sexta-feira, 1 de outubro de 2021

ENTRE CRÔNICAS E VERSOS

 Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

Reflexão: Seja feliz por você

Não fique procurando por um amor. Quanto mais a gente procura, mais a gente se magoa. Falo isso por experiência própria. Acho que o amor acontece quando tem que acontecer, de forma natural. Dê um tempo a si mesmo. Às vezes vale a pena chorar de tanta felicidade pelas nossas conquistas do que por quem sequer soube nos amar.

Vire a página e escreva uma nova história. Sentir falta de ter alguém, de deitar a cabeça no seu colo, de ter aquele apoio, faz parte, é natural. Mas não podemos nos anular e esquecer quem somos.

Deixe o tempo conduzir tudo. Em algum momento da vida vai aparecer aquela pessoa que te valorize, que te respeite, que te ame e te assuma. Caso contrário, não se abale, fique sozinha, abrace seus planos, construa novos sonhos…

Estar sozinha não é algo ruim. A solidão só é horrível quando não encontramos mais motivos para viver e lutar pelos nossos sonhos.

Faça o seguinte, dance pela sala, ouça a sua melhor música, comemore tudo que você conquistou. Tome uma bebida ou um suco. Mas seja feliz por você.

 

Carta às Mulheres Pretas

Dedicado à minha Amiga Cléo

Eu passei uma vida inteira sem ter uma amiga preta. Na escola eu me sentia perdida no meio de tantas crianças brancas. Eu era indisfarçável ao mesmo tempo que eu era isolada. Eu já vivia a tal da solidão da mulher preta. Os sentimentos se misturavam. Eu não conseguia entender tudo que me acontecia, as hostilidades, o preconceito… As palavras ditas doíam mais que a falta de amigos. Parecia que o meu maior erro foi ter nascido.

E a gente cresce, deixa de ser criança e novas realidades vêm. De repente surge aquela urgência em entender tudo.

Eu precisei perder para me encontrar. Eu perdi o berço da minha herança, do meu amor. Eu perdi a minha mãe em 2015. E aos 35 anos parei para pensar em tudo que me aconteceu na infância e adolescência.

Entender o racismo não é nada fácil, passar por todo o processo sozinha é pior ainda. Continuei sem aquela amiga preta. Sem referência, o que na escola também não tinha.

Em 2016 conheci a minha primeira amiga preta e significou muito. Podemos juntas, mesmo que à distância enfrentar nossos medos, chorar tudo que tiver que chorar, sorrir tudo que tiver que sorrir. Vi nela um pedaço de mim.

Eu busquei as minhas referências e vi em mim outra mulher. Confesso que eu tenho gostado muito. Estou lutando por mim e por todas. 

Não importa os erros, as quedas. Não somos perfeitos, assim como a vida não é perfeita e nunca será. Posso dizer que o meu lugar de paz é quando eu estou escrevendo. Eu deixo o mundo lá fora.

Ser escritora me colocar no lugar de destaque, onde toda mulher preta deve estar. O papel de mulher vitoriosa. Claro, a luta continua. Ainda há muito a se vencer. Resgatar nossa ancestralidade, nossa autonomia e autoestima é fundamental.

Somos pretas, mas temos sensibilidade e podemos sim ser doce ao mesmo tempo que somos fortes.


Cristo Pai

O maior pai é Cristo

Ele nos acolhe

E todos os dias

Nos ensina a amar

Na sua plenitude.

Ele está presente

Nas diversas face.

No preto velho

Atirado no chão

Sem nenhuma compaixão.

Na senhora mãe

Buscando o que de comer

Para seus filhos.

Na favela condenada

E marginalizada.

Cristo preto

Do afeto e do respeito.

Cristo Pai da favela,

Das mazelas

E da senzala

Que a sociedade construiu;

Preto da periferia

Da guerra do dia a dia

Da resistência manchada

De sangue;

Do choro e

Da fome que o consome;

Da mãe com o filho morto

Condenado e abandonado,

Cristo de todas as lutas!

Pai do infinito amor.


Renascer dentro de mim

Hoje o sol não quis saber de mim, deixei a janela fechada e cá estou subscrevendo o cotidiano. Eu me vi querendo me encontrar. Renascer entre flores e sorrisos.

Eu acordei querendo um pouco mais de mim.  Ver novas flores florescerem no meu quintal, o perfume de cada uma entrando no meu quarto.

Eu vi nos meus olhos a sutileza das poesias e do amor puro que sempre quer andar pelos caminhos da felicidade.

Também vi a saudade sublinhando papéis rabiscados, traçados da vida com todos os seus segredos. Que tantos seres mal sabem o sentido de se viver na verdade. De não profanar palavras falsas.

Hoje eu decidi estar inteira para mim. Pulei alguns capítulos do livro e decidi escrever coisas novas. O engraçado é que a trilha sonora não muda. Djavan é como o pé de hibisco no meu quintal, sempre floresce.  E os sons da vida me convida a dançar pela sala.

 

 

 

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