Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Café
Uma
dose de café
Por
favor.
Só
uma dose.
O
cheiro traz recordações
E
a sensação de aconchego.
Chega
a ser envolvente
Como
o olhar intenso
De
uma mulher
Quando
existe amor.
Como
seria a vida sem o café?
Não
sei. Mas devo confessar
Que
seria sem graça.
Depois
do gole de café
Pensei
em tantas coisas…
Como
seria a vida
Se
as pessoas não fossem
Tão
complicadas?
(do
livro “Oceanos”)
A Vida do Deficiente no Brasil
Vivemos num mundo muito visual e estético, com
pessoas vazias e hipócritas. Para muitas pessoas a aparência está em primeiro
lugar e isso inclui o corpo perfeito. A sociedade criou um padrão de beleza que
faz com que indivíduos sejam excluídos, deixando de lado o que realmente
importa numa pessoa.
A estética da padronização não prioriza o
caráter e os sentimentos de uma pessoa. Quero deixar claro que eu escrevo essa
matéria com base na minha realidade e na realidade de muitas pessoas.
Eu
sou deficiente físico, assim como costumam me falar. Eu superei muitas coisas,
até o supermercado. Consigo comprar coisas para mim.
Eu uso um andador para caminhar na rua e talvez
por isso a rejeição de muitas pessoas. Não só a rejeição, mas outros fatores.
Muitas pessoas acham que todos os problemas físicos são iguais, que cada
indivíduo com suas limitações vivem a mesma vida, o que é um grande erro.
Eu fui rejeitada, em 2018, por um homem que
dizia me amar, porém o seu preconceito foi maior que qualquer sentimento que
dizia sentir.
Eu sou escritora, faço cursos, tenho
conhecimento e mesmo assim a minha capacidade é sempre testada. Mas eu nunca
tive vergonha da minha pessoa, eu sempre me aceitei.
Porém, o meu maior desafio sempre foi namorar.
Eu sou linda demais como dizem as pessoas, mas não uma mulher aceitável por
conta das minhas limitações físicas.
Nas fotografias eu sou aquela mulher perfeita.
Como eu disse no início dessa matéria, vivemos num mundo muito visual.
O preconceito é tão grande na humanidade que já
existem aplicativos para pessoas com deficiência física arrumar namorado.
Tudo
isso porque os ditos normais não aceitam e não assumem. Querem a perfeição e
não o amor.
Muitos que topam se relacionar é por
curiosidade. Nada sério, apenas uma noite. Normalmente é sempre às escondidas,
nada em público para as pessoas não verem.
Meu pai sempre me contou que na sua
adolescência as pessoas eram presas dentro de casa pelas suas famílias, pois
tinham vergonha de seus filhos.
Infelizmente
a deficiência ainda está relacionada à incapacidade.
Eu percebo como as pessoas me tratam
principalmente os homens. A maioria dos homens buscam uma mulher que não
existe, eles gostam da beleza externa. O corpo da mulher é sempre símbolo de
prazer.
Como podemos perceber a deficiência não é
encarada com normalidade. No passado as pessoas com deficiência física e mental
eram tratadas como indivíduos possuidores de demônios e por consequência eram
queimados como bruxas.
Mas com o passar dos anos isso foi mudando um
pouco com o surgimento de hospitais de caridade e asilos. Ali eles eram
abrigados e cuidados.
No
período do final da década de 70 deu-se início ao movimento das pessoas com
deficiência. Até meados de 1979 as pessoas eram consideradas invisíveis. Elas
eram dignas de caridade e não de cidadania.
Segundo o IBGE, dados de 2020, no Brasil temos
mais 12,5 milhões de brasileiros com deficiência. Isso corresponde a 6,7% da
população no país.
Mas
não tem como falar de deficiência sem falar de inclusão. A inclusão social traz
oportunidades.
No
entanto, enquanto a pessoa com deficiência não for tratada com naturalidade,
como indivíduo capacitado a inclusão não será posto em prática no país todo.
As maiores dificuldades que as pessoas com
deficiência física têm são: acesso ao transporte público, movimentação em
locais públicos e privados, estacionamentos disponíveis, locomoção dentro da
sua casa, preconceito das pessoas, desrespeito à legislação, dificuldades na
inclusão de trabalho.
As pessoas não sabem o quanto é muito chato ter
que depender da piedade dos outros! Muitas vezes a ajuda oferecida não vem de
bom coração. E ainda nos perguntam: Você
consegue? Eu sempre escuto, devagar você
chega lá.
As pessoas não percebem que o que buscamos não
é piedade e sim a oportunidade de tentar. Mas para isso precisamos de
acessibilidade nos lugares e que as pessoas nos olhem de igual para igual.
Caos
Tá
tudo bem.
Assim
tentamos seguir
A
vida
Com
um caos dentro da gente.
A
vida entre vazios e muros…
De
repente o coração dá sinal,
Pulsa
por um amor.
Vivemos
as incertezas
Sem
a certeza
Do
rumo certo.
Queremos
estar perto…
A
mente tenta entender
O
que sente.
Fugir
é os piores erros.
A
vida pulsa,
O
coração acelera,
A
razão na contramão de tudo
Controla
as expectativas.
E
amanhece mais um dia
Na
caótica sobrevivência humana.
(do
livro “Oceanos”)
Amor
e Paixão
Se
apaixonar é fácil,
Mas
não é aquele sentimento
Que
te faz querer
Viver
com aquela pessoa.
A
paixão é feito brasa
Que
queima e logo apaga.
Diferente
de qualquer
Sentimento
abrasador
Está
o amor.
O
amor vem
Sempre
para ficar.
Para
fazer toda a diferença,
Sem
cobranças.
O
amor pulsa, acelera,
Nos
faz transbordar sentimentos.
O
amor revela desejos ocultos.
Na
verdade o amor te faz
Ser
inteiro e amar intensamente.
(do
livro “Oceanos”)
Crônica: Deixa Acontecer
Todo
ser humano tem reticências dentro de si. Muitas coisas às vezes inacabadas que
precisam de um ponto final. Não podemos ficar presos no tempo. Nós temos que
seguir. O relógio mesmo só para quando a pilha acaba. E o ser humano acaba em
si mesmo quando se deixa vencer pela desistência.
E
não percebemos que a vida segue o seu percurso e não será as fotografias que
nos dará vida. Até mesmo porque as fotografias envelhecem. As traças acabam
roendo.
Você
pode fotografar o melhor sorriso e fingir uma felicidade que talvez você tenha
deixado escapar. Nem venha falar do acaso, porque as coisas acontecem por
consequência de nossas escolhas. Uma
flor não nasce por acaso no seu quintal, ou você plantou, ou alguém plantou para
você. Pode ser mesmo por um passarinho que espalhou a sua semente.
A
vida é das coisas que a gente faz. Ontem eu dancei sem me importar com as dores
na sola do pé, deixei a música da vida me conduzir. É assim que deveria ser.
Acordar, sentir o sol no rosto, não esperar por nada e sim deixar que simplesmente aconteça.
(
do livro “Crônicas do Tempo”)
Clarisse
da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, SC.
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário