Por Fátima Paraguassú (ALB, Santa Cruz de Goiás, GO)
Sei que poesia não se
explica, mas, houve um tempo, eu era pontual no horário de jogar água nas
plantas, pela manhã. Assim que abria a porta da sala, vislumbrava no fio de
energia elétrica, próximo ao poste, um beija-flor. Bastava esguichar água nas
plantas e lá vinha ele. Sobrevoava uma (trepadeira), em especial, ao lado da
piscina. Durante o tempo em que eu ficava ali, ele também ficava. Parecíamos
cumplices: o beija-flor, as plantas e eu. Hoje devido a minha inconstância de
horário, infelizmente o pássaro sumiu, as plantas continuam no mesmo lugar.
Daqueles momentos nasceu este poema.
Pela
manhã bem cedinho, um altivo passarinho,
Espreita-me
por um fio.
Olha-me
sorrateiro,
Como
quem chega primeiro, propondo um desafio.
As
plantas olham-me, aflitas,
como
quem água cogita,
Numa
sede sagaz.
O
beija-flor comovido, quando a minha imagem vê;
Desce
todo encantado, sobrevoa as plantas, ao meu lado;
Dou-lhe
água a beber.
Enquanto
abebero o jardim florido,
Desce
e sobe altiveiro, o pequeno, sorrateiro:
Um
voar tão delicado. Não faz nem um ruído.
Ficamos
ali, alguns minutos:
O
beija-flor, as plantas e eu.
Conversamos
animados:
As
plantas choram a devastação das matas,
Falo,
eu, das bravatas,
O
pássaro lamenta a falta da flor.
Quando
acaba o ritual
Cada
qual seu rumo segue.
Nossos
corações batem fortes,
Esperando
com euforia,
O
reencontro matinal.
A
cada nova manhã, tudo recomeça,
Para
nós três é uma festa,
Esta
cumplicidade de amigos.
Nosso
encontro é interessante:
Asas,
folhas e línguas soltas.
Falamos
de tudo um pouco:
Política,
meio ambiente, música,
Esporte.
Um bla- bla- bla total!
E,
assim, nossas vidas se esvaem.
Cada
dia um pouquinho:
As
plantas, eu e o passarinho!
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