segunda-feira, 1 de setembro de 2025

CRÔNICA DO DIA: A DAMA DO LAGO (SEGUNDA PARTE)

 Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

‘’Palavras são insuficientes para descrever e resumir tudo que passei.

Mas, minha mente inquieta e acelerada ousa desvendar o passado,

Passado no qual nunca obtive respostas. Recordo-me de tudo. ’’

Fabiane Braga Lima

 

            O portentoso veleiro branco Bismark terceiro, estava ancorado em um paupérrimo decadente deck de ancoragem, os passantes da avenida, estavam acostumados a verem a luxuosa embarcação, complacentemente ancorada naquele lugar ermo. Geralmente eram simples encarnações de pesca marítima, que ali se aportavam, antes de partirem para as pescarias em alto mar. E o veleiro branco Bismark terceiro, com frequência deixava o litoral, subia o grande rio e ali atracava, para receber o seu proprietário Julius Karl Gross. O rico e discreto financista, amava velejar pelo alto mar e odiava os ambientes das cidades costeiras e evitava ao máximo permanecer nesses ambientes, que para ele eram insalubres e liberais.

            O que também era frequente, ver e ouvir o casal Gross discutir, pois fazia isso em público, antes de embarcar no veleiro, Margarida Buerger Gross, mulher pequena e austera, parecei não gostar dessas aventuras marítimas, em alto mar. E naquela manhã, no alvor outonal, enquanto a tripulação abastecia do veleiro Bismark terceiro, o casal de meia idade, chegou em um carro último tipo, que desembarcou com as suas poucas malas de viagens. Estavam mudos, nervosos e visivelmente desconfortáveis, o senhor Gross carregava uma pequena maleta de mão, para viagem, vestia um terno elegante, que geralmente usa quando estava em grandes negociações ou em momentos críticos. Já Margarida Buerger Gross, elegantemente vestida, trajava um vestido Ugo Boss, em tons de branco gelo e amarelos claros. Não eram roupas para viagens marítimas, pelo menos não para viagens longas, logo os olhos e ouvidos dos habitantes do lugarejo. Eles deduziram que o casal de meia idade, não iria longe, estavam indo para a capital possivelmente, sussurravam as línguas ligeiras. Então um jovem marinheiro, apressadamente vai até o carro do casal e do porta-malas, tirando duas pequenas malas de viagens. O casal Gross atravessou o precário deck de madeira, os dois cumprimentam a pequena tripulação e uma escadaria desacopla do estibordo da embarcação e rapidamente sobem a escadaria. Adentra a ponte de comandando e vão se instalar na cabine privativa do casal Gross.      

            E uma música alto brotou do veleiro, parecia sair da cabine privativa do casal Gross, trespassava a ponte de comando do capitão e chegava na proa da embarcação à vela. Um lamento negro em língua inglesa, Strange Fruit de Billie Holiday. Mas afinal, quem eram Julius Karl Gross e Margarida Buerger Gross? Julius Karl Gross, filho e neto de austríacos, suíços e alemães recentemente chegados ao novo mundo. Ele nascido no novo mundo, ele um dinâmico homem de negócios bem sucedido, poliglota, racionalista educado no velho mundo e integrado ao ambiente em que nasceu. E Margarida Buerger Gross dividia a mesma origem do marido, sendo uma mulher à frente do seu, fotografa, pintora e poetisa. Na juventude, foi uma das primeiras mulheres a ter permissão para dirigir, a pilotar, para espantos de muitos, era vista em bares e casas noturnas tomando as suas cervejas e dançando. Assim como o marido, estudou na velha Europa e fez breves viagens aos países do norte da América. Curiosamente, oriundos da mesma região, o casal foi se conhecer em uma viagem ao continente negro, estavam visitando as pirâmides do Egito.

            Uma discussão irrompeu na proa do veleiro, em rompante, de muitos que tiveram, Margarida Buerger Gross desembarcou do Bismark terceiro adentra do veículo do casal e parte para rumo desconhecido. E o veleiro abastecido, 

 

***

Nota do dia

 

            As margens do lago Xokleng, a quietude das águas paradas e o silêncio sepulcral repousava o corpo sem vida de uma mulher teuta de meia idade, ao lado do corpo sem vida uma máquina fotográfica profissional. Lugar ermo, pouco frequentado, o corpo sem vida foi encontrado pelo trabalhador do ramo madeiro Adélio dos Santos. Santos relata que encontrou o corpo sem da mulher, que aparentemente não demonstrava sofrer qualquer ato violento e que deveria ter morrido de causas naturais. Inquérito sobre o que estava fazendo no lugar ermo, Santos disse que estava a serviço da empresa de madeira em que trabalha. Se a fotografia da mulher falecida.

Do Jornal a Tribuna da Tarde.       

              

 

Fragmento do livro: Do diário de uma louca, texto de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária em Balneário Camboriú, Santa Catarina.

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