado nome Turris Ebúrnea, estava vazia.
E antes de prosseguir, a sonhadora em vigília, sentiu uma brisa gélida, então
olhou para trás e reviu a enlouquecida Ismália, em prantos, se atirando do
alto da torre. A semideusa, fechou os olhos e bloqueou a mente, pois não queria
vê-la novamente se banhar em luar, ao descer ao mar e vê-la criar celestiais
asas e subir aos céus. E ao adentrar um pouco mais na câmara ardente, Luna
decidiu se elevar e flanar. Ela não queria tocar o chão, ela não queria ativar
alguma sentinela robô Erbore, mesmo a semideusa tendo a completa certeza de ali
não ter nenhuma sentinela.
Luna Dark adentrou triunfante, na completa escuridão do amplo corredor da
Turris Ebúrnea, a afra rainha viu os grandiosos místicos espelhos da verdade
Dorian Gray, postados ao longo do corredor. A Luna Dark, a afra rainha, a
semideusa, não tinha tempo a perder, ela não queria ver o que havia no seu
âmago, no seu interior. Luna Dark, quebrou todos os espelhos, conforme avançava
no negro cósmico do amplo corredor, que seria a antessala do salão principal da
magnificente Turris Ebúrnea. Os místicos espelhos da verdade Dorian Gray
explodiram e, um a um, se evanesceram em finos nanos-pedaços dos vidros
quebrados, que trespassaram Luna Dark, como se ela não existisse, como se ela
não estivesse ali.
Ao chegar no salão principal, a semideusa tocou ao chão e percebeu que estava
plena, completa e mais uma vez vasculhou cada nano centímetro, e lá estavam as
centelhas, da presença do vate Yendel. As centelhas, se expandiram mais e mais,
eram sons amenos de cítolas, cítaras e cravos, irmanados dançavam felizes os
dois, o vate Yendel e a fada de ébano Luna, em meio aos convidados em um baile
de máscaras. Apesar das máscaras, a afra rainha Luna Dark, reconheceu cada um
dos convidados e das convidadas, ela reconheceu cada etnia debaixo das
máscaras.
Depois, um recital, Yendel com uma lira nas mãos, o
vate recitava uma balada pós-moderna, Luna Dark era o texto recitado. Ao lado
do vate, vestido com trajes típicos, um pintor dalit trabalhava em um
esplendoroso quadro, em tamanho natural da negra rainha Luna Dark. A sonhadora
em vigília, se voltou para trás e, se deliciou ao ver um bem alinhado, trajado
à moda ocidental, um escultor tonga, ele em uma bancada trabalhando na madeira
de ébano, era uma pequena estatueta. Era uma outra versão, uma versão diminuta
da negra ninfa Luna Dark, em seu esplendor máximo. Depois de evoé foi
bradado, dali a pouco o palco estaria aberto para o recital, solenemente
anunciou o vate Yendel.
Então as luzes se apagaram e Yendel anunciou o mergulho na sidérea escuridão, a
peça teatral O rei de amarelo seria executada e os dois estavam sozinhos no
salão principal, e as cortinas se abriram.
E então, a sonhadora em
vigília, retornou para a realidade em que se encontrava, Luna Dark, por fim
encontrou o que tanto procurava, o vate Yendel nunca deixava a Turris Ebúrnea.
O vate Yendel, nunca sobreviveria longe da Turris Ebúrnea. O negro coração da
afra rainha, se encheu de horror com a ideia, de imaginar a consciência astral
de vate, compactada e adormecida no mundo em vigília. A negra fada Luna Dark,
fechou os olhos e viu a entrada da Turris Ebúrnea e as sentinelas robô Erbore,
que foram ativadas por alguém ou algo. Naquela hora extrema, o óbvio para a
afra rainha, seria voltar para o mundo em vigília, deixar a terra dos sonhos
para nunca mais voltar! E reencontrar a centelha do Yendel, o vate cibernético.
Fragmento do livro: Sustentada
no ar por asas fracas, de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e
bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.
Argumento de Samuel da Costa,
poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
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