Por Paccelli José Maracci Zahler
Neste mês de fevereiro de 2013, a Revista Cerrado
Cultural teve a satisfação de entrevistar o artista plástico autodidata Antônio
Carlos Magalhães Vieira, conhecido como ACVieira, pintor, escultor e gravador,
radicado no Distrito Federal.
A entrevista foi realizada no
ateliê do artista em Águas Claras, DF.
RCC. Onde o senhor nasceu?
ACVieira. Nasci em Araguari,
Minas Gerais.
RCC. Desde pequeno o senhor já sentiu inclinação para as artes plásticas?
ACVieira. Recordo-me que, ainda
no jardim de infância, desenhava figuras como uma casinha ladeada por uma
cerquinha ou uma flor margarida que repetia sempre. Com mais idade procurava reproduzir
desenhos de quadrinhos infantis. Aos nove anos, o fato de ter participado como
modelo, em ilustrações de livros por uma tia minha, Shirley Magalhães, artista
plástica formada pela Escola de Belas Artes de Goiás, acredito tenha reforçado
meu interesse pelas artes plásticas. Posteriormente, sempre estive interessado
em assuntos pertinentes as artes plásticas.
RCC. Houve algum incentivo na escola fundamental?
ACVieira. Tive a oportunidade
de fazer oficinas de cerâmica, no então CASEB, em Brasília, no final da década
de1960.
RCC. Como foi a sua formação em artes plásticas?
ACVieira. Quando cursava o
Segundo Grau no Centro Integrado de Ensino Médio – CIEM, em Brasília, tive
aulas de xilogravura, com excelentes mestres, como Laís Aderne e João Batista,
significativos nomes da arte brasileira. Daí meu interesse, inicialmente pela
Xilogravura. Nesse período, monitorava, na escola, na área das artes. Fui
professor de artes na Fundação Educacional da Secretaria de Educação do
Distrito Federal. Lecionei cursos de xilogravura em escolas particulares de
nível médio do Distrito Federal.
RCC. Em que consiste a técnica de xilogravura utilizada pelo senhor?
ACVieira. A técnica da xilogravura
é a gravação de desenho em madeira plana que posteriormente é entalhada em
baixo relevo. Concluído o entalhe, sobrepõe-se papel e tinta apropriados e, por
recalque, grava-se a imagem. Permite-se reproduzir quantas cópias desejar.
Trata-se de uma técnica democrática devido a quantidade de cópias permitidas,
dessa forma alcançando um maior público. Cada cópia terá uma numeração própria
assinada pelo autor, geralmente em grafite, destinada ao controle da tiragem.
RCC. O senhor também trabalha com cerâmica?
ACVieira. Nos anos de 1990, fiz
cursos de extensão na Universidade de Brasília, especificamente de cerâmica em
terracota e esmaltação. Desenvolvi meu trabalho como ceramista em ateliê
próprio, onde também procedia a queima das peças. Produzia peças em terracota,
ou seja, a cerâmica queimada, em torno
dos 600 a 1.200 graus
centígrados.
RCC. Neste caso, poderia nos descrever o processo de trabalho?
ACVieira. A peça é modelada em argila. Terá maior ou
menor resistência, dependendo da variação de temperatura da queima, ou ainda, conforme
a qualidade da argila quanto aos elementos minerais que contenham. A técnica da
terracota é o processo de queima sem a utilização de óxidos. Com a adição dos
óxidos a terracota se transforma em esmaltação. Na esmaltação, as peças adquirem diversas
colorações, de acordo com a temperatura e o óxido aplicado. As peças são
queimadas em temperaturas que variam de 500º C a 1.300º C.
RCC. O seu trabalho também é feito com pedra sabão?
ACVieira. Na escultura também
trabalho a pedra sabão. A matéria prima é originária da cidade de Goiás Velho,
local mais próximo de Brasília.
RCC. O senhor também trabalha com pintura. Que técnicas o senhor utiliza?
ACVieira. Comecei a trabalhar com a pintura, de maneira
totalmente autodidata, sem o auxílio prático de mestres. Utilizo da empastação,
técnica onde se impõe um volume maior de tinta, quase que uma textura, sem, no
entanto, utilizar-se de outro recurso que não a própria tinta. Trabalho com os
Óleos sobre Tela – OST e Acrílica sobre Tela – AST.
RCC. Como o senhor definiria o seu estilo?
ACVieira. Sou figurativo.
Quando retrato a figura humana sou mais estilizado, ou seja, o desenho
levemente alterado. Nas paisagens procuro a fidelidade do desenho
aproveitando-se a luminosidade dos ambientes retratados.
Na escultura quando reproduzo
os veios dos troncos e das raízes, ressalto o puro realismo. Ainda de puro
realismo, os traços fortes do negro.
RCC. Como surge a inspiração para se expressar por meio da arte?
ACVieira. O processo da criação
não tem regra única. O importante é que se tenha em mente um projeto onde se
define o tema e a técnica. No decorrer do trabalho de elaboração, pode-se
vislumbrar elementos a acrescentar, que enriqueçam a obra.
RCC. O senhor tem preferência por alguma técnica ou por algum tema?
ACVieira. Não. Atualmente tenho
me dedicado à pintura, nos Óleos sobre Tela – OST e Acrílica sobre Tela – AST. Quanto a
temática, a questão social e a defesa do meio ambiente, essencialmente.
RCC. O que a arte representa para o senhor?
ACVieira. Quando faço arte
manifesto minhas indagações e exponho minhas introspecções, ao retratar o ser
humano ou a natureza. No fazer artístico, me aquieto nessa atividade. Às vezes
tenho que impor a interrupção, do contrário prosseguiria indefinidamente no
tempo.
RCC. O senhor tem participado de exposições?
ACVieira. Tenho apresentado várias exposições individuais, ressaltando-se: Foyer da
Sala Martins Penna, no Teatro Nacional - Brasília; Espaço Cultural Zumbi dos
Palmares no Congresso Nacional – Brasília; Aliança Francesa em Brasília; Salão
Negro do Palácio da Justiça - Brasília; Galeria Hot Art, em Brasília.
Tive participações internacionais,
em exposições coletivas de artistas brasileiros no “VII Encontro da Arte
Brasileira”, promovido pelo “Colege Arte” de Minas Gerais, com o apoio da
embaixada brasileira, no Canning House Gallery, em Londres, Inglaterra; Casa do
Brasil, em Madri, Espanha; União das Cidades Capitais – UCCLA, em Lisboa,
Portugal ; e Texnopolis, em Atenas, Grécia.
Em uma segunda etapa, no mesmo evento, no
Palais Pafy, em Viena, Áustria; e na Expression Libre Galerie, em Paris, França.
RCC. Como o senhor avalia o
mercado de obras de arte no Brasil?
ACVieira. O Brasil tem
grandes expressões artísticas, com projeção internacional. Para citar alguns
nomes: Portinari, Di Cavalcanti, Oswaldo Goeldi, Alberto Guignard, Bruno
Giorgio, Yara Tupynambá, Ruben Valentim, Siron Franco, Tomie
Ohtake, Maurino de Araújo, Manabu Mabe, Jô Oliveira, dentre outros.
Entendo que no Brasil prescinde-se
de um número suficiente de galerias e museus que promovam e comercializem a Arte
Brasileira. Acretido que, melhorando esta estrutura, os artistas terão maior
oportunidade de mostrar seus trabalhos.
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