Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Vivemos num mundo muito visual. Para muitas pessoas
a aparência está em primeiro lugar e isso inclui o corpo perfeito. A estética é
do padronismo não importando o caráter
e os sentimentos da pessoa. Quero deixar
claro que eu escrevo essa matéria com base a minha realidade e a realidade de
muitas pessoas.
Eu sou deficiente físico, assim como costumam me
falar. Eu superei muitas coisas, até o supermercado. Consigo comprar coisas
para mim. Eu uso um andador para caminhar na rua e talvez por isso a rejeição
de muitas pessoas. Eu fui rejeitada em 2018 por um homem que dizia me amar por
conta disso.
Eu sou escritora, faço cursos, tenho conhecimento e
mesmo assim a minha capacidade é sempre testada. Mas eu nunca tive vergonha de
mim sempre me aceitei. Porém, o meu maior desafio é namorar. Eu sou linda
demais como dizem as pessoas, mas não aceitável por conta das minhas limitações
físicas.
Nas
fotografias eu sou a mulher perfeita. Como eu disse no início dessa matéria
vivemos num mundo muito visual. O preconceito é tão grande na humanidade que já
existe aplicativos para pessoas com deficiência arrumarem namorado.
Tudo isso porque os ditos normais não aceitam não
assumem. Querem perfeição e não amor. Muitos que topam se relacionar é por
curiosidade. Nada algo sério, apenas uma noite. Normalmente é sempre as
escondidas, nada algo em público para as pessoas não verem.
Meu pai sempre me conta que na sua adolescência as
pessoas eram presas dentro de casa pelas suas famílias, pois tinham vergonha de
seus filhos.
Infelizmente a deficiência ainda é relacionada à
incapacidade. Eu percebo como as pessoas me tratam principalmente os homens. A
maioria dos homens buscam uma mulher que não existe eles gostam da beleza
externa. O corpo da mulher é sempre símbolo de prazer.
Como podemos perceber a deficiência não é encarada
com normalidade. No passado as pessoas com deficiências, seja física e mental,
eram tratadas como indivíduos possuidores de demônios e por consequência eram
queimados como bruxas.
Mas com o passar dos anos isso foi mudando um pouco
com o surgimento de hospitais de caridade e asilos. Ali eles eram abrigados e
cuidados. No período do final da década de 70 deu-se início ao movimento das
pessoas com deficiência. Até meados de 1979 as pessoas eram consideradas
invisíveis. Elas eram dignas de caridade e não de cidadania.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
dados de 2020, no Brasil temos mais 12,5 milhões de brasileiros com
deficiência. Isso corresponde 6,7% da população no país. Mas não tem como falar
de deficiência sem falar de inclusão. A inclusão social traz oportunidades. No
entanto, enquanto a pessoa com deficiência não for tratada com naturalidade,
como indivíduo capacitado a inclusão não será posto em prática no país todos.
É muito chato ter que depender da piedade das
pessoas! Muitas vezes a ajuda oferecida não vem de bom coração. E ainda nos
perguntam: Você consegue? Nem sequer nos dão a oportunidade de tentar.
Clarisse da Costa é cronista, poetisa
e artesã, em Biguaçu, SC
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
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