Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Reflexão:
Seja feliz por você
Não fique procurando por um amor. Quanto mais a
gente procura, mais a gente se magoa. Falo isso por experiência própria. Acho
que o amor acontece quando tem que acontecer, de forma natural. Dê um tempo a
si mesmo. Às vezes vale a pena chorar de tanta felicidade pelas nossas
conquistas do que por quem sequer soube nos amar.
Vire a página e escreva uma nova história.
Sentir falta de ter alguém, de deitar a cabeça no seu colo, de ter aquele
apoio, faz parte, é natural. Mas não podemos nos anular e esquecer quem somos.
Deixe o tempo conduzir tudo. Em algum momento
da vida vai aparecer aquela pessoa que te valorize, que te respeite, que te ame
e te assuma. Caso contrário, não se abale, fique sozinha, abrace seus planos,
construa novos sonhos…
Estar sozinha não é algo ruim. A solidão só é
horrível quando não encontramos mais motivos para viver e lutar pelos nossos
sonhos.
Faça o seguinte, dance pela sala, ouça a sua
melhor música, comemore tudo que você conquistou. Tome uma bebida ou um suco.
Mas seja feliz por você.
Carta
às Mulheres Pretas
Dedicado à minha Amiga Cléo
Eu passei uma vida inteira sem ter uma amiga
preta. Na escola eu me sentia perdida no meio de tantas crianças brancas. Eu
era indisfarçável ao mesmo tempo que eu era isolada. Eu já vivia a tal da
solidão da mulher preta. Os sentimentos se misturavam. Eu não conseguia
entender tudo que me acontecia, as hostilidades, o preconceito… As palavras
ditas doíam mais que a falta de amigos. Parecia que o meu maior erro foi ter
nascido.
E a gente cresce, deixa de ser criança e novas
realidades vêm. De repente surge aquela urgência em entender tudo.
Eu
precisei perder para me encontrar. Eu perdi o berço da minha herança, do meu
amor. Eu perdi a minha mãe em 2015. E aos 35 anos parei para pensar em tudo que
me aconteceu na infância e adolescência.
Entender o racismo não é nada fácil, passar por
todo o processo sozinha é pior ainda. Continuei sem aquela amiga preta. Sem
referência, o que na escola também não tinha.
Em 2016 conheci a minha primeira amiga preta e
significou muito. Podemos juntas, mesmo que à distância enfrentar nossos medos,
chorar tudo que tiver que chorar, sorrir tudo que tiver que sorrir. Vi nela um
pedaço de mim.
Eu
busquei as minhas referências e vi em mim outra mulher. Confesso que eu tenho
gostado muito. Estou lutando por mim e por todas.
Não importa os erros, as quedas. Não somos
perfeitos, assim como a vida não é perfeita e nunca será. Posso dizer que o meu
lugar de paz é quando eu estou escrevendo. Eu deixo o mundo lá fora.
Ser escritora me colocar no lugar de destaque,
onde toda mulher preta deve estar. O papel de mulher vitoriosa. Claro, a luta
continua. Ainda há muito a se vencer. Resgatar nossa ancestralidade, nossa
autonomia e autoestima é fundamental.
Somos pretas, mas temos sensibilidade e podemos
sim ser doce ao mesmo tempo que somos fortes.
Cristo
Pai
O
maior pai é Cristo
Ele
nos acolhe
E
todos os dias
Nos
ensina a amar
Na
sua plenitude.
Ele
está presente
Nas
diversas face.
No
preto velho
Atirado
no chão
Sem
nenhuma compaixão.
Na
senhora mãe
Buscando
o que de comer
Para
seus filhos.
Na
favela condenada
E
marginalizada.
Cristo
preto
Do
afeto e do respeito.
Cristo
Pai da favela,
Das
mazelas
E
da senzala
Que
a sociedade construiu;
Preto
da periferia
Da
guerra do dia a dia
Da
resistência manchada
De
sangue;
Do
choro e
Da
fome que o consome;
Da
mãe com o filho morto
Condenado
e abandonado,
Cristo
de todas as lutas!
Pai
do infinito amor.
Renascer
dentro de mim
Hoje o sol não quis saber de mim, deixei a
janela fechada e cá estou subscrevendo o cotidiano. Eu me vi querendo me
encontrar. Renascer entre flores e sorrisos.
Eu acordei querendo um pouco mais de mim. Ver novas flores florescerem no meu quintal,
o perfume de cada uma entrando no meu quarto.
Eu
vi nos meus olhos a sutileza das poesias e do amor puro que sempre quer andar
pelos caminhos da felicidade.
Também vi a saudade sublinhando papéis
rabiscados, traçados da vida com todos os seus segredos. Que tantos seres mal
sabem o sentido de se viver na verdade. De não profanar palavras falsas.
Hoje eu decidi estar inteira para mim. Pulei
alguns capítulos do livro e decidi escrever coisas novas. O engraçado é que a
trilha sonora não muda. Djavan é como o pé de hibisco no meu quintal, sempre
floresce. E os sons da vida me convida a
dançar pela sala.
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