Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Zacimba Gaba
O poder de uma mulher não está só na beleza,
mas na vontade de vencer todos os obstáculos que são dados a ela.
Digamos que a mulher é uma guerreira o que na
mitologia não existia. E a mulher negra tem essa representatividade. Muitas
foram às mulheres negras guerreiras.
Zacimba Gaba foi uma delas. Zacimba Gaba além de guerreira era uma
princesa. E dizem que princesas negras não existem. Mas há relatos na história
do mundo que no Brasil existiu mesmo essa princesa. O cenário dessa história se
inicia pela África.
Tempo em que prosperidade e riqueza não
passavam de uma realidade por lá. O continente africano sem a colonização era
outro mundo.
A princesa ao lado de seus pais governava sua
tribo numa tranquilidade. Livre podia cantar sem o medo de lhe ouvirem e ter
que fugir.
Ali no seu reino tinha a sua liberdade. Mas
para a sua má sorte veio à colonização. A sua existência lhe tirou a liberdade
e sua alegria.
Zacimba Gaba, princesa da Angola, fora
capturada e assim, levada para o navio com destino ao Brasil.
No Brasil foi escravizada e comprada por um
Barão no norte do Espírito Santo. Nessas terras ela foi parar no ano de 1690.
Chegando a casa grande encontra outros
africanos e estes a recebem como princesa que sempre foi na Angola. Fato que
lhe trouxe castigos severos pelo Senhor de escravos. O Barão proibiu sua saída
da casa e começou a lhe castigar.
No entanto ela resistiu até o fim. Em nenhum
momento desistiu da luta, tinha que libertar seu povo. O plano era acabar com o
Barão e fugir com todos daquele lugar. E isso aconteceu de fato com a ajuda dos
outros negros. Ela durante anos envenenou o Barão com um veneno feito a partir
da cabeça de uma cobra, a jararaca. Assim que o Barão, o conhecido José
Troncoso, morreu essa guerreira liderou a fuga de seu povo. Juntos formaram um quilombo, num lugar onde
hoje fica Itaúnas. Este serviu de refúgio para negros da região.
Mas para a princesa a libertação de seu povo
não era o suficiente, queria fazer muito mais, ajudar aqueles que chegavam dos
navios no Porto de São Mateus em precárias condições. Zacimba lutou até o fim.
Sobre sua morte não há relatos, mas acredito que ela morreu em combate como uma
guerrilheira que foi.
Maria Firmina dos Reis
Ao longo do tempo procurando saber mais sobre
nossas origens descobrimos que não sabemos nem a metade de nossa história e por
fim acabamos descobrindo muito mais coisas sobre nós negros.
Por muitas vezes escrevi sobre Maria Firmina
dos Reis e não pensei que agora fosse encontrar particularidades sobre ela. Uma
mulher guerreira que tanto fez pelo seu povo na época da escravatura.
Lendo alguns artigos, pesquisando aqui e ali
veio até a minha pessoa a fascinante história do primeiro romance brasileiro
escrito por ela, contrariando o sistema machista deste país. Como se não
bastasse isso contrariando o sistema racista.
Lançado em 1859, Úrsula é uma obra escrita por
Maria Firmina dos Reis. Uma revolução para a literatura brasileira naquela
época. Esta obra também é considerada o primeiro romance abolicionista no
Brasil.
Esse romance, conta com uma história de amor
ultrarromântica de Úrsula e Tancredo. O livro é considerado uma obra polêmica,
pois traz uma narrativa onde tem como tese a falta de um romance negro. A
narrativa traz um ponto de vista interno sobre a escravidão.
Em seu relato de vida sobre a escravidão Maria
Firmina diz: ‘’Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e
de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio’’. Trinta dias de cruéis
tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos
nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a
mercadoria humana no porão, fomos amarrados em pé e, para que não houvesse
receio de revolta, acorrentados como animais ferozes das nossas matas, que se
levam para recreio dos potentados da Europa.
Maria Firmina dos Reis, Úrsula fora filha de
mãe branca e pai negro, nascida em São Luís no dia 11 de agosto de 1860 no
estado de Maranhão. Na sua escrita havia uma particularidade, os escravos eram
sempre nobres e generosos. Provavelmente um desejo imenso por igualdade.
Mas sua genialidade não parou na escrita, ela
foi a primeira mulher aprovada em um concurso público no Maranhão.
Não pensem que foi fácil para ela, afinal de
contas Maria Firmina era mulher negra. Por vezes passou pelo silenciamento de
sua obra. Houve um período que sua obra ficou esquecida por décadas sendo
recuperada em 1962.
Carta de uma Poetisa
Olá. Eu sou poetisa, mas também humana. Choro
as dores como também sorrio as alegrias. Todo o meu amor não cabe somente em
palavras floridas de versos poéticos e sim num universo paralelo entre o céu e
a terra, o meu coração.
Vi o tempo passar diante de mim, os números da
minha idade cresceram e relataram os quilômetros que andei. Esse mesmo tempo
não teve piedade de mim, queria correr sem olhar para trás.
Do nada perdi meu maior tesouro e tive que ser
forte de qualquer jeito. E mesmo assim não tive o reconhecimento. Sou
questionada o tempo todo. De repente me vi a amar... Um amor sem pressa, sem
cobrança... Apenas um amor querendo estar o tempo todo ao lado deste que me faz
sentir.
Mas sem dó de mim me iludiu. E não era ilusão
de criança crendo que do outro lado do arco-íris tem um pote de ouro. Uma
ilusão que gerou rachaduras no meu coração.
Hoje, com tantas rachaduras não sei no que mais
acreditar e o que sentir. Porém sigo sem pensar em olhar pro tempo, ou em algo
que perdi. Sigo pra ser vitorioso.
Se não querem o meu amor, a mulher que sou, o
problema não é meu, tenho mais a dar a vida do que eles a mim.
Vitória é o que será assinalado quando eu
chegar no topo.
Pátria Amada de Sangue
Falou mais alto
O choro do Nêgo,
O canto da dor
Cravado no peito
Como espinhos da flor.
Ergue a bandeira
O lutador
Na esperança
De um dia ver
O nascer da igualdade.
Pátria Amada
Esse teu filho
Não foge da luta,
Mas morre
Sobre o teu solo
Crivado de bala
Sem nenhuma piedade.
Chora de fome,
Grita por igualdade.
Clama por justiça,
Sufoca suas dores,
Pouco sabe o que é felicidade.
Tá na pele a marca
Do teu passado,
O traço da história
Que deu início a sua trajetória.
Sua luta é manchada de sangue.
Não negue
Ao teu filho
O direito de viver com dignidade.
Ele tenta todos os dias aqui
Sobreviver com um pingo
De humanidade.
Fim
Eu não
Tenho mais
Para quem
Escrever.
Tem um
Vazio
De palavras
E sentimentos
Que deixaram
De fazer sentido.
O ninho
Foi desfeito
A dor
Sumiu do peito?
Não sei.
Às vezes
As incertezas
Nos colocam
Em páginas brancas
De histórias
Sem respostas.
(do livro "Oceanos")
Nenhum comentário:
Postar um comentário