quarta-feira, 1 de setembro de 2021

CLARISSE DA COSTA EM VERSOS E PROSAS (2)

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

Café

Uma dose de café

Por favor.

Só uma dose.

O cheiro traz recordações

E a sensação de aconchego.

Chega a ser envolvente

Como o olhar intenso

De uma mulher

Quando existe amor.

Como seria a vida sem o café?

Não sei. Mas devo confessar

Que seria sem graça.

Depois do gole de café

Pensei em tantas coisas…

Como seria a vida

Se as pessoas não fossem

Tão complicadas?

 

(do livro “Oceanos”)

  

A Vida do Deficiente no Brasil

Vivemos num mundo muito visual e estético, com pessoas vazias e hipócritas. Para muitas pessoas a aparência está em primeiro lugar e isso inclui o corpo perfeito. A sociedade criou um padrão de beleza que faz com que indivíduos sejam excluídos, deixando de lado o que realmente importa numa pessoa.

A estética da padronização não prioriza o caráter e os sentimentos de uma pessoa. Quero deixar claro que eu escrevo essa matéria com base na minha realidade e na realidade de muitas pessoas.

Eu sou deficiente físico, assim como costumam me falar. Eu superei muitas coisas, até o supermercado. Consigo comprar coisas para mim.

Eu uso um andador para caminhar na rua e talvez por isso a rejeição de muitas pessoas. Não só a rejeição, mas outros fatores. Muitas pessoas acham que todos os problemas físicos são iguais, que cada indivíduo com suas limitações vivem a mesma vida, o que é um grande erro.

Eu fui rejeitada, em 2018, por um homem que dizia me amar, porém o seu preconceito foi maior que qualquer sentimento que dizia sentir.

Eu sou escritora, faço cursos, tenho conhecimento e mesmo assim a minha capacidade é sempre testada. Mas eu nunca tive vergonha da minha pessoa, eu sempre me aceitei.

Porém, o meu maior desafio sempre foi namorar. Eu sou linda demais como dizem as pessoas, mas não uma mulher aceitável por conta das minhas limitações físicas.

Nas fotografias eu sou aquela mulher perfeita. Como eu disse no início dessa matéria, vivemos num mundo muito visual.

O preconceito é tão grande na humanidade que já existem aplicativos para pessoas com deficiência física arrumar namorado.

Tudo isso porque os ditos normais não aceitam e não assumem. Querem a perfeição e não o amor.

Muitos que topam se relacionar é por curiosidade. Nada sério, apenas uma noite. Normalmente é sempre às escondidas, nada em público para as pessoas não verem.

Meu pai sempre me contou que na sua adolescência as pessoas eram presas dentro de casa pelas suas famílias, pois tinham vergonha de seus filhos.

Infelizmente a deficiência ainda está relacionada à incapacidade.

Eu percebo como as pessoas me tratam principalmente os homens. A maioria dos homens buscam uma mulher que não existe, eles gostam da beleza externa. O corpo da mulher é sempre símbolo de prazer.

Como podemos perceber a deficiência não é encarada com normalidade. No passado as pessoas com deficiência física e mental eram tratadas como indivíduos possuidores de demônios e por consequência eram queimados como bruxas.

Mas com o passar dos anos isso foi mudando um pouco com o surgimento de hospitais de caridade e asilos. Ali eles eram abrigados e cuidados.

No período do final da década de 70 deu-se início ao movimento das pessoas com deficiência. Até meados de 1979 as pessoas eram consideradas invisíveis. Elas eram dignas de caridade e não de cidadania.

Segundo o IBGE, dados de 2020, no Brasil temos mais 12,5 milhões de brasileiros com deficiência. Isso corresponde a 6,7% da população no país.

Mas não tem como falar de deficiência sem falar de inclusão. A inclusão social traz oportunidades.

 No entanto, enquanto a pessoa com deficiência não for tratada com naturalidade, como indivíduo capacitado a inclusão não será posto em prática no país todo.

As maiores dificuldades que as pessoas com deficiência física têm são: acesso ao transporte público, movimentação em locais públicos e privados, estacionamentos disponíveis, locomoção dentro da sua casa, preconceito das pessoas, desrespeito à legislação, dificuldades na inclusão de trabalho.

As pessoas não sabem o quanto é muito chato ter que depender da piedade dos outros! Muitas vezes a ajuda oferecida não vem de bom coração.  E ainda nos perguntam: Você consegue?  Eu sempre escuto, devagar você chega lá.

As pessoas não percebem que o que buscamos não é piedade e sim a oportunidade de tentar. Mas para isso precisamos de acessibilidade nos lugares e que as pessoas nos olhem de igual para igual.

 

Caos

Tá tudo bem.

Assim tentamos seguir

A vida

Com um caos dentro da gente.

A vida entre vazios e muros…

De repente o coração dá sinal,

Pulsa por um amor.

Vivemos as incertezas

Sem a certeza

Do rumo certo.

Queremos estar perto…

A mente tenta entender

O que sente.

Fugir é os piores erros.

A vida pulsa,

O coração acelera,

A razão na contramão de tudo

Controla as expectativas.

E amanhece mais um dia

Na caótica sobrevivência humana.

 

(do livro “Oceanos”)

 

Amor e Paixão

Se apaixonar é fácil,

Mas não é aquele sentimento

Que te faz querer

Viver com aquela pessoa.

A paixão é feito brasa

Que queima e logo apaga.

Diferente de qualquer

Sentimento abrasador

Está o amor.

O amor vem

Sempre para ficar.

Para fazer toda a diferença,

Sem cobranças.

O amor pulsa, acelera,

Nos faz transbordar sentimentos.

O amor revela desejos ocultos.

Na verdade o amor te faz

Ser inteiro e amar intensamente.

 

(do livro “Oceanos”)

 

Crônica: Deixa Acontecer 

Todo ser humano tem reticências dentro de si. Muitas coisas às vezes inacabadas que precisam de um ponto final. Não podemos ficar presos no tempo. Nós temos que seguir. O relógio mesmo só para quando a pilha acaba. E o ser humano acaba em si mesmo quando se deixa vencer pela desistência.

E não percebemos que a vida segue o seu percurso e não será as fotografias que nos dará vida. Até mesmo porque as fotografias envelhecem. As traças acabam roendo.

Você pode fotografar o melhor sorriso e fingir uma felicidade que talvez você tenha deixado escapar. Nem venha falar do acaso, porque as coisas acontecem por consequência de nossas escolhas.  Uma flor não nasce por acaso no seu quintal, ou você plantou, ou alguém plantou para você. Pode ser mesmo por um passarinho que espalhou a sua semente. 

A vida é das coisas que a gente faz. Ontem eu dancei sem me importar com as dores na sola do pé, deixei a música da vida me conduzir. É assim que deveria ser.

Acordar, sentir o sol no rosto, não esperar por nada e sim deixar que simplesmente aconteça. 

( do livro “Crônicas do Tempo”)

 

Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, SC.

Contato: clarissedacosta81@gmail.com

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