Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)
Bem no começo, lá pelos
três anos, eu queria ser cantora de rádio: vivia ensaiando para estar preparada
para quando chegasse a minha vez, cantando trepada num cavalete onde meu pai
serrava lenha, à guisa de palco. Desejo efêmero, no entanto. A partir da altura
em que fui alfabetizada já veio, junto com a leitura, o desejo de ser
escritora, que nunca mais foi embora. Aí no meio desejei ser astronauta também,
durante a corrida espacial, mas esqueci completamente o assunto a partir do
ginásio e das aulas de História da Professora Tereza Paiva Ribeiro: eu seria
arqueóloga!!! Não dava, no entanto, e o Padre Sílvio Tronn, da Paróquia Nossa
Senhora da Glória, tirou isso da minha cabeça na adolescência.
Quando se quer ser arqueóloga e
não dá, automaticamente a gente passa a desejar estudar História. Demorou um
pouco, no entanto, para realizar tal sonho. Enquanto a vida passava célere, eu
a ordenava para conseguir exercer o meu ofício de escritora juntamente com um
emprego de bancária, coisa que tomava a maior parte do meu tempo, mas mesmo
assim os livros foram pingando na minha emoção e nas prateleiras das
bibliotecas, um dois, três... Começaram a surgir os convites para palestras em
escolas e outros lugares e eu passei a andar por aí e espiar as bibliotecas das
escolas e das cidades, o coração disparando quando encontrava meus livros nas
prateleiras. Escrevia romances históricos, claro – nascera para essas coisas de
História, não havia como fugir ao meu destino! Para escrevê-los, pesquisava um
bocado para aprender mais, pesquisava nas mais diversas fontes e penso que as
principais sempre foram os livros de História. Até que chegou o dia em que
senti que era mister fazer, de uma vez por todas, esse curso que me
aprimoraria. Fi-lo um pouco tardiamente, mas mesmo agora, vinte anos depois,
sei da importância dele na minha vida.
Foi na FURB. Já nos primeiros
dias andava frequentando a biblioteca e aprendendo a usar a informatização
dela, coisa bastante nova no mundo de então, tecnologia de ponta, e é claro que
comecei por espiar os meus livros. Foi botar o meu nome e veio a lista deles
numa tela de computador. Creio que, nessa altura, já passavam de uma dezena, e
como sempre vira por aí, estavam catalogados como Literatura Catarinense,
mas... o que era aquilo no meio dos outros?
Tinha um lá catalogado como...História de Santa Catarina!!! Como, onde,
por que? Tratava-se de um livro que eu escrevera sobre a grande enchente de
1983, com personagens de verdade e tendo como cenário a minha própria casa. O
nome dele era “Vem, vamos remar”. Claro que corri para a prateleira onde ele
estava para ver se não era equívoco, mas não era. O título da prateleira era
mesmo a de História de Santa Catarina, e o meu livro estava lá!
Foi ali, diante daquela
prateleira da Biblioteca Universitária Professor Martinho Cardoso da Veiga, que
eu me senti legitimada pelos meus caros sonhos: os da História. Mesmo agora,
tanto tempo depois, posso lembrar perfeitamente da emoção e dos pulos do
coração naquele momento! Viver valia a pena!
Sertão da Enseada de
Brito, 30 de março de 2018.
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