Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Fui eu que deixei...
A cinza das horas...
Levar o meu platônico
amor!
Por ti.
Minha divina Luna!
Alguma coisa eclodiu no âmago, mais
que profundo, de Clarisse Cristal naquela hora extrema. A bibliotecária olhava
nos olhos de Anna Victória, com voracidade extrema, com uma profundidade
abissal para a obtusa colega de trabalho, ela parada a poucos centímetros da
bibliotecária. Foi como um turbilhão de sentimentos e sensações contraditórias,
que em chamas, eclodiram no jovem corpo de mulher e também na mente da
entediada Clarisse Cristal.
Os olhos azuis piscina, os longos cabelos
trigal soltos, que caem até os ombros, emoldurava o rosto de porcelana, o batom
vermelho cereja nos lábios carnudos, os pequenos brincos animal e azul turquesa,
o pequeno, cintilante e delicado piercing, com a sua delicada joia cor-de-rosa
encravada no nariz, pareciam fazer sentido, somente naquele momento, para
desesperada Clarisse Cristal. Até mesmo a voz arrastada e enfadonha dela,
transmutou-se, mais que de repente, em um bel canto da mais bela e mística
Kianda.
E em um ato desesperado, em um
rompante a jovem bibliotecária Clarisse Cristal tomou Anna Victória pelos
braços e lhe deu um beijo ardente na boca. A estupefata Anna Victória foi
apanhada em meio a turbilhões de sentimentos contraditórios. Anna Victória
pensou primeiro, nas duas câmeras postadas, nos cantos superiores da sala, que
estavam retransmitindo em tempo real e gravando a cena toda em alta definição.
E na possibilidade de alguém estar assistindo o que ocorria ali ou ver as
imagens arquivadas no disco rígido e mais tarde, caírem na rede mundial de
computadores, ou mesmo alguém aparecer a qualquer momento exato. E na
possibilidade de o namorado ficar sabendo do ocorrido, de uma forma ou de
outra. Nas famílias de ambas, que eram bem próximas, nos colegas de trabalho e
por fim na outra que a beijava com tanto ardor e a tomava pelos braços de forma
vulcânica. Logo ela, que Anna Victória pensava conhecer tão bem.
E por fim nela mesma e na própria
sexualidade, pois ela, Anna Victória, que retribuía faminta não somente o beijo
lascivo, mas também os toques da outra.
Texto
de Samuel da Costa, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
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