sábado, 1 de fevereiro de 2025

Opera Mundi quarta parte: A Turris Ebúrnea

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

 

‘’Ofereço-te negra fada

Da floresta negra

Todo o meu etéreo amor

Em tempos de guerras

 De atrozes desesperos

E dores atrozes’’ 

Samuel da Costa

           

            — Eu quero ir até a Turris Ebúrnea! — Disse Luna Dark incisiva, para a comandante Bartira, sentada a poucos centímetros dela.

            A militar de alta patente, olhou profundamente, para a outra na frente dela, um tanque robô se aproximou das duas, com duas bandejas de prata, o mavioso som mecânico, das esteiras, em movimento chamou a atenção de Luna. A afra rainha olhou perdidamente o ajudante de ordens mecanizado. Era um modelo Aparai AS1, o primeiro modelo de vigilância e ataque. A sonhadora em vigília, sentiu um desconforto ao olhar de outro ângulo, para o aparelho militar, que foi convertida a um mero ajudante de ordens. No topo do tanque robô, onde deveria ter um canhão positrônico, havia um pequeno platô, onde repousavam as duas bandejas. A sonhadora em vigília, não pode deixar de notar os ricos e delicados detalhes artesanais decorativas chávenas, das bandejas, do aparelho de chá de porcelana e da taça de cristal.   

            O ajudante de ordens, que lentamente trazia duas bandejas de prata, trazia um aparelho com chá de ayahuasca e outra bandeja com um balde de prata, com gelo e uma garrafa de champanhe rosé e uma taça de um fino cristal. O ajudante de ordens, dispôs, lentamente com os dois pares de pinças de titânio, as duas bandejas na mesa de centro. A máquina, serviu Luna primeiro, abriu a garrafa e encheu a taça, depois serviu a comandante Bartira e depois se retirou lentamente. O barulho das esteiras em movimento inundou o camarote particular da comandante Bartira. A imagem das pinças do ajudante de ordens, se movimentando, ficaram na mente de Luna e dali não saíram tão cedo.   

            As duas mulheres ergueram as mãos com as suas respectivas bebidas, deram um estrondoso evoé, ecoaram o tilintar da fina taça e da xícara de porcelana, degustaram as bebidas. O sinfônico estribilho, da xícara de porcelana e da taça de cristal se encontrando, fez a sonhadora em vigília, lembrar de outra vida longínqua que um dia teve, em um lugar perdido, onde um molho de chave tilintava no ar.

        Um silêncio glacial se abateu, a comandante se levantou e se moveu até a janela do camarote e olhou para baixo.

            — A milady tem um pedido a fazer? Alguma pergunta? — Falou a militar de alta patente, ela que olhava para baixo e ignorava a fala inicial da afra rainha. E olhando lá embaixo, Bartira contemplava perdidamente uma embarcação interestelar Baka, o tamanho portentoso da espaçonave de combate, fez encher de orgulho a comandante. Luna Dark fechou os olhos, viu a comandante Bartira e percebeu que a face da militar tinha mudado mais uma vez, metamorfoseou para uma mulher escandinava. Os olhos azuis, cabelos louros e de alta estatura desconcertavam a afra rainha.   

            — Milady! Tem um dizer popular, da terra de onde eu venho, que diz assim: A um gato no telhado, que faz tirar o sono de todos! — Falou ríspida a militar de alta patente, que tinha se virado para olhar para a outra.

— Eu quero ir até a Turris Ebúrnea! — Disse Luna Dark, para a comandante Bartira, outra vez.

— Pois bem! Recebi ordens, uma é de levá-la até a Turris Ebúrnea, coisa que a senhora não pode fazer sozinha, como todos sabemos! — Disse a militar com ênfase, a militar andou até a afra rainha e olhou profundamente para ela. E um átimo, as duas foram teletransportadas para o deserto desolado, abaixo do dirigível Mare Crisium. Elas estavam flutuando acima de destroços, de um enorme modelo Aparai AS1, municiado com mísseis de fragmentação e canhões lasers, ao lado de um portentoso galeão espanhol, era o San José. Estavam encalhados em meio as níveas areias quentes, acima os dois sóis gêmeos perenes, lançavam a ondas de calor escaldante.

— E as outras ordens? — Perguntou a sonhadora em vigília, não tirando os olhos azuis da escandinava na frente dela.

— A cidadania da afra rainha, foi revogada em definitivo! Vou levá-la até a Turris Ebúrnea, a morada do Vate e a milady poderá ir até o palácio das memórias perdidas. A afra rainha, poderá ir até câmara-ardente e depois terá que retornar para o exílio, para o mundo em vigília e nunca mais voltar para a terra dos sonhos. — Falou a comandante Bartira, como se estivesse à frente de um subordinado qualquer.

Não muito longe dali, uma nuvem negra, se formou no horizonte negro e avançou sobre as duas mulheres, eram as agorentas negras aves Moris. A negra revoada, cobriu as duas mulheres, os estridentes, grasnares eram altos e se confundiram com gritos lancinantes de dores. Os sons agudos de carnes sendo dilaceradas por açoites, o forte cheiro de pólvoras queimadas, carne frescas incineradas, inundaram a mente da afra rainha.

As duas mulheres, foram teletransportadas de voltaram para a ponte do dirigível Mare Crisium, as duas mulheres, uma defronte da outra. Uma pequena com um uniforme de gala de hussardo, usando coturnos nos pés, com a pele amendoada e os olhos rasgados. E outra, uma mulher enorme, com ares da nobreza oriental, estava vestida com uma alabastrina túnica Núbia, sandálias greco-egípcio, nos pulsos adornados com braceletes e nas orelhas brincos núbios, incrustados de rubis e safiras, um colar de ouro romano e um diadema amarelo incrustado de diamantes na cabeça.

 

 Fragmento do Livro: Sustentada no ar por negras asas fracas, texto de Clarisse Cristal, poetisa, contista, cronista, novelista e bibliotecária em Balneário Camboriú, Santa Catarina.

 

 

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