segunda-feira, 1 de setembro de 2025

TERRIM...TERRIM...TERRIM...

 Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal) 

 

O telefone toca. Quem será!?

Era a amiga de minha mulher, que queria combinar a visita a sua casa. Era assim outrora, no tempo em que a sociedade convivia e, conversar era uma arte.

Desmudaram-se os tempos.

Agora quando o ouço tilintar, quer seja o fixo ou o móvel, logo penso: " lá vem " injeção"...

Ainda não decorreram muitos anos – ao levantar o auscultador, ouvi deliciosa voz juvenil, tratando-me pelo nome. Disse-me que era responsável por Infantário, e queria levar os petizes à praia. Mas havia crianças, cujos pais não podiam pagar. Lembrou-se de me telefonar, porque certamente seria católico, e daria donativo para suprir essa despesa.

Respondi-lhe que se fosse dar a todos, que me pedem, teria que ir pedir à porta de igreja, como o Mendigo de Camargo.

Alterou-se a menina, argumentando que vinte euros não faziam falta a ninguém, e certamente não queria impedir que, meninos pobres, fossem divertir-se à praia.

 E como lhe dissesse que não; nem conhecia o Infantário. Levantando a voz, atirou-me a praga: " Deus queira que não tenha, um dia, ir pedir à porta de igreja", e desligou brutamente.

O telefone que é objeto útil, transformou-se numa praga:

Terrim ...terrim .... É a empresa telefónica que quer oferecer novo serviço, que não me interessa. Começa a batalha de palavras. Guerra que só termina quando lhe digo a conhecida expressão – " Não é não"

A cada passo telefonam-me: é a concorrente que me oferece melhores vantagens. E os enganos, que chegam do país e de fora, são às dúzias, ...

                  Chego a ouvir o terrim ...terrim..., mais de meia dúzia, por dia! mas agora, quando não conheço o número, desligo.

Teimosamente continua a tilintar: de: manhã, à hora e almoço, de tarde, à noite...até de madrugada!... São em regra confidenciais: incomodam... mas não querem ser incomodados...

O que hei-de fazer? Se a crise maior da sociedade, é de educação; esta, há muito se ausentou, mesmo a elite, que se orgulha de graus académicos ou de nobreza – republicana ou monárquica...

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