quinta-feira, 2 de maio de 2019

DUAS VIOLAS ARTEIRAS


Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)

                                    Confesso: nunca fui pessoa de ler jornal. Mesmo na infância, tempo do Pato Donald e de A Manchete, já lia a ambas mescladas com os livros recém-saídos sobre a Segunda Guerra Mundial ou com romances em geral. O livro prevaleceu na minha vida. Foi através do livro que me informei, aprendi, me formei. Foi assim que um dia descobri um livro chamado “Água no pote”, de um certo Flávio José Cardozo, e aquilo foi amor à primeira leitura. Flávio nunca mais saiu da minha vida, desde aqueles tempos em que ainda éramos bastante jovens para experimentarmos uns 30 ou 40 tipos de cachaça que apareciam numa barraca na Feira do Livro, quando ela acontecia à frente da Catedral de Florianópolis, havendo desde cachaça com cobra até com pétalas de rosa! No dia em que entrei na Academia Catarinense de Letras, faz quase uns 30 anos, entrei lá segurando o braço do Flávio (e do Silveira de Souza). Mas penso que nunca li o Flávio em jornal, mas sempre em livro.
                                    Conto esta comprida história para me penitenciar diante de Sérgio da Costa Ramos por nunca havê-lo lido até agora – com certeza tem livros, muitos, imagino, mas quis o destino que nunca um deles chegasse às minhas mãos. Mas sempre há um dia, no entanto. Saiu em 2008 (Virge, que desgraça de águas que foi Blumenau naquele ano! Virge, minha mãe doente, tão doente que em 2009 bateu as asas e voou para plagas mais amenas... Virge, e aí começou o doutorado, e 4 anos depois, quando terminou, havia 300 livros esperando leitura...) um livro chamado “Duas violas arteiras” onde, como duas crianças brincando na hora do recreio, Flávio José Cardozo e Sérgio da Costa Ramos mesclam nele as excelentes crônicas que um dia publicaram em jornal. Primor puro!
                                    Na demolição da pilha dos 300 livros que ficaram de saldo do doutorado, agora cheguei nas Duas Violas Arteiras e me deliciei com suas notas musicais como há tempos não me deliciava diante de tantas crônicas maravilhosas. Fica difícil eleger uma para dizer que é melhor que a outra, mas no caso do Flávio, atrevo-me a dizer que a que mais gostei foi aquela onde ele pegou de pau o Juiz Lalau, famoso corrupto que ocupou nossa imaginação por uns bons tempos – não tenho tal intimidade com Sérgio da Costa Ramos, mas afianço a ele, na verdade um desconhecido até a última semana, que li cada um dos seus textos como quem espia a vitrine de uma joalheria, para ver como faíscam os diamantes!
                                    Meninos, vocês são o máximo! Recomendo “Duas violas arteiras” a todo o público que gosta de uma boa leitura. É um verdadeiro primor!

Sertão da Enseada de Brito, 23 de março de 2019.


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