quinta-feira, 2 de maio de 2019

O PRECONCEITO NA INFÂNCIA


Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

            Não sei ao certo dizer se o preconceito começa já na infância. No meu caso tive de frente com ele a partir dos sete anos de idade, no meu primeiro ano escolar. Sem noção exata do que era o racismo. O preconceito veio por parte de crianças que foram crescendo cometendo os mesmos atos. Está certo que crianças não têm noção exata das coisas, mas de alguma forma aquilo me atingia. É sabido por mim que seus pais eram preconceituosos, será que isso teve influência em seus atos de preconceito?
            Não sei se eu posso continuar chamando tudo que aconteceu de preconceito. Eu era comparada ao macaco, meu cabelo era comparado com uma palha de aço e eu sempre era a menina boba e feia. Recordo-me do dia em que fui fazer o trabalho escolar na casa de uma colega, antes mesmo de eu entregar na casa ela disse para eu esperar um pouco no pátio da casa, o motivo é que sua mãe não gostava de pessoas negras.
            Com toda firmeza em suas palavras ela disse: a mãe não gosta de preto. A nossa educação na infância é de responsabilidade dos pais. Com uma boa educação eu acredito que é possível se formar adultos bons. Eu ouvi de tudo e tudo que pude fazer é chorar no meu quarto. Fui ter noção de tudo que me aconteceu na fase adulta, quando parei para pensar nos ocorridos.  Antes disso, na minha adolescência, aos quinze anos de idade, me vi representada em um livro.
            Ele  seguia perdido e de certa forma eu também. Aquele não era o seu mundo, tinha que se adaptar e ainda de alguma forma ser aceito pelas crianças do bairro. A cor da sua pele parecia fazer muita diferença naquele que seria seu novo lar.  Um negro em meio há tantas crianças brancas, perdido tal como eu mesma nos meus sete anos de idade sem uma amiga sequer na primeira série do ensino fundamental.
            Benê não quis aquela situação, mas as condições da vida levaram para este novo lugar. O que a vida fez com ele fez comigo também, me levando para a poesia e depois para todos os caminhos da literatura. Eu era uma estranha na sala de aula com 29 alunos brancos. Eu entrei na história de Benê e fui Benê.
            Eu era feliz quando no meu mundo particular não havia ofensas, preconceitos… Luiz Galdino nem imagina que eu fui dantes, na infância, o personagem do seu livro ‘’Saudade da Vila’’. Essa história eu quis ter escrito e foi a partir daí que a poetisa e negra Clarisse da Costa nasceram. Aos 15 anos sem acesso a leitura.
            Com o livro em mãos vi possibilidades de vencer. Por essa razão te convido a encantar outras crianças com um livro. Livros têm o dom de transformar pessoas do mesmo modo ele traz boas coisas que podem fazer toda diferença em nossas vidas. E só para deixar bem claro no país da desigualdade, somos todos Benê.


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