sexta-feira, 1 de outubro de 2021

MULHERES NEGRAS

 Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)


Zacimba Gaba 

O poder de uma mulher não está só na beleza, mas na vontade de vencer todos os obstáculos que são dados a ela.

Digamos que a mulher é uma guerreira o que na mitologia não existia. E a mulher negra tem essa representatividade. Muitas foram às mulheres negras guerreiras.   Zacimba Gaba foi uma delas. Zacimba Gaba além de guerreira era uma princesa. E dizem que princesas negras não existem. Mas há relatos na história do mundo que no Brasil existiu mesmo essa princesa. O cenário dessa história se inicia pela África.

 Tempo em que prosperidade e riqueza não passavam de uma realidade por lá. O continente africano sem a colonização era outro mundo.

 A princesa ao lado de seus pais governava sua tribo numa tranquilidade. Livre podia cantar sem o medo de lhe ouvirem e ter que fugir.

 Ali no seu reino tinha a sua liberdade. Mas para a sua má sorte veio à colonização. A sua existência lhe tirou a liberdade e sua alegria.

 Zacimba Gaba, princesa da Angola, fora capturada e assim, levada para o navio com destino ao Brasil.

 No Brasil foi escravizada e comprada por um Barão no norte do Espírito Santo. Nessas terras ela foi parar no ano de 1690.

 Chegando a casa grande encontra outros africanos e estes a recebem como princesa que sempre foi na Angola. Fato que lhe trouxe castigos severos pelo Senhor de escravos. O Barão proibiu sua saída da casa e começou a lhe castigar.

 No entanto ela resistiu até o fim. Em nenhum momento desistiu da luta, tinha que libertar seu povo. O plano era acabar com o Barão e fugir com todos daquele lugar. E isso aconteceu de fato com a ajuda dos outros negros. Ela durante anos envenenou o Barão com um veneno feito a partir da cabeça de uma cobra, a jararaca. Assim que o Barão, o conhecido José Troncoso, morreu essa guerreira liderou a fuga de seu povo.  Juntos formaram um quilombo, num lugar onde hoje fica Itaúnas. Este serviu de refúgio para negros da região.

 Mas para a princesa a libertação de seu povo não era o suficiente, queria fazer muito mais, ajudar aqueles que chegavam dos navios no Porto de São Mateus em precárias condições. Zacimba lutou até o fim. Sobre sua morte não há relatos, mas acredito que ela morreu em combate como uma guerrilheira que foi.

 

Maria Firmina dos Reis 

Ao longo do tempo procurando saber mais sobre nossas origens descobrimos que não sabemos nem a metade de nossa história e por fim acabamos descobrindo muito mais coisas sobre nós negros.

 Por muitas vezes escrevi sobre Maria Firmina dos Reis e não pensei que agora fosse encontrar particularidades sobre ela. Uma mulher guerreira que tanto fez pelo seu povo na época da escravatura.

 Lendo alguns artigos, pesquisando aqui e ali veio até a minha pessoa a fascinante história do primeiro romance brasileiro escrito por ela, contrariando o sistema machista deste país. Como se não bastasse isso contrariando o sistema racista.

 Lançado em 1859, Úrsula é uma obra escrita por Maria Firmina dos Reis. Uma revolução para a literatura brasileira naquela época. Esta obra também é considerada o primeiro romance abolicionista no Brasil.

 Esse romance, conta com uma história de amor ultrarromântica de Úrsula e Tancredo. O livro é considerado uma obra polêmica, pois traz uma narrativa onde tem como tese a falta de um romance negro. A narrativa traz um ponto de vista interno sobre a escravidão.

 Em seu relato de vida sobre a escravidão Maria Firmina diz: ‘’Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio’’. Trinta dias de cruéis tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão, fomos amarrados em pé e, para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa.

 Maria Firmina dos Reis, Úrsula fora filha de mãe branca e pai negro, nascida em São Luís no dia 11 de agosto de 1860 no estado de Maranhão. Na sua escrita havia uma particularidade, os escravos eram sempre nobres e generosos. Provavelmente um desejo imenso por igualdade.

 Mas sua genialidade não parou na escrita, ela foi a primeira mulher aprovada em um concurso público no Maranhão.

 Não pensem que foi fácil para ela, afinal de contas Maria Firmina era mulher negra. Por vezes passou pelo silenciamento de sua obra. Houve um período que sua obra ficou esquecida por décadas sendo recuperada em 1962.


Carta de uma Poetisa

Olá. Eu sou poetisa, mas também humana. Choro as dores como também sorrio as alegrias. Todo o meu amor não cabe somente em palavras floridas de versos poéticos e sim num universo paralelo entre o céu e a terra, o meu coração.

 Vi o tempo passar diante de mim, os números da minha idade cresceram e relataram os quilômetros que andei. Esse mesmo tempo não teve piedade de mim, queria correr sem olhar para trás.

 Do nada perdi meu maior tesouro e tive que ser forte de qualquer jeito. E mesmo assim não tive o reconhecimento. Sou questionada o tempo todo. De repente me vi a amar... Um amor sem pressa, sem cobrança... Apenas um amor querendo estar o tempo todo ao lado deste que me faz sentir.

 Mas sem dó de mim me iludiu. E não era ilusão de criança crendo que do outro lado do arco-íris tem um pote de ouro. Uma ilusão que gerou rachaduras no meu coração.

 Hoje, com tantas rachaduras não sei no que mais acreditar e o que sentir. Porém sigo sem pensar em olhar pro tempo, ou em algo que perdi. Sigo pra ser vitorioso.

 Se não querem o meu amor, a mulher que sou, o problema não é meu, tenho mais a dar a vida do que eles a mim.

 Vitória é o que será assinalado quando eu chegar no topo.


 

Pátria Amada de Sangue

 

Falou mais alto

O choro do Nêgo,

O canto da dor

Cravado no peito

 

Como espinhos da flor.

Ergue a bandeira

O lutador

Na esperança 

De um dia ver

O nascer da igualdade.

 

Pátria Amada 

Esse teu filho

Não foge da luta,

Mas morre

Sobre o teu solo

Crivado de bala

Sem nenhuma piedade.

 

Chora de fome,

Grita por igualdade.

Clama por justiça,

Sufoca suas dores,

Pouco sabe o que é felicidade.

 

Tá na pele a marca

Do teu passado,

O traço da história

Que deu início a sua trajetória.

Sua luta é manchada de sangue.

Não negue

Ao teu filho

O direito de viver com dignidade.

Ele tenta todos os dias aqui

Sobreviver com um pingo

De humanidade.

  

Fim

Eu não

Tenho mais

Para quem

Escrever.

 

Tem um

Vazio

De palavras

E sentimentos

Que deixaram

De fazer sentido.

 

O ninho

Foi desfeito

A dor

Sumiu do peito?

Não sei.

 

Às vezes

As incertezas

Nos colocam

Em páginas brancas

De histórias

Sem respostas.

 

(do livro "Oceanos")

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