Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
‘’Ofereço-te negra fada
Da floresta negra
Todo o meu etéreo amor
Em tempos de guerras
De atrozes desesperos
E dores atrozes’’
Samuel da Costa
— Eu
quero ir até a Turris Ebúrnea! — Disse Luna Dark incisiva, para a
comandante Bartira, sentada a poucos centímetros dela.
A militar de alta patente, olhou profundamente, para a outra na frente dela, um
tanque robô se aproximou das duas, com duas bandejas de prata, o mavioso som
mecânico, das esteiras, em movimento chamou a atenção de Luna. A afra rainha
olhou perdidamente o ajudante de ordens mecanizado. Era um modelo Aparai AS1, o
primeiro modelo de vigilância e ataque. A sonhadora em vigília, sentiu um
desconforto ao olhar de outro ângulo, para o aparelho militar, que foi
convertida a um mero ajudante de ordens. No topo do tanque robô, onde deveria
ter um canhão positrônico, havia um pequeno platô, onde repousavam as duas
bandejas. A sonhadora em vigília, não pode deixar de notar os ricos e delicados
detalhes artesanais decorativas chávenas, das bandejas, do aparelho de chá de
porcelana e da taça de cristal.
O ajudante de ordens, que lentamente trazia duas bandejas de prata, trazia um
aparelho com chá de ayahuasca e outra bandeja com um balde de prata, com gelo e
uma garrafa de champanhe rosé e uma taça de um fino cristal. O ajudante de
ordens, dispôs, lentamente com os dois pares de pinças de titânio, as duas
bandejas na mesa de centro. A máquina, serviu Luna primeiro, abriu a
garrafa e encheu a taça, depois serviu a comandante Bartira e depois se retirou
lentamente. O barulho das esteiras em movimento inundou o camarote particular
da comandante Bartira. A imagem das pinças do ajudante de ordens, se
movimentando, ficaram na mente de Luna e dali não saíram tão cedo.
As duas mulheres ergueram as mãos com as suas respectivas bebidas, deram um
estrondoso evoé, ecoaram o tilintar da fina taça e da xícara de porcelana,
degustaram as bebidas. O sinfônico estribilho, da xícara de porcelana e da taça
de cristal se encontrando, fez a sonhadora em vigília, lembrar de outra vida
longínqua que um dia teve, em um lugar perdido, onde um molho de chave
tilintava no ar.
Um silêncio glacial se abateu, a comandante se levantou e se moveu até a janela
do camarote e olhou para baixo.
— A
milady tem um pedido a fazer? Alguma pergunta? — Falou a militar de
alta patente, ela que olhava para baixo e ignorava a fala inicial da afra
rainha. E olhando lá embaixo, Bartira contemplava perdidamente uma embarcação
interestelar Baka, o tamanho portentoso da espaçonave de combate, fez encher de
orgulho a comandante. Luna Dark fechou os olhos, viu a comandante Bartira e
percebeu que a face da militar tinha mudado mais uma vez, metamorfoseou para
uma mulher escandinava. Os olhos azuis, cabelos louros e de alta estatura
desconcertavam a afra rainha.
— Milady!
Tem um dizer popular, da terra de onde eu venho, que diz assim: A um gato no
telhado, que faz tirar o sono de todos! — Falou ríspida a militar de
alta patente, que tinha se virado para olhar para a outra.
— Eu quero ir até a
Turris Ebúrnea! — Disse Luna Dark, para a comandante Bartira, outra
vez.
— Pois bem! Recebi
ordens, uma é de levá-la até a Turris Ebúrnea, coisa que a senhora não pode
fazer sozinha, como todos sabemos! — Disse a militar com ênfase, a
militar andou até a afra rainha e olhou profundamente para ela. E um átimo, as
duas foram teletransportadas para o deserto desolado, abaixo do dirigível Mare
Crisium. Elas estavam flutuando acima de destroços, de um enorme modelo Aparai
AS1, municiado com mísseis de fragmentação e canhões lasers, ao lado de um
portentoso galeão espanhol, era o San José. Estavam encalhados em meio
as níveas areias quentes, acima os dois sóis gêmeos perenes, lançavam a
ondas de calor escaldante.
— E as outras
ordens? — Perguntou a sonhadora em vigília, não tirando os olhos
azuis da escandinava na frente dela.
— A cidadania da afra
rainha, foi revogada em definitivo! Vou levá-la até a Turris Ebúrnea, a morada
do Vate e a milady poderá ir até o palácio das memórias perdidas. A afra
rainha, poderá ir até câmara-ardente e depois terá que retornar para o exílio,
para o mundo em vigília e nunca mais voltar para a terra dos sonhos. — Falou
a comandante Bartira, como se estivesse à frente de um subordinado qualquer.
Não muito longe dali, uma
nuvem negra, se formou no horizonte negro e avançou sobre as duas mulheres,
eram as agorentas negras aves Moris. A negra revoada, cobriu as duas mulheres,
os estridentes, grasnares eram altos e se confundiram com gritos lancinantes de
dores. Os sons agudos de carnes sendo dilaceradas por açoites, o forte cheiro
de pólvoras queimadas, carne frescas incineradas, inundaram a mente da afra
rainha.
As duas mulheres, foram
teletransportadas de voltaram para a ponte do dirigível Mare Crisium, as duas
mulheres, uma defronte da outra. Uma pequena com um uniforme de gala de
hussardo, usando coturnos nos pés, com a pele amendoada e os olhos rasgados. E
outra, uma mulher enorme, com ares da nobreza oriental, estava vestida com uma
alabastrina túnica Núbia, sandálias greco-egípcio, nos pulsos adornados
com braceletes e nas orelhas brincos núbios, incrustados de rubis e safiras, um
colar de ouro romano e um diadema amarelo incrustado de diamantes na cabeça.
Fragmento do Livro:
Sustentada no ar por negras asas fracas, texto de Clarisse Cristal, poetisa,
contista, cronista, novelista e bibliotecária em Balneário Camboriú, Santa
Catarina.
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