Agora entro em outra questão, na
violação da mulher. O que está dentro do contexto da solidão da mulher negra e
todas as mulheres no Brasil. Ontem ele me falou de amor. Jurou amor ao ponto de
eu acreditar. Já hoje ele falou do meu
corpo. Tudo que ele queria sobre mim não passava de pele, de formas e desejos.
Não se iluda mulher, ele chega de mansinho como o homem da vida de uma mulher,
que vai tirar ela da escuridão e trazê-la a vida. Você é violada em todos os
sentidos e não percebe.
Violada no não ouvi-la. Violada na
falta de atenção quando você mais precisa. Violada com o seu machismo
deprimindo você. Violada no seu corpo depreciando algo que na sua idéia de
mulher perfeita ele não gostou. Melhor dizendo... Que ele não aprovou. Violada
ao pedir fotos. Violada em não ter o seu não respeitado. Violada em fazê-la
acreditar que é amor. Violada em exigir atenção somente para ele. Violada ao
sumir sem lhe dar respostas.
A mulher não é só agredida com
pancadas, tapas, sendo molestada e estuprada. A mulher é agredida, violada,
quando lhe roubam a sua liberdade de ser. Quando a tratam como lixo, quando
querem que ela seja submissa e cale a sua voz. Quando se trata da mulher negra
o contexto vem de muitos fatores, a cor da pele, o fator mulher, o baixo
salário, as condições sociais...
Na escravidão a vida da mulher era
por obrigação e sem escolha alguma servir o seu dono, o senhor de escravos.
Para ele, a mulher negra não passava de mais uma propriedade sua. O que de fato
era. A mulher era exposta e vendida, aquele que a comprava podia fazer o que
quisesse com ela. Cada escrava tinha uma função, as mais bonitas eram
escolhidas pelos seus senhores para serem concubinas e domésticas. Ou seja,
objeto sexual dos homens!
A violação da mulher negra já vem
desde esse período e por conseqüência a mulher atual carrega consigo o estigma
de objeto sexual e serviçal daquele que a deseja. Do período escravocrata a
mulher negra herdou os trabalhos dantes escravos, o doméstico e tantos outros.
Considerada inferior tem o menor salário no Brasil, abaixo do homem branco e o
homem negro e a mulher branca. Ela cresce violada nos seus direitos e na sua
identidade. Violada tendo que seguir os padrões de beleza regidos pela
sociedade brasileira.
Mas essa mulher atual abraça a sua
luta e não se permite perder suas raízes e identidade. Mesmo com toda essa
violação ela procura se encaixar na sociedade. A busca pela aceitação vai além
de ser aceita pela sociedade e sim da aceitação de si mesma. Até mesmo porque
mulher alguma nesse mundo é igual à outra, cada mulher tem a sua
particularidade. E qual delas não passou pelo processo de aceitação? Eu mesma
demorei a me aceitar. De certa forma eu não estava feliz. Tinha que me
posicionar como mulher e negra. Eu não era mais aquela menina e não podia ficar
a vida inteira achando que sou ‘’o patinho feio’’.
Sou poetisa e com a escrita dei voz
a muitas coisas que estavam em silêncio. E essa arte de escrever me trouxe a
chance de eu conhecer a minha própria pessoa. Então decidi fazer disso uma arma
de empoderamento na minha vida. Crescer e ter vida através do que eu mais gosto
de fazer. Com essa determinação passei a entender muitas fragilidades minha.
Eu não sou o rostinho bonito, ou o
corpo bonito que muitos homens me falam. Eu sou uma mulher com todos seus
defeitos e sentimentos. Para uns apenas o corpo, para outros apenas uma menina
deficiente. Mas aí eu olho para trás e vejo o quanto eu andei. Eu não tenho o
corpo perfeito, tenho minhas limitações físicas, não sigo as regras da
sociedade e seus padrões, nem por isso vou ficar me escondendo. Com as
fotografias quero mostrar o quão capaz é uma mulher e a sua infinita forma
feminina. Através das fotografias podemos ver as diversidades e belezas da
mulher brasileira.
No Brasil como já dito por mim a
mulher fica sempre em segundo plano, os piores salários e trabalho, o corpo
sempre usado como apelo sexual nas mídias, a exigência lhe dada do corpo
perfeito, levando em conta que para muitos da sociedade só existe um tipo de
mulher. Nesse contexto de um tipo só de mulher, a mulher negra fica de fora,
excluída sofre os piores preconceitos tanto por ser mulher como pela cor de sua
pele.
Dizem que sou feminista por lutar
pelas mulheres. Mas será? Eu luto por aquilo que acho merecedor para todas as
mulheres. Lutar pela igualdade e respeito de todas é ser feminista? Acredito
que os meus ideais não cabem em sistema algum.
Eu sou negra da pele clara, não
admito que me digam o contrário por causa desse detalhe. Temos que admitir que
ser mulher no Brasil não é nada fácil. O modo em que a mulher é tratada torna
tudo mais difícil.
Então
quando a mulher se descobre começa a buscar forças para ser bem mais do que
sempre foi. Vejamos o meu caso, quando o meu lado mulher começou aflorar eu
quis ser mais mulher e buscar todas as mulheres em mim através das fotografias.
Com um belo sorriso e um olhar sedutor vi bem mais de mim, uma entrega. De
repente com o simples gesto de olhar contemplando a mim mesma percebi a sedução
nascendo de dentro para fora. Nem precisei me despir ou usar decotes
extravagantes. Fui apenas eu na minha simplicidade.
É assim que acontece. Mesmo com a
baixa auto-estima relutando em nós buscamos sempre encontrar a nossa essência e
com objetividade seguimos em frente. Cedo ou tarde nos reconhecemos.
O
espelho em certas horas é o amigo que nos diz o quanto somos mulheres lindas.
Depois cada parte do nosso corpo liberta nossos extintos.
O
olhar é malicioso e despretensioso. Não temos motivos para a sedução. Só apenas
sentimos.
É a nossa liberdade quando olhamos
para nós. Às vezes aparece alguém para romper esse elo celestial. Mas a gente
segue na luta. Claro que muitas de nós fraquejam no meio do caminho. É natural
que isso aconteça. Não somos de ferro. O ser humano tem mais fragilidade que
ele mesmo próprio nem imagina.
A
baixa auto-estima nasce de julgamentos, preconceitos e fatores familiares e
sociais.
O indivíduo muitas vezes se julga
incapaz sendo criado com esse estigma de que é impossível e vai tentando lhe
convencer que você não vai conseguir. Em alguns casos isso se procede no núcleo
familiar e depois pela ausência de respeito no meio em que vive. Por isso nós
mulheres temos que ser fortes e mostrar para a sociedade que somos mais que
corpos. Que a nossa capacidade não acaba na cozinha. Até mesmo porque somos o
coração do mundo, aquela que gera a vida.
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