Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
O telefone
toca. Quem será!?
Era a amiga de minha mulher,
que queria combinar a visita a sua casa. Era assim outrora, no tempo em que a
sociedade convivia e, conversar era uma arte.
Desmudaram-se os tempos.
Agora quando o ouço tilintar,
quer seja o fixo ou o móvel, logo penso: " lá vem " injeção"...
Ainda não decorreram muitos
anos – ao levantar o auscultador, ouvi deliciosa voz juvenil, tratando-me pelo
nome. Disse-me que era responsável por Infantário, e queria levar os petizes à
praia. Mas havia crianças, cujos pais não podiam pagar. Lembrou-se de me
telefonar, porque certamente seria católico, e daria donativo para suprir essa
despesa.
Respondi-lhe que se fosse dar a
todos, que me pedem, teria que ir pedir à porta de igreja, como o Mendigo de
Camargo.
Alterou-se a menina,
argumentando que vinte euros não faziam falta a ninguém, e certamente não
queria impedir que, meninos pobres, fossem divertir-se à praia.
E como lhe dissesse que não; nem conhecia o
Infantário. Levantando a voz, atirou-me a praga: " Deus queira que não
tenha, um dia, ir pedir à porta de igreja", e desligou brutamente.
O telefone que é objeto útil,
transformou-se numa praga:
Terrim ...terrim .... É a
empresa telefónica que quer oferecer novo serviço, que não me interessa. Começa
a batalha de palavras. Guerra que só termina quando lhe digo a conhecida
expressão – " Não é não"
A cada passo telefonam-me: é a
concorrente que me oferece melhores vantagens. E os enganos, que chegam do país
e de fora, são às dúzias, ...
Chego a ouvir o terrim ...terrim..., mais de meia dúzia, por dia! mas
agora, quando não conheço o número, desligo.
Teimosamente continua a
tilintar: de: manhã, à hora e almoço, de tarde, à noite...até de madrugada!...
São em regra confidenciais: incomodam... mas não querem ser incomodados...
O que hei-de fazer? Se a crise
maior da sociedade, é de educação; esta, há muito se ausentou, mesmo a elite,
que se orgulha de graus académicos ou de nobreza – republicana ou monárquica...
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