quarta-feira, 1 de março de 2017

SOMOS MAUS E HIPÓCRITAS

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal) 

A maioria das pessoas declara: todos os homens são iguais: raça, religião, posição social, não é motivo de se apartarem.
Mas será que falam verdade?
Tirando exceções – sempre as há, – a maioria assevera o que é politicamente correto.
Usam palavras, ritos, formalismos, que estão na moda. Pretendem enganar-se ou enganarem os outros? Não sei.
Dizem que não são racistas; e realmente não são, desde que tudo se passe longe e com os outros…
Mas, se filho ou filha, pretendem namorar alguém de raça diferente, a atitude muda.
No Brasil, durante anos – e ainda, infelizmente, acontece, – famílias de raízes orientais, não aceitavam casamentos mistos.
Recordo – nos anos setenta, – a mocinha que foi morta pelo pai, porque teimava namorar jovem de religião diferente da sua!...
Os homens são todos iguais…mas há, uns, mais iguais do que outros…
No tempo de juventude, tive colega no liceu, que viu o namorico terminar, porque a mocinha não queria unir-se ao filho de um polícia…
Ela pertencia a família de doutores…
Salazar não pode casar com a filha dos Perestrelos, apesar de ser professor notável, e a menina nutrir grande afeição por ele, porque era filho do feitor! …
-“ Olha António: nós somos muito teus amigos, e temos razões para isso. Tu tens sido um rapaz exemplar e a tua inteligência deve levar-te longe. Isso agrada-nos muito; mas, apesar de tudo, lembra-te de que para nós hás-de ser sempre o filho do nosso feitor.” – Palavras de D. Maria Luiza, mãe da menina. (O Príncipe Encarcerado de Barradas de Oliveira)
Quantos descendentes de humildes cavadores do campo, uma vez obtido grau académico superior, esquecem os companheiros de infância, que não tiveram igual sorte?
Até filhos, há, que escondem a origem modesta dos progenitores! …
Cada qual pensa, consoante a posição que ocupa no xadrez da vida. O povo diz – e diz com razão: “ Se queres conhecer o vilão, mete-lhe a vara na mão.E Millôr Fernandes, definia, formas de governo, deste modo: “ Democracia, é quando eu mando em você. Ditadura, é quando você manda em mim.”
Amigo meu, dizia que os comunistas deviam ser muito felizes no amor…porque nunca ouvira dizer, que distribuíssem – pelo menos parte, – do que lhes saia, na lotaria…Nesse tempo não havia euromilhões.
O modo de pensar e agir, depende, quase sempre, das condições económicas, e do lugar que se ocupa na sociedade.
Os republicanos – nem todos, – invejam a fidalguia, porque não nasceram em família nobre. Todavia, na República, há verdadeiras dinastias. “ É a nobreza republicana…”, dizia, com graça, velha fidalga.
Em suma: asseveramos o que é de bom-tom afirmar; mas, no íntimo, por trás de cada frase, de cada palavra, muitas vezes, há outra frase, outra palavra…outro pensamento.
Queremos parecer: democratas, descomplexados, amigos de todos, e compreensivos; mas – salvo almas santas, – pouco nos importa o bem ou o mal dos outros…
“ Não preciso dele para nada!”, declarava jovem universitário, ao pai, quando este recomendava visitar velho amigo de escola; e realmente não precisava, porque se precisasse, apresava-se a telefonar, e a convida-lo para almoçar…

Como somos egoístas e maus!

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