quinta-feira, 2 de maio de 2019

AINHUM (NA FAVELA)

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
 Para José Luis P. Grando
Fico pensando
 Se da para viver/sobreviver
Em meio a tiros, drogas e pobreza extrema
Entre outras coisas mais
Fico pensando se dá para viver
Em meio a escolas fechadas
Lixo nas ruas...   
Penso nas muitas possibilidades
E nas muitas impossibilidades
Da tal meritocracia
Tão apregadas por alguns
Em um país tão desigual
Reflito no populismo barato!
Que emana de certos líderes políticos
 Que com seus velhos hábitos...
 De pensarem só em si mesmos!
Penso nas muitas possibilidades!
E nas muitas impossibilidades!    
 Criar meu filho...
De cor de ébano!
Em meio às siglas: AK-47, AR-15 e UZI...
Sendo disparadas!
Penso nas sirenes das polícias
A invadir o meu cotidiano...
Tento anegrejar meus pensamentos  
E me imagino um Nagô...
Penso em um Masai...
E nas línguas
Gestos
Dos sabores,  cores
Dores e crenças
 Quais me obrigaram a esquecer
Penso também
Nos deuses pálidos e esquálidos
Nas crenças pálidas
Que tiver que seguir
Penso na viagem onírica!
Aonde posso visitar
O Chade
O Burundi
O Congo
Cortar o alicondo
Tomar a almadia
Como a arga
Castigo o biribíri
Danço o bangulê
Danço o lundum
Danço o caxambu
Usar o muje
  Viver a minha vida
Avesso ao senso de justiça
Avesso aos brilhos
Dos olhos famintos
Por lucro rápido & fácil
 Regado a sangue negro!
Volta meus pensamentos para o sul
Onde moro...
E como sou esmagado...
Por uma cultura que não é minha...
São festas
Gestos
Roupas
Rostos
Pálidos
Esquálidos
Que tenho que suportar
Penso na carga
  Que tenho que suporta!
A invisibilidade que tenho que suportar 


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