terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O PADRE DA VILA DO TAIANO

Por Lucinei Bitencourt Silveira (Boa Vista, RR)

Alguns anos atrás me foi passada a missão de executar uma rede de energia
elétrica, na Maloca da Barata, uma comunidade indígena próxima a vila do
Taiano, cerca de 150 km de Boa Vista, Roraima. Assim, no dia marcado peguei a turma e
me mandei para o local. Já na largada me aconteceu um imprevisto. Ao fazer
uma freada para não bater em um ciclista, um motoqueiro bateu na traseira
da camionete e caiu dentro da carroceria ficando bem machucado. Na confusão
que se criou, um carro parou a alguns metros do acidente, no meio da rua, sendo
abalroado por um outro curioso (no caso uma curiosa), "Bueno", aí o bicho pegou
para o meu lado, pois não sabia se atendia o motoqueiro ou apartava a briga
das mulheres envolvidas no acidente paralelo. Investigando depois descobri
que o tal motoqueiro vinha conversando com uma das mulheres em seu carro,
por isso não viu quando freei e me bateu, o rebu foi grande mas entre
mortos e feridos salvaram-se todos.
Liberado da encrenca, segui viagem para a tal Maloca. Chegando por lá,
iniciamos os serviços de escavação e implantação dos postes. O dia foi bem
proveitoso, e ao final do dia peguei o pessoal e fomos até a Vila do Taiano
que fica a uns 10 km do local dos serviços. Chegando por lá, cacei um boteco
e fui jogar uma sinuca, acompanhada de uma cerveja bem gelada, que ninguém é
de ferro.
Estava concentrado na jogatina e na bebericação que nem notei que foi
juntando gente na frente do boteco. Como não conhecia ninguém, achei que a
aglomeração era coisa normal. Lá pelas tantas, bateu o sono e voltamos para a
maloca onde iríamos nos arranchar. No dia seguinte, trabalhamos normalmente
até o meio-dia e, como era um sábado, dispensei a turma e me toquei, desta vez
''solito no más'' até a vila para almoçar e depois retornar a Boa Vista.
Por lá encontrei alguns amigos e ficamos jogando conversa fora e tomando uma
geladinha para espantar o calor. Então, começou tudo de novo. Foi juntando
gente e eu sem entender nada. As pessoas vinham, davam uma espiadela e saiam
rindo e comentando. Como sou meio desligado, não dei bola e segui no bate
papo. De repente, mete a cara no local um grande amigo meu, espiou me viu e
caiu na gargalhada, vindo me contar que corria o boato nos dois povoados que o padre da Vila
do Taiano estava desde sexta-feira bebendo e jogando sinuca nos botecos. Eu nunca vi o tal padre mas, segundo o pessoal, era a minha cara esculpida e encarnada . Durante todo o tempo da obra, tive que aturar a turma me chamando
de "O Padre do Taiano" e, ainda por cima, bebum.

Sobre o autor: Lucinei Bitencourt Silveira é natural de Bagé, RS, engenheiro eletricista. Atualmente, reside em Boa Vista, RR.

(Originalmente publicado no nº 3 da Revista Cerrado Cultural, 2008).

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