segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O BEIJA-FLOR, AS PLANTAS E EU

Por Fátima Paraguassú (ALB, Santa Cruz de Goiás, GO)

Sei que poesia não se explica, mas, houve um tempo, eu era pontual no horário de jogar água nas plantas, pela manhã. Assim que abria a porta da sala, vislumbrava no fio de energia elétrica, próximo ao poste, um beija-flor. Bastava esguichar água nas plantas e lá vinha ele. Sobrevoava uma (trepadeira), em especial, ao lado da piscina. Durante o tempo em que eu ficava ali, ele também ficava. Parecíamos cumplices: o beija-flor, as plantas e eu. Hoje devido a minha inconstância de horário, infelizmente o pássaro sumiu, as plantas continuam no mesmo lugar. Daqueles momentos nasceu este poema.

Pela manhã bem cedinho, um altivo passarinho,
Espreita-me por um fio.
Olha-me sorrateiro,
Como quem chega primeiro, propondo um desafio.

As plantas olham-me, aflitas,
como quem água cogita,
Numa sede sagaz.
O beija-flor comovido, quando a minha imagem vê;
Desce todo encantado, sobrevoa as plantas, ao meu lado;
Dou-lhe água a beber.

Enquanto abebero o jardim florido,
Desce e sobe altiveiro, o pequeno, sorrateiro:
Um voar tão delicado. Não faz nem um ruído.

Ficamos ali, alguns minutos:
O beija-flor, as plantas e eu.
Conversamos animados:
As plantas choram a devastação das matas,
Falo, eu, das bravatas,
O pássaro lamenta a falta da flor.

Quando acaba o ritual
Cada qual seu rumo segue.
Nossos corações batem fortes,
Esperando com euforia,
O reencontro matinal.

A cada nova manhã, tudo recomeça,
Para nós três é uma festa,
Esta cumplicidade de amigos.

Nosso encontro é interessante:
Asas, folhas e línguas soltas.
Falamos de tudo um pouco:
Política, meio ambiente, música,
Esporte. Um bla- bla- bla total!

E, assim, nossas vidas se esvaem.
Cada dia um pouquinho:

As plantas, eu e o passarinho!

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