Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Na luta inglória de manter a pureza na
nossa língua mãe luso-brasileira, eu fui às compras com o meu filho. E no
comércio local, lá fui eu ufano, munido com o meu glorioso nacionalismo
linguístico afro-tupiniquim, e eu levei uma senhora de uma surra. Em um fogo
amigo, no primeiro embate na primeira loja, diante da vendedora e dona da loja,
o meu guri me alertou que não queríamos camisas iradas e sim camisetas de
anime. Perdi a primeira batalha e é vida que segui.
Partimos para a segunda batalha, eu mais
pobre, o meu filho com roupas novas iradas e animadas, a dona da loja e a
vendedora felizes da vida. Fomos ao ‘’shopping popular’’, ou condomínio de
pequenas lojas e prestadores de serviços afins. Encarei o jovem de cabelos
longos, tatuado e com piercing na cara, pedi um rato e tive que repetir muitas
vezes: — Um rato meu Deus, eu quero comprar um rato, eu quero um rato! E depois
de constrangimentos tive que traduzir que queria um mouse. Meu filhote, que é
maior que eu, e o vendedor não esconderam seus sorrisos constrangedores. Mas
pelo menos trocamos a invasão linguística estrangeira anglo-saxã, e o mouse
virou um baita de um rato, um animal exótico vindo do velho mundo, com as
caravelas europeias em tempos idos. Um rato que muda de cores, produzido lá na
distante China vermelha, peça eletrônica feita para jogos eletrônicos de
computadores.
Termino aqui, depois dos
constrangimentos linguísticos, eu fui à forra, repaginei o combalido celular,
ou telefone móvel, do meu guri. O aparelho sai do condomínio comercial, de
película irada e um capa maneira. Então fomos para casa, eu sem um pouco dos
meus suados cobres, o meu guri com um telefone móvel repaginado, irado e
animado e o vendedor de eletrônicos feliz da vida com umas comissões a mais na
conta.
Samuel da Costa é cronista e funcionário público em Itajaí, Santa Catarina.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
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