quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

CLARISSE CRISTAL EM DIAS DE SOL E CALOR

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Fui eu que deixei...

A cinza das horas...

Levar o meu platônico amor!

Por ti.

Minha divina Luna!

            Alguma coisa eclodiu no âmago, mais que profundo, de Clarisse Cristal naquela hora extrema. A bibliotecária olhava nos olhos de Anna Victória, com voracidade extrema, com uma profundidade abissal para a obtusa colega de trabalho, ela parada a poucos centímetros da bibliotecária. Foi como um turbilhão de sentimentos e sensações contraditórias, que em chamas, eclodiram no jovem corpo de mulher e também na mente da entediada Clarisse Cristal.         

        Os olhos azuis piscina, os longos cabelos trigal soltos, que caem até os ombros, emoldurava o rosto de porcelana, o batom vermelho cereja nos lábios carnudos, os pequenos brincos animal e azul turquesa, o pequeno, cintilante e delicado piercing, com a sua delicada joia cor-de-rosa encravada no nariz, pareciam fazer sentido, somente naquele momento, para desesperada Clarisse Cristal. Até mesmo a voz arrastada e enfadonha dela, transmutou-se, mais que de repente, em um bel canto da mais bela e mística Kianda.

            E em um ato desesperado, em um rompante a jovem bibliotecária Clarisse Cristal tomou Anna Victória pelos braços e lhe deu um beijo ardente na boca. A estupefata Anna Victória foi apanhada em meio a turbilhões de sentimentos contraditórios. Anna Victória pensou primeiro, nas duas câmeras postadas, nos cantos superiores da sala, que estavam retransmitindo em tempo real e gravando a cena toda em alta definição. E na possibilidade de alguém estar assistindo o que ocorria ali ou ver as imagens arquivadas no disco rígido e mais tarde, caírem na rede mundial de computadores, ou mesmo alguém aparecer a qualquer momento exato. E na possibilidade de o namorado ficar sabendo do ocorrido, de uma forma ou de outra. Nas famílias de ambas, que eram bem próximas, nos colegas de trabalho e por fim na outra que a beijava com tanto ardor e a tomava pelos braços de forma vulcânica. Logo ela, que Anna Victória pensava conhecer tão bem.

           E por fim nela mesma e na própria sexualidade, pois ela, Anna Victória, que retribuía faminta não somente o beijo lascivo, mas também os toques da outra.

Texto de Samuel da Costa, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina. 

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

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