quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

COTIDIANO: NÃO HÁ AMOR AQUI

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

      Um teclado voraz, uma boca faminta e tantas facilidades velozes para muitas pessoas, com tantas palavras fluidas falarem de amor, mas tão poucas destas palavras, sangram, poucas tem vísceras, poucas demonstram um sentir de verdade. Palavras imensas, porém nada intensas, meias palavras, dizendo meias verdades, expressando meios sentimentos vagos, sobre uma metade que busca satisfazer-se buscando outra metade.

Não há amor nisto, o amor está em quem é inteiro, de palavras inteiras, sentimentos inteiros a transbordar verdades inteiras, buscando outra pessoa também inteira. E esse outro inteiro, transborda um viver que se choca com as expectativas do nosso próprio ser inteiro. Um confronto de realidades diferentes, obstáculos que parecem intransponíveis que as duas verdades inteiras se completam e perpassam juntas pontes intransponíveis.

São muitas palavras de amor, enchendo os livros, as redes sociais, os ouvidos do mundo todo. Palavras dizendo meias palavras, palavras dizendo nadas, ocas rimas ecoando nos vazios no vácuo, palavras saídas de inflados egos querendo carícias e não dar amor.

Iludidos e iludidas por horóscopos poéticos de autoajuda barata que não sabem outra coisa, que não afagar egos inflados. Palavras fugazes, que falam de um amor perfeitinho, um amor mais que perfeito. Palavras nefastas, que não precisa lutar, que não precisa ceder, que não precisa se ajustar. São amores que querem moldar o outro, submeter, esculpir de acordo com um molde que afague seus próprios egos e preencham suas expectativas.

         São palavras fósseis e palavras fáceis e aos montes, mas quase nada de amores vívidos e vividos em suas plenitudes reais. São palavras de amores vãos, que quando se vão, logo são superados e substituídos, sem maiores perdas e danos, ou seja amores mentirosos e falsos, que nunca foram o que juravam com muitas palavras bonitas serem.

        Quase nada de palavras que falam como é difícil, o quanto se exige de si mesmo para manter um amor vivo, e quando não é possível isto, é este amor se vai, nada é superado com facilidade. Exige-se muito de si mesmo, para juntar se os muitos mil pedaços que sobraram, quando aos pedaços, se conclui que o amor é renúncias e não exigências. Que amor é liberdade e não posse, que amor é dar e não receber, que amor na plenitude, só o é, só o vive, quando o outro também é se amar, então há reciprocidades.

      Amor não é molhar os pés antes de entrar na água, depois ir entrando devagar, isto é medo. Amor é mergulhar com tudo de cabeça, porém de olhos abertos, para evitar chocar a cabeça em alguma pedra cada vez que chegar ao fundo,

       Amor é se sentir como criança, se entregar como um adolescente, e tratar as dificuldades, as responsabilidades, os obstáculos como adulto. Amor nunca foi a vida de um glorioso mar de rosas frescas e sim momentos em um glorioso mar de rosas. E durante uma vida inteira, que não será perfeita, que enfrentará dificuldades, dores, incompatibilidades, desajustes. E quem ama de verdade, vai ceder, vai se ajustar, vai lutar, pois os momentos de mar de rosas durante esse processo, valem a pena, não há perfeição.

      Quem não puder conviver com isto, não está pronto para o amor, muitos falam de amor, mas poucos se habilitam à dizer que o amor não tem nada de poético, muito menos de romântico, amor, é investir, lutar, insistir, ceder, ajustar, viver em plenitude Amor não é palavra, é atitudes. Nada do que dizem.

Texto de Fabiane Braga Lima, contista e cronista em Rio Claro, São Paulo.

Contato: bragalimafabiane@gmail.com

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