Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Velho amigo dos bancos
colegiais, já falecido, dizia-me, com graça: " A filha de guerra Junqueiro
(que ainda conheci,) é o castigo do Padre Eterno..."
Realmente a Senhora primava pela delicadeza, e pela ausência de beleza...
Guerra Junqueiro faleceu em
1923, a 7 de Julho, com 73 anos de idade, na cidade de Lisboa.
Foi dos principais responsáveis
pela queda da Monarquia, e acérrimo demolidor dos Braganças.
Os violentos ataques à Igreja,
eram ferozes verrinas à Religião, extremamente arrasadores.
Porém, nos derradeiros anos de
vida, arrependeu-se acerbamente do que havia dito e escrito.
Em " Prosa Dispersas",
amarguradamente escreveu: " Eu tenho sido, devo declará-lo, muito
injusto com a Igreja. A Velhice do Padre Eterno é um livro da mocidade. Não o
escreveria já aos quarenta anos. Animou-me e ditou-me o meu espírito cristão,
mas cheio ainda de um racionalismo desvairado, um racionalismo de ignorância, estreito
e superficial. Contendo belas coisas, é um livro mau, e muitas vezes
abominável."
Sobre " A Pátria",
considerou que deveriam ser expurgadas ofensas a Oliveira Martins e ao Rei
D. Carlos.
Solicitou mesmo, ao amigo
Conselheiro Luís Magalhães, que ao readitá-la, retirasse frases injuriosas. Ele
próprio eliminou várias passagens, e deixou declaração escrita, que eram falsas
as edições com a versão na integral.
Nos últimos dias, o poeta,
tornou-se católico, pedindo que o funeral fosse cristão, e asseveram que se
tornou monárquico...
Guerra Junqueiro, raras vezes
escrevia em casa, na secretária, mas na rua passeando. Passava depois, a lápis,
num retalho de papel.
Era baixinho, tinha enormes e
espessas barbas, e vestia-se modestamente.
Certa vez, andava a passear e
encontrou pequeno chavelho e levou-o pontapeando, na frente. Ao passar na praça
da terra, camponeses, muito altos, ao vê-lo, desataram às gargalhadas, que ao
poeta, afigurou-se de troça, e deu-lhes o troco:
- " Ah! Ah! Ah! Quê?!
Tantos e tão grandes a rir à custa dum tão pequeno!"
Os que o ouviram levaram para
as estaturas, e não para a imbecilidade (chifre) de quem se ria dele.
Foi excelente administrador.
Deixou valiosa coleção de Arte e considerável fortuna.
Ao abordar o poeta e seu
arrependimento tardio, lembrei-me do ilustre escritor açoriano, Vitorino
Nemésio, e sua conversão.
Em 1955, ao conversar com o
Bispo Emérito de Aveiro, D. Manuel Almeida Trindade, por longas três horas, o
professor, em lágrimas, congraçou-se definitivamente com Deus.
Vitorino Nemésio, além de ser
excelente escritor, era professor universitário, diretor do diário lisboeta:
" O Dia", antigo mação, e comentador da RTP.
Segundo Agostinho de Campos,
em: " Ler & Tresler", os grandes escritores portugueses do
último quartel do século XX, foram vítimas do naturalismo: "Eça de
Queirós, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, todos morreram arrependidos, de mal
consigo próprios, desejosos de refazerem as suas vidas de outro modo, se isso
lhes fosse possível."
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