Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)
Para o vulgo, estudar, escrever e pensar, não é
trabalho. Para a maioria das pessoas, trabalho : é o braçal. O do espírito: é
puro passatempo ou divertimento.
Diz Fulton - Sheen, que quando se observa alguém com a
cabeça entre mãos, logo lhe perguntam, se está com dor de cabeça…
Alçada Baptista, certa ocasião, em entrevista realizada
pela RTP, contou que seu antepassado, conheceu velhinha que fora criada de
Herculano.
Quando lhe perguntavam: - “A senhora conheceu o Senhor
Alexandre Herculano? Não conheceu?”
Ria-se muito, e dizia com indiferença:
_ “Conheci, conheci… Era um grande
preguiçoso!…Passava o tempo a ler e a escrever!…”
Meu pai era jornalista. Frequentemente era abordado por
amigos e leitores, que inqueriam quanto ganhava pelos “escritos”.
Como lhes dissesse que fora a remuneração mensal, nada
mais recebia, e ainda colaborava, graciosamente, noutras publicações, pelo
prazer que isso lhe dava. Ficavam admiradíssimos. Pasmados… Como podia passar
horas a escrever sem receber nada!
Ao falar de Herculano, recordei-me da admiração que o
Imperador do Brasil, D. Pedro II, tinha pelo historiador.
Veio visitá-lo na quinta de Vale de Lobos.
O escritor, receou recebe-lo. Em sua opinião, a casa era
demasiadamente modesta para um Imperador.
D.Pedro II insistiu, e foi convidado para almoçar.
Conversaram quase três horas. Tão encantado ficou com o
Imperador, que logo, que pode, o foi visitar. A simplicidade e a cultura de D.
Pedro II ,a todos cativava.
Também o Imperador nunca o esqueceu. Na última visita, que
fez a Portugal, a caminho do exílio, ao passar por Lisboa, depositou uma coroa
de flores, sobre o tumulo de Herculano, no Mosteiro dos Jerónimos.
O Imperador tinha atenções, pouco usuais, em reis do seu
tempo.
Mas, como ia dizendo, o povo admira-se que possa haver,
quem escreva por prazer, e muitos, também não entendem, que haja quem trabalhe
na vinha do Senhor, apenas para servir.
Amiga minha, sabendo que tinha uma filha catequista, na
paróquia da localidade onde reside, inqueriu-me: “Quanto ganha” (!);
porque pensava empregar uma “pequena” como catequista!…
Dizem que Miguel Torga recusou o cargo de ministro, porque
precisava de tempo, para pensar e escrever.
Esse prazer, era, para ele, superior à honra de ser
Ministro de Estado…
Para o povo, o intelectual é um excêntrico, que passa
horas e horas a ler e a escrever, apartado de tudo e de todos.
Mas, como podem compreender o intelectual, se a maioria
trabalha, exclusivamente, por dinheiro, para amealharem sempre e sempre mais?!…
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